União de esforços entre poder público, Cooperativa Garibaldi e iniciativa privada salva este patrimônio histórico
O compromisso com a história, a preservação e o resgate da arquitetura original está norteando o desmonte da casa nº 994, localizada na Av. Rio Branco, em Garibaldi, que pertenceu à Família Anghinoni. O terreno onde está situada foi adquirido em 2019 pela Cooperativa Vinícola Garibaldi, ante sua necessidade de ampliação de instalações. Porém, como a casa centenária não integra o inventário de Patrimônio Histórico de Garibaldi, o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (COMPHAC) informou não haver impedimento para sua demolição. Mesmo assim, a Cooperativa não mediu esforços para que a casa fosse destinada a um projeto de preservação e, por isso, apesar das ofertas de empresas interessadas no aproveitamento da madeira, a Cooperativa optou por firmar acordo com uma entidade privada disposta a fazer o desmanche e reconstrução em outro local, com a condição de manter a Casa no território garibaldense e reconstituir sua arquitetura original.
Foi assim que as empresárias Ana Inês Facchin e Daniela Sandrin Copat aceitaram o desafio e estão conduzindo o desmonte criterioso da Casa, juntamente com o arquiteto Julio Posenato, que assina as plantas, uma vez que, por ser centenária, a estrutura não possuía plantas nem desenho. Uma equipe de experientes carpinteiros comanda o desmonte. Cada tábua, mata-junta e viga são identificadas com uma letra e um número, também indicados na planta, para que a mesma possa depois ser reconstruída na sua forma original. “Há uma delicadeza e um cuidado todo especial nessa tarefa, mesmo com tábuas originais corroídas pelo tempo. É como desmontar e montar um enorme quebra-cabeças tridimensional, com muito carinho para não apenas preservar, mas, sobretudo, resgatar formas originais perdidas ao longo dos anos”, explica Ana Inês. “Nessa casa já moraram diversas famílias, inclusive ancestrais do meu marido (Copat) e em alguns momentos da história a casa foi habitada ao mesmo tempo por duas e até mais famílias”, comenta Daniela.
Somente estão sendo descartados forrações e linóleos aplicados mais recentemente na casa e que não fazem parte da sua estrutura original e histórica, contam as empresárias. Ana Inês e Daniela comentam que, apesar de não ser conhecido nenhum documentário histórico sobre a casa e as famílias que por ela passaram, faz parte do projeto de revitalização a elaboração deste documentário. Explicam que a Casa fará parte de um projeto maior, de cunho cultural e turístico, que está em fase de elaboração, juntamente com a Casa Guglielmin, de Veranópolis, também histórica, e que precisou passar pelo mesmo processo, resgatando histórias e costumes.
Segundo membros da Família Anghinoni, os descendentes ficaram felizes ao saber que a casa não seria simplesmente demolida e, sim, preservada, e ainda fará parte de um projeto cultural maior. “Parabenizamos a Cooperativa Garibaldi e o prefeito Antonio Cettolin pela sensibilidade e preocupação em manter a estrutura no município, com suas características de originalidade, realizando a doação e auxiliando, dentro dos limites legais, no processo de desmonte. A comunidade garibaldense tem essa característica muito forte de cuidado com a preservação e é elogiável. Já no primeiro dia de desmonte, várias pessoas estiveram no local para bater fotos e buscar informações sobre o que seria feito. Também puderam visualizar o trabalho criterioso e meticuloso que está sendo desenvolvido no sentido de preservação. Essa é uma das lindas histórias que Garibaldi tem para preservar e contar”, salienta Ana Inês.
Daniela acrescenta: “Estamos encantadas com a casa, que é divertida com suas escadas e ‘portas secretas’, além da preservação de itens, inclusive da antiga parte elétrica e alguns elementos de pisos hidráulicos. O futuro dela será na sua originalidade um espaço maravilhoso para encantar com cultura de época e novas propostas, que vão de encontro à alma vintage de Garibaldi”. Segundo Daniela e Ana, outras edificações antigas poderão ser integradas ao mesmo projeto.
Quem são os responsáveis
Julio Posenato, natural de Veranópolis, arquiteto e bacharel em música, é o idealizador do Projeto Caminhos de Pedra, em Bento Gonçalves. Autoridade em arquitetura da imigração italiana no Brasil, é autor de várias publicações que são referência sobre o tema. Projetou e construiu a Vinícola Salton, em Bento Gonçalves, é autor também da obra “Pesquisando arquitetura”, um manual para a estudos arquitetônicos.
Daniela Sandrin Copat, natural de Bento Gonçalves, formada em Ciências Econômicas, com pós-graduação em Gestão Empresarial e em Marketing Estratégico, produtora cultural, possui trajetória de atuação em eventos em universidade, entidades empresariais e comunitárias, organismos de comunicação em Bento Gonçalves e Brasília. É diretora da empresa Prospekto Consultoria e Projetos.
Ana Inês Facchin, natural de Garibaldi, formada em Relações Públicas, Primeira Princesa da 1ª Fenachamp, produtora cultural, possui trajetória de direção em eventos culturais, como o Programa de comemorações dos 30 anos da Fenavinho, Festival de Teatro de Bento Gonçalves, VOX- Festival Infantojuvenil de Música e outros. É diretora do Sistema S de Comunicações – Jornal Semanário, Rádio Rainha FM e Facchin Editora, essa com sede em Garibaldi.
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