A comunidade deu adeus (ou graças a Deus) ao Presídio Estadual de Bento Gonçalves, situado até então no coração da Capital do Vinho. Palco de centenas de tumultos, fugas e rebeliões, o complexo, com seus mais de 70 anos de existência, deixou marcas na vida de milhares de pessoas. Rastros estes que devem ser rapidamente substituídos pela imponência de novos investimentos no local, deixando no passado o medo, ressentimento e inconformidade de outrora.
Nesta edição, o Semanário mostra o que ficou para trás no edifício – muitas vezes chamado de “bomba-relógio” – por autoridades da região. A reportagem conta como era o dia a dia em celas apertadas, majoritariamente superlotadas, sem o mínimo de suporte à vida contemporânea ou ao ideal ordenado pela Constituição Federal.
De forma genérica, o encarceramento do infrator é interpretado pela sociedade como justiça, pois muitas vezes o sentimento de impunidade grita alto no coração das pessoas que pedem pelo afastamento do infrator. O Estado possui o dever de punir e ressocializar, mas o sistema existente serve tão somente para manter o sujeito afastado da sociedade, e a PEBG era exemplo disso. O indivíduo é levado para uma penitenciária, trancafiado numa cela, excluído do convívio social como uma forma de punição pelo crime praticado.
Palco de centenas de tumultos, fugas e rebeliões, o PEBG deixou marcas na vida de milhares de pessoas.
Ocorre que o sistema, no geral, não coopera para a ressocialização do condenado, visto que o ambiente experimentado na prisão é pura violência, disputas de sobrevivência, torturas, etc. Consequentemente, não havendo um momento de trabalho educativo e produtivo, só resta tempo para que aqueles homens trancafiados utilizem de seus momentos de lazer e descanso para se especializar em seus crimes e aprender outros absurdos.
A justiça é lenta, os presos acabam cumprindo muito além daquilo que lhe foi sentenciado, não possuem um tratamento digno e não recebem benefícios que lhes são de direito.
Nosso relato instiga o vislumbre dos próximos anos. Torcemos para que nossas imagens remanesçam sempre como uma lembrança do que não podemos voltar a tolerar, e que nosso texto inspire programas que vejam o infrator como um ser humano falho, mas com possibilidade de retoque. A falta de olhar social de reabilitação, somado ao preconceito estigmatizado da sociedade é o que fazem do encarceramento uma sentença irreversível, acarretando consequências profundas tanto para o próprio condenado, quanto para a comunidade. Todos merecem e precisam de uma segunda chance.