Neste Dia dos Namorados, Jornal Semanário celebra o amor por meio de histórias que emocionam
O amor real é mais bonito que o dos livros, porque a vida, diferente deles, não tem um roteiro a ser percorrido. A maioria dos grandes amores, daqueles reais, são construídos sobre as adversidades da vida, que não tem o menor compromisso com o final feliz. Apesar disso, a construção do amor é feita, cuidada e escolhida. Para o jardim se manter bonito é necessário cuidar de cada folhinha, regar as plantas diariamente e escolher permanecer nele, porque acredita no amor que se tem. Ele, quando bem cuidado, passa a trazer frutos, seja um passarinho que vê ali um refúgio, uma árvore de bergamotas que todo o inverno se carrega das frutas laranjas ou dos aromas que preenchem a casa em um dia de primavera. Por isso, o Semanário, neste dia dos namorados, quis trazer a história daqueles que permaneceram em seus jardins e os cuidaram para jamais passarem uma primavera sem o cheiro das flores dentro de casa.
Amores que duram
Já são 49 anos juntos, um total de 17.885 dias, três filhos, dois netos, 13 mudanças, diversos estados e muitas cidades. Um casal que decidiu dividir a vida nos momentos bons e naqueles desafiadores, mas que juntos, escolheram um ao outro.
Ide Furlanetto tem 71 anos, é pedagoga aposentada que compartilha a vida nestes últimos 49 anos com seu parceiro e conta como o conheceu. “Eu estudava no Aparecida de noite, e tinha um grupo de meninos e meninas. E uma sexta-feira por mês nós fazíamos um jantar na casa de um. E o irmão dele, o Pedro, era o meu colega, e nós fomos jantar. E ele trabalhava e morava em porto alegre, ele veio no final de semana e o Pedro levou ele, nos conhecemos neste jantar”, comenta.
Sérgio Furlanetto tem 75 anos, é militar aposentado e é o companheiro de Ide. Ele a conheceu em uma sexta à noite, enquanto acompanhava o irmão em um jantar com os amigos da faculdade. “Meus pais moravam aqui, e eu estava em Porto Alegre, eu iniciei aqui e depois fui para Porto Velho, e de Porto Velho eu fui para Porto Alegre. E como meus pais eram daqui, deu coincidência não é”, relata.
Ambos com um sorriso no rosto, e um olhar emocionado relembram o passado e contam que foi amor à primeira vista. Mas a distância de 122 km fazia Ide duvidar. “Eu achava que não ia rolar, ele morava e estudava em Porto Alegre. E naquela noite, a gente só conversou, só que depois ele começou a vir todo o final de semana e me procurava”, provoca. Mas Sérgio não deixa a provocação barata e completa. “Então o culpado fui eu que insisti”, ele finaliza e os risos dos dois tomam conta do ambiente.
Mas as dificuldades existiram, e tiveram que juntos aprender a superá-las.
A primeira, foi a uma adaptação após o casamento, em uma cidade nova, Ide se viu com novos desafios. “A primeira adaptação para mim foi difícil, porque no que ele chegou e se apresentou num dia, no outro ele foi já foi designado para o campo e ele ficou vinte dias fora. E nós ficamos morando num local bem distante da cidade, até nossa casa ficar pronta. E eu estava fazendo faculdade, morria de medo de chegar à noite”, relembra. A perda dos Mas são nesses momentos em que um precisa apoiar o outro, e cuidar daqueles que amam. Sérgio conta sobre esses momentos. “Passamos por algumas dificuldades, mas a gente se entendia perfeitamente. Não é só alegria, não são só flores. E é justamente o segredo, um compreender o outro, e às vezes quando a gente faz algo diferente, a gente conversa. Uma desculpa, um me excedi”, explana.
Ide traz também o que foi necessário para permanecerem mais de 50 anos juntos. “A compreensão, o companheirismo… Não pode faltar a conversa. Porque vai ter dificuldade, em toda convivência tem. É compreender o porquê o outro está agindo daquela maneira, então dialogar e respeitar, isso é primordial. O respeito mútuo”, reitera.
Sérgio começa então a pensar em tudo o que viveram e comenta. “Se tivesse que começar novamente”, e antes de finalizar sua companheira, Ide, o completa. “Eu faria tudo de novo”, confirma.
Amores que curam
As adversidades da vida chegam e não batem na porta, elas entram sem pedir licença e acontecem. Na vida de Ildo e Leonete Wagner foi assim, no ano em que completavam 13 anos de casamento, Ildo teve um AVC grave. Ele tinha apenas 44 anos, trabalhava em uma empresa e era árbitro de futebol. Leonete tinha 34 e trabalhava em uma empresa de móveis, mas foi no dia 12 de julho de 2010 que a vida dos dois teve uma mudança drástica. “Ele teve o AVC, passou 45 dias no hospital, chegou de cadeira de rodas, com traqueo, se alimentando por sonda. Ele não lembrava que ele tinha mãe, esposa e filhos”, relata Leonete.
Com a dificuldade das pequenas coisas, Ildo conta que as mais simples se tornaram um desafio. “Eu não conseguia fazer o sinal da cruz, eu contava, não conseguia fazer o ‘em nome do pai, do filho, do espírito santo’”, lembra. Mas também conta como foi possível ter a recuperação. “É a vida antes e depois, é difícil e ao mesmo tempo sou feliz. Antes eu trabalhava, e fazia as coisas da casa. E depois eu tive que me adaptar a uma nova realidade. Sozinho não adianta, é preciso de pessoas para ajudar. E é com elas que tu consegue superar e a vida segue”, diz confiante.
E Leonete passou cada dia de recuperação ao seu lado. “Não mudou só para ele, todos nós aqui em casa tivemos que nos adaptar a uma nova rotina, uma nova fase. Para ele começar a caminhar foi em torno de um mês e meio, porque como ele tinha ficado muito tempo no hospital, ele perdeu muito o domínio na perna. Então para ele caminhar sozinho, um ano, dois anos e meio…, mas quem ama cuida, como a gente tem um casal de filhos, eu queria ver ele bem. Então, graças a Deus ele se recuperou, nossos filhos se formaram, e nós temos uma família feliz”, relembra emocionada.
Quando se conheceram, a 30 anos atrás, Ildo já a observava de longe. “A minha irmã trabalhava na mesma empresa, e ele era motorista, e quando eles faziam hora extra, ele levava ela em casa, e aí ele me viu e se interessou”, conta Leonete com um sorriso no rosto se lembrando. E o marido a completa. “Quantas vezes eu vi ela e me interessei” relata, e num sorriso cúmplice lembram do começo onde o amor começava a surgir. “A gente namorou, depois noivou e casou”, comenta Leonete e Ildo a completa mais uma vez. ‘Como se diz: Tudo nos conformes”, expõe, e os dois riem juntos.
O amor é a escolha de permanecer quando nada parece fácil, nos momentos mais desafiadores, ter alguém que segura a sua mão. Mas é o amor que Ildo recebe que o faz cada dia se recuperar mais um pouco. “O amor foi fundamental na minha recuperação. Eu agradeço todos os dias, as pessoas que estiveram juntas, a Deus e a mim”, comenta ele emocionado. Leonete então traz a importância desse sentimento. “O amor supera tudo, tem que ter compreensão, confiar e ter fé”, frisa.
Quando os dois olham para trás, relatam a gratidão de, mesmo após tudo, terem um ao outro e uma linda família. “Hoje, eu me sinto muito feliz, muito realizada. Eu estou num patamar de excelência, tudo o que a gente quer é estar bem e ver os filhos bem”, finaliza Leonete.