A construção de um empreendimento no Caminhos de Pedra vem tirando o sono de muita gente. Investidor de um lado e proprietários de atrativos já estabelecidos na rota turística de outro. Projetado todo em pedra e madeira, para preservar a estética local, a obra em questão, denominada Paradouro São Pedro, foi pensada para acolher os turistas, para estacionar, descansar, fazer um lanche rápido, ir ao banheiro e também adquirir produtos típicos da região.
Mas a proposta não vem agradando quem já está no local. A construção já teve início com a demarcação do terreno em frente à Casa da Ovelha, mas foi embargada, pois ainda não possui alvará. Apesar de ter sido aprovada pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPURB) e pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (COMPAHC), ela foi barrada no Conselho Distrital de São Pedro.
Melissa Gauer, diretora adjunta do IPURB, esclarece que o Instituto faz a primeira análise do projeto e da documentação. Para ela, a obra não é de grande porte, o que poderia descaracterizar o local, como se fosse um shopping. Depois disso foi para o COMPAHC, que solicitou que o estacionamento fosse coberto com parreiras para diminuir o impacto visual. “A gente embargou a obra porque começaram a demarcar e movimentar o terreno sem ter a aprovação do projeto”, afirma.
Até mesmo as atividades que devem ser comercializadas nas lojas para locação foi um fator analisado. Melissa diz que a ideia é levar para o empreendimento produtos característicos da região. “Ele nos descreve, por exemplo, que se o turista for visitar a Casa da Ovelha, pode estacionar no Paradouro, fazer um lanche ou ir ao banheiro. Para nós, não vemos empecilho, ele atende todos parâmetros de legislação, do Plano Diretor, mas quem delibera é o Conselho Distrital”, analisa.
Leonildo Cavalet, presidente do Conselho Distrital de São Pedro, diz que o projeto havia sido analisado em reunião e aprovado, mas depois uma parte dos membros mudou de ideia e optou pela não deliberação da construção. Ele entende que o empreendimento viria a somar para o turismo na rota. “Estamos em nove no conselho, mas foram quatro a favor e cinco contra”, alega.
Surpresa com a demora na aprovação
Sem revelar o nome do investidor, o engenheiro civil Milton Milan, que é o responsável técnico pela obra, afirma que o paradouro vem de encontro com o desejo dos turistas. “O empreendedor tem experiência no Caminhos de Pedra, pois já foi administrador de um restaurante do local. Ele costumava ouvir reclamações dos turistas sobre a falta de um local de apoio”, afirma.
Segundo ele, o terreno é descampado, não precisando ser cortada nenhuma árvore para a construção. Milan explica que o projeto não descaracteriza o local ou gera um grande impacto paisagístico, pois é pensando em madeira e pedra de basalto. “Como o terreno é muito grande e tem custos, o empreendedor começou a pensar: se eu faço um estacionamento, posso ter um local onde o turista se sinta bem e também possa comprar produtos locais”, diz.
O engenheiro esclarece que o projeto prevê algo rústico, em madeira roliça de eucaliptos, com espaços de 20 metros quadrados. Não foi pensando como um novo ponto turístico, mas sim como um local de apoio ao turista. “Pessoas que vivem fora do percurso do roteiro podem também vender seu produto no local. A prioridade é para as coisas feitas na região. Todos lugares que conheço têm um espaço assim. Se o visitante vem para o Caminhos de Pedra e fica duas horas no sol, na chuva, é possível que ele poste no Facebook e não volte mais”, aponta.
Adaptação com o Parreiral Parking
A presidente do COMPAHC, Luciana Cristina Mella da Silva, diz que o Conselho analisa se o projeto está dentro das dimensões determinadas pelo Plano Diretor. Segundo ela, também é orientado quanto a materiais, para que seja utilizada pedra natural e madeira, tudo para minimizar o impacto visual e não descaracterizar o roteiro turístico.
De acordo com Luciana, o que foi apontado pelo Conselho foi a cobertura do estacionamento com videiras, tornando- o assim um Parreiral Parking. “Pedimos essa adaptação para conciliar o projeto do proprietário do terreno com a primeira proposta que o Caminhos de Pedra tinha para o lote”, explica.
“Temos que crescer com coerência”
Para quem já está no local não está claro o que é o projeto. Em conversas, membros da Associação Caminhos de Pedra citam a construção de um shopping, prédio em concreto e até uma galeria com produtos industrializados. E ainda há muitas reticências em aceitar a construção do paradouro.
A presidente da Associação, Maristela Lerin, afirma que é um empreendimento moderno e o compara a uma casa italiana em meio a uma comunidade indígena. Ela aponta que os turistas não vêm em busca de modernidade, e que o imediatismo do investidor pode ser em vão, não sendo bem aceito pelos visitantes. “Tudo aqui tem uma história, tem um porquê. Temos que crescer com coerência e coesão. Estamos com 12 empreendimentos novos. Não quero ter na consciência que foi implantado isso e daqui há dez ano não temos mais Caminhos de Pedra”, pontua.
Filho do idealizador da rota turística e administrador da Casa da Ovelha, Tárcio Michelon acredita que falta investimento no roteiro, mas que essa construção não seria positiva para o local. “A ideia do Caminhos de Pedra é ter pequenos empreendimento, familiares. Ali é um zoneamento rural, seria equivalente a propor que seja feita uma criação de porcos no centro da cidade”, afirma. Para ele, colocar um aglomerado de negócios, todos eles em um lugar só, fere o planejamento urbano de Bento Gonçalves.
Mesmo sem ter visto o projeto, Michelon entende que os turistas não iriam aprovar a ideia. “O projeto do Caminhos de Pedra, para aquele espaço, é que fosse todo de estacionamentos, o que seria mais lucrativo e viável. Pelo que entendo, eles estão vencendo a batalha, mas não irá dar certo, o turista não quer esse tipo de empreendimento, por isso acredito que não devam fazer”, aponta.
Turistas e guias aprovam a ideia
A guia turística Rosane Duarte Maia, de Joinville, Santa Catarina, aprovou a ideia. Acostumada a visitar o Caminhos de Pedra com grupos, ela diz que o projeto é necessário, pois sente falta de um local de apoio. “Não descaracterizando, mantendo a estética local, acredito que seria muito válido”, afirma