Com 3.647 ocorrências registradas desde 2010 na cidade, ações de conscientização e testagem são intensificadas para enfrentar a doença, com foco especial na sífilis congênita

O Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita, celebrado no terceiro sábado de outubro, foi instituído pela Lei nº 13.430/2017. Esta data tem como principal objetivo mobilizar profissionais e gestores de saúde para enfatizar a importância do diagnóstico precoce e tratamento da sífilis, especialmente na gestante, com vistas a prevenir a sífilis congênita, que pode afetar o feto durante a gestação.

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum. A doença é curável e afeta exclusivamente humanos, sendo transmitida principalmente por via sexual ou, no caso da sífilis congênita, da mãe para o feto durante a gravidez. Embora tratável, a doença, se não diagnosticada e cuidada de maneira adequada, pode levar a complicações graves, inclusive a morte, especialmente nos estágios mais avançados.

Esta doença vem tomando mais importância atualmente, pois, segundo dados do Ministério da Saúde, em 2018, 158.051 pessoas apresentaram o diagnóstico. Vale ressaltar que esse número vem crescendo continuamente nos últimos 10 anos.

Além de ser uma Infecção Sexualmente Transmissível, ela pode ser transmitida ao feto durante a gestação, causando quadro chamado sífilis congênita, considerado bastante grave.
Em termos de comparação, o risco de transmissão após uma única relação sexual é de cerca de 30%, enquanto que uma gestante, sem tratamento, tem até 80% de chance de transmissão para o feto, via transplacentária.

Sem que haja tratamento, a infecção ocorre em três etapas e não confere imunidade, podendo, portanto, ser adquirida mais de uma vez pelo mesmo indivíduo.

Transmissão

A sífilis é transmitida de várias formas, incluindo relações sexuais desprotegidas, transfusões de sangue contaminado, ou pelo contato direto com lesões infecciosas. Além disso, uma mãe infectada pode passar a doença para o bebê durante a gestação, causando a chamada sífilis congênita. Para prevenir a transmissão, o uso de preservativos e o acompanhamento adequado durante o pré-natal são essenciais.

Estágios e sintomas

A sífilis tem diferentes estágios, cada um com sintomas específicos.

A fase primária, apresenta uma ferida única e indolor (geralmente nos genitais) que aparece entre 10 e 90 dias após o contágio. Embora não cause desconforto, a lesão é altamente infecciosa.

Já a secundária, entre seis semanas e seis meses após o aparecimento da primeira lesão, surgem manchas no corpo, febre, mal-estar e inchaço dos gânglios linfáticos. As lesões podem desaparecer sem tratamento, mas a doença continua ativa no organismo.

Sífilis Latente: Nesta fase, a doença não apresenta sintomas, mas a infecção permanece no corpo e pode progredir para a fase terciária.

No estágio terciário, pode surgir anos depois e comprometer órgãos vitais, como o coração, cérebro, pele e ossos, podendo levar à morte.

Já a sífilis congênita afeta o bebê, que pode nascer aparentemente saudável, mas desenvolver problemas sérios nos primeiros meses de vida, como pneumonia, alterações ósseas, cegueira e surdez.

O panorama em Bento Gonçalves

Para entender a situação da sífilis em Bento Gonçalves, entrevistamos a enfermeira Adriana Cirolini, coordenadora do Serviço de Atendimento Especializado (SAE) e do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) da cidade.

Ela destaca o número expressivo de casos de sífilis na cidade nos últimos anos. “De 2010 a setembro de 2024, foram registrados 3.647 casos de sífilis entre adultos, gestantes e congênita. Destes, 568 são de gestantes, representando 16,6% das notificações. Um dado preocupante é o número de casos de sífilis congênita, com 381 bebês infectados no período, o que exige hospitalização imediata para tratamento”, diz.

Adriana também explica que a sífilis ainda afeta majoritariamente as mulheres, que somam 58% das notificações, mas enfatiza que o combate à doença envolve toda a população, independentemente de gênero ou orientação sexual. “Atualmente, a sífilis, uma das infecções sexualmente transmissíveis (IST), é considerada um problema de saúde pública e está entre as patologias transmissíveis mais comuns, afetando a saúde e a vida das pessoas em todo o mundo”, destaca a coordenadora.

Desafios no combate

Segundo Adriana, um dos maiores desafios no controle da sífilis é a conscientização. “Apesar das campanhas de prevenção e promoção da saúde, o número de casos se mantém estável desde 2018. Muitos não sabem que a sífilis pode ser assintomática por anos, e é por isso que incentivamos fortemente o teste rápido, disponível em todas as Unidades de Saúde”, afirma.

Ela destaca a importância do tratamento precoce e do acompanhamento constante, principalmente durante o pré-natal, para prevenir a transmissão vertical, que ocorre quando a mãe passa a infecção para o bebê durante a gravidez”, explica. A forma de transmissão se dá através de relações sexuais desprotegidas (sexo oral, vaginal e anal), e de mãe para filho em qualquer fase da gestação ou no momento do parto (sífilis congênita). Se não for tratada pode comprometer vários órgãos como olhos, pele, ossos, coração, cérebro e sistema nervoso”, explica.

Prevenção e testagem

O SAE/CTA de Bento Gonçalves oferece testes rápidos de sífilis, HIV, hepatites B e C, além de disponibilizar preservativos masculinos e femininos à população. Adriana salienta que a melhor forma de prevenção é o uso de preservativos em todas as relações sexuais. “Não há uma profilaxia para sífilis, como no caso do HIV, por exemplo. O tratamento é a única solução para quem já foi infectado, mas prevenir ainda é a melhor arma”, explica.

Diagnóstico da sífilis

Além de uma apuração história clínica bem feita e o exame físico do paciente, o médico tem como auxílio para o diagnóstico da sífilis:

Avaliação de microscopia de campo escuro (que detecta as espiroquetas retiradas diretamente das lesões); Testes não treponêmicos (que não detectam especificamente anticorpos contra a doença); Testes treponêmicos (que procuram especificamente anticorpos contra as bactérias da infecção).

Entre os testes, os mais comumente aplicados são VDRL (não treponêmico) e FTA-ABS (treponêmico).
A testagem não treponêmico, detecta anticorpos não específicos para a bactéria, identificando os pacientes com sífilis. Já o treponêmico, detecta anticorpos específicos para confirmando o diagnóstico de sífilis.

Outras ferramentas podem ser utilizadas para pesquisas de lesões de órgãos e devem ser escolhidas de acordo com manifestação do paciente e o tempo de evolução.

Conscientização entre os jovens

Adriana também comentou sobre as ações de conscientização, especialmente voltadas aos jovens. “Fazemos testes rápidos em locais públicos e palestras para alertar sobre o risco das ISTs. Muitos jovens acreditam que estão imunes, mas o comportamento de risco, como relações desprotegidas, aumenta as chances de infecção”, diz.

Palestras para discutir casos de transmissão vertical, como a sífilis congênita, está em fase de regularização para ampliar as ações de conscientização. “No atendimento individual, as orientações são passadas deixando claro que, independentemente de saber com quem se relaciona, mas não usa proteção, há riscos de uma infecção sexualmente transmissível, como a sífilis. Outras atividades como palestras é muito bem enfatizado que o comportamento do ser humano frente a prevenção, às inúmeras doenças que hoje existem, define nossa saúde”, explica.

Neste sábado, 19, o SAE estará com uma unidade móvel na Via Del Vino, oferecendo testes rápidos e aconselhamento. “Nossa missão é garantir que as pessoas tenham acesso a informações e cuidados de saúde. A sífilis tem cura, mas só pode ser erradicada se houver esforço coletivo”, conclui Adriana.

Importância da Prevenção

A sífilis, embora seja uma doença curável, requer atenção e cuidado. O Dia Nacional de Combate à Sífilis é um lembrete da necessidade de prevenção, tratamento e acompanhamento contínuo, especialmente entre gestantes.

Proteger-se, fazer o teste e buscar tratamento são passos essenciais para garantir a saúde da população e erradicar essa infecção silenciosa, mas perigosa.