Ação criada no Rio Grande do Sul facilita o acesso de vítimas de violência doméstica aos canais de denúncia
Com o isolamento social, imposto pela pandemia do coronavírus, as vítimas de violência doméstica passaram a ficar mais tempo em casa, perto dos agressores. Consequentemente, o Rio Grande do Sul registrou aumento nos casos de feminicídios. Pensando nisso, foi lançada, no dia 10 de junho, a Campanha Máscara Roxa.
A iniciativa, que partiu do ‘Comitê Gaúcho Impulsor Eles por Elas / He For She’, ligado a Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres, tem por objetivo fazer com que as vítimas possam procurar ajuda nas farmácias que aderiram à campanha. Aquelas que são participantes podem ser identificadas pelo selo “Farmácia Amiga das Mulheres”.
Em Bento Gonçalves, de acordo com a delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), Deise Salton Brancher Ruschel, dois casos já foram denunciados dessa forma. Ela reforça que a ação é muito importante. “Toda forma de encorajar a mulher de denunciar violência é válida”, frisa.
Embora os registros de ocorrências tenham diminuído muito no município, segundo a delegada, o ciclo de violência doméstica se agravou com a pandemia. “A mulher ficou ainda mais vulnerável por passar mais tempo com o agressor e, submetidas a ameaças constantes. Muitas perderam o emprego e dependem financeiramente do acusado”, aponta.
Em relação a queda do número de denúncias, a delegada explica que os motivos são os mais variados. “Medo de contrair o coronavírus. A Deam não está realizando registro de BOS. Falta de conhecimento para realizar o registro online. Dificuldade financeira para se deslocar ao centro da cidade para fazer o registro na DPPA”, menciona.
Como funciona na prática
Ao chegar em alguma farmácia que aderiu à campanha, a mulher deve pedir uma máscara roxa, que é a senha para que o funcionário entenda que se trata de um pedido de ajuda. O profissional vai responder que o produto está em falta e anotará alguns dados para avisar quando o produto chegar. Após, o atendente vai passar as informações coletadas à Polícia Civil, via WhatsApp, para que o órgão tome as medidas necessárias.
A campanha, que iniciou com 600 farmácias participantes, já conta com mais de 1.300 unidades envolvidas em todo Estado. Além disso, os atendentes receberam capacitação online para realizar o procedimento, garantindo assim a segurança das vítimas.
Até o momento, de acordo com a assessoria de imprensa do Comitê, além de Bento Gonçalves, outros municípios do RS já receberam denúncias nesse formato: Venâncio Aires, Casca, Pinhal, Capão da Canoa, Vitória das Missões, Rio Grande e Porto Alegre.
Em números
Em abril, mês que o Estado vivia o período de quarentena, aumentou 66,7% o número de casos de feminicídios no RS, em comparação com o mesmo mês do ano passado. Entre janeiro a junho deste ano, 51 mulheres perderam a vida, vítimas de violência doméstica, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado.
No Brasil o número de feminicídios cresceu 22,2% nos meses de março e abril, quando em comparação com o mesmo período de 2019. Ano passado foram 117 vítimas nesses dois meses, enquanto que neste ano já são 143 casos.
O Comitê
O Comitê Gaúcho existe desde 2017, quando foi lançado no RS. Ele faz parte do Movimento Mundial He For She – Eles Por Elas, da ONU Mulheres e é formado por diversas instituições e personalidades. Além disso, atua para fomentar o combate à violência contra mulheres e meninas.