Um dos efeitos que a pandemia causou no turismo é a inversão de público. Antes, a maioria dos visitantes eram de outros Estados do país. Agora, são os da própria região.
Localizado no distrito de São Pedro, o roteiro Caminhos de Pedra já se consagrou como um grande potencial turístico da região. Quem passa por lá, encontra uma comunidade que trabalha preservando a cultura e a história da imigração italiana, retratada em 24 empreendimentos diversificados: vinícolas, restaurantes, pousadas, cantinas coloniais e muito mais.
O sucesso do roteiro é comprovado pelos números: só ano passado recebeu cerca de 110 mil visitantes. Entretanto, em tempos de coronavírus, onde o isolamento social tornou-se necessário e até mesmo obrigatório, os empreendedores, que dependem dos turistas, estão buscando e aprendendo novas formas de trabalhar para se manter no segmento.
Um dos efeitos que a pandemia causou no turismo é a inversão de público. Antes, a maioria dos visitantes eram de outros Estados do país. Agora, são os da própria região. Um dos empreendedores que notou a mudança é o sócio proprietário da Benevento Chocolate & Café, Eduardo Benvenutti. “No período da pós-quarentena muita gente estava vindo pela primeira vez ou fazia anos que não vinha para o roteiro. São pessoas daqui, mas que não valorizavam. Agora, parece que estão dando mais valor para a cidade, região e para o entorno”, afirma.
Funcionando desde 2002, a propriedade onde funciona a Casa da Erva Mate Ferrari pertence aos familiares desde os anos 1960, segundo o sócio proprietário, Paulo Ricardo Ferrari. Embora a família tire um extra da agricultura, a principal fonte de renda vem do empreendimento. “Até porque temos mais trabalho com o turismo”, afirma Ferrari.
Por lá, antes da pandemia, cerca de 2.500 pessoas visitavam o empreendimento por mês. Semanalmente, de acordo com Ferrari, a maioria do público era de fora. “O nosso turismo semanal era principalmente de gente fora do Estado, porém, está parado desde a primeira quarentena. No final de semana é mais gente de perto, que sai para passear e volta”, analisa.
Reinvenção e readaptação
Inaugurado em dezembro de 2018, a Benevento Chocolate & Café era um sonho do Benvenutti e da esposa, Jéssica Bellaver. Ambos, desde o início da quarentena estão buscando alternativas de reinventar a forma de trabalhar. A Páscoa foi um desses momentos. “Era para ser o melhor final de semana do ano, mas infelizmente não foi, estávamos fechados. A gente se adaptou com o delivery e lançamos um catálogo para entregar nas casas de Bento, Farroupilha e Caxias, sem custo”, relembra.
Com a Serra Gaúcha classificada como bandeira vermelha pelo governo do Estado, desde sábado, 13, que tornou as restrições ainda mais rígidas, Benvenutti novamente precisou readaptar a forma de trabalho. “As pessoas podem vir, fazer o pedido e aguardar, mas não podem consumir aqui. O delivery também continua. Nunca trabalhamos dessa forma, mas estamos tentando do nosso jeito”, assegura.
De acordo com Benvenutti, a maioria dos consumidores estão optando por retirar a encomenda no local. “As poucas pessoas que estão vindo pedem pelas redes sociais. Explicamos como funciona, fazem o pedido e retiram para levar. Essa semana veio um pessoal de Santa Catarina, queriam tomar um café e pediram para entregar no carro”, relata.
Menos fluxo: mais segurança
Quem chega na Casa das Cucas Vitiaceri, logo enxerga o selo ambiente limpo e seguro, que se destaca na entrada do empreendimento. Também está em evidencia um adesivo informando que a capacidade normal era de 162 pessoas e que a restrita reduziu para 70. “Estávamos trabalhando com atendimento de 40% das mesas e cadeiras e os piqueniques também. Inclusive, deixamos um espaço bem maior do que é pedido, para não ter complicação e evitar que o pessoal se aglomere”, salienta o proprietário, Clair Leandro Wildner.
Além disso, outras ações também estavam sendo realizadas para manter a segurança dos colaboradores e dos visitantes “A cada três horas a gente passava um pano com desinfetante, fazíamos higienização das mesas e cadeiras sempre após o uso, além do controle de temperatura corporal de todos que trabalham conosco”, relata.
Em tempos normais, o local recebia mais de mil pessoas por mês. O fluxo era intenso principalmente aos finais de semana e feriados, segundo Wildner. “O pessoal vinha aqui, a gente disponibilizava o espaço com mesas e cadeiras para as refeições e um gramado para colocar edredons e servir cestas de comida. Agora, estamos fazendo só venda de produtos na porta. Os clientes não têm acesso à loja”, afirma.
Um olhar positivo
A presidente da Associação Caminhos de Pedra e proprietária da Casa do Tomate, Maristela Pastorello Lerin, sempre tenta buscar o lado bom de situações ruins. Nesse momento de pandemia, não está sendo diferente. “Dentro de uma crise, sempre olho para o lado bom. De repente, isso está acontecendo para vermos o que pode ser feito para melhor atender as pessoas, para dar mais segurança aos visitantes e para nós que estamos aqui”, analisa.
Além disso, acredita que a situação gerou união entre as rotas turísticas da região, já que foi preciso juntar forças para superar o momento. “Toda semana tem lives e reuniões que a gente participa. Estamos sempre em sintonia com o município e com empreendimentos de outras rotas. Por isso digo que a pandemia foi boa nesse sentido, porque trouxe união. Juntos vamos fazer a diferença. Isso é muito bom”, acrescenta.