Com iniciativas integradas e educação ambiental, o município busca ampliar a reciclagem, promover a conscientização e enfrentar os desafios do descarte inadequado
A gestão de resíduos sólidos urbanos é um dos pilares para a preservação ambiental e a qualidade de vida em qualquer município. Em Bento Gonçalves, esse desafio é gerenciado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMAM), sob o comando do secretário Volnei Tesser, e conta com uma estrutura bem definida para garantir a destinação correta dos resíduos.
Estrutura e operação do sistema
A SMMAM supervisiona todas as etapas do processo por meio do Setor de Resíduos Sólidos, que organiza rotas de coleta, alocação de contêineres e monitora a destinação final adequada. A execução do serviço de coleta é realizada pela empresa terceirizada RN Freitas, contratada por licitação, enquanto cooperativas e associações de recicladores participam do manejo de materiais recicláveis. “Entre as atribuições do Setor de Resíduos está a organização de rotas e horários de coleta, alocação dos contêineres, além de assegurar que o destino dos resíduos seja realizado de maneira ambientalmente correta, atendendo às normas legais”, destaca o secretário municipal do Meio Ambiente, Volnei Tesser.
Além da coleta e destinação, o Setor de Educação Ambiental desempenha um papel importante ao promover campanhas de conscientização para a separação correta dos resíduos. O objetivo é equilibrar eficiência e sustentabilidade, preparando Bento Gonçalves para um futuro mais limpo.
Volume e destino dos resíduos
O município coleta cerca de 4,1 mil toneladas de resíduos por mês, sendo: três mil toneladas de resíduos orgânicos e rejeitos, enviados ao aterro sanitário de Minas do Leão; uma mil toneladas de resíduos recicláveis, destinadas a triagem em associações e cooperativas locais; 100 toneladas de vidro, recolhidas separadamente para reciclagem eficiente.
Essa divisão segue os princípios de redução, reutilização e reciclagem, com a destinação correta dos resíduos ajudando a minimizar impactos ambientais e gerando renda para os recicladores. “Esta gestão de resíduos segue os princípios de sustentabilidade, com foco na redução, reutilização e reciclagem, incentivando a população a separar corretamente seus resíduos e contribuindo para a diminuição do impacto ambiental da cidade, gerando renda e reinserindo matérias-primas na cadeia produtiva”, explica.
Aterro sanitário e tratamento de resíduos
Os resíduos orgânicos e rejeitos são transportados para o aterro sanitário em Minas do Leão, a cerca de 180 km de Bento Gonçalves. Operado pela empresa CRVR, o aterro atende às normas ambientais, garantindo o tratamento seguro dos resíduos. Por enquanto, o município não adota sistemas de compostagem, mas o aterro representa uma solução eficaz para a destinação de resíduos biodegradáveis. Segundo o secretário esse aterro é considerado uma solução segura e controlada para o tratamento de resíduos sólidos. “Temos monitoramento constante da qualidade do solo e da água, a fim de evitar contaminações, seguindo normas ambientais rigorosas. Embora a compostagem seja uma alternativa válida para o tratamento de resíduos orgânicos, a destinação ao aterro sanitário é uma prática legítima e eficaz, especialmente quando realizada em aterros licenciados que atendem aos requisitos legais. Ela assegura a redução de impactos ambientais e riscos sanitários, garantindo a saúde pública e o bem-estar ambiental. Portanto, o envio dos resíduos para o aterro de Minas do Leão é uma opção estratégica, segura e ambientalmente responsável”, diz.
Os resíduos recicláveis são encaminhados para oito Associações de Recicladores (centrais de triagem de resíduos), com as quais o município mantém contratos. A coleta seletiva ocorre diariamente, e os resíduos são distribuídos entre as associações por meio de um sistema de rodízio dos caminhões. Nos centros de triagem, os materiais recicláveis são classificados e vendidos para reciclagem. “O município oferece uma gratificação monetária por tonelada de material triado, incentivando as associações a fortalecerem o processo de reciclagem”, explica Tesser.
Já os resíduos de vidro, são destinados a uma cooperativa de recicladores, que também mantém contrato com a Prefeitura. “Assim como nas associações de triagem, a cooperativa recebe uma remuneração por tonelada de vidro reciclado, o que fomenta o processo de reaproveitamento e reciclagem desse material”, destaca.
Coleta de resíduos não convencionais e especiais
A coleta de itens como móveis é feita mediante agendamento pelo telefone 0800 9796866. Já os resíduos da construção civil são de responsabilidade dos munícipes. “No município e na região, há uma série de empresas dedicadas e licenciadas para o manejo desses resíduos, garantindo que os materiais sejam tratados adequadamente por empresas com a infraestrutura necessária”, conta Tesser.
O município também dispõe de pontos específicos para descarte de resíduos especiais, como: Pilhas e baterias: Locais como supermercados e cooperativas; Medicamentos vencidos: Postos de saúde, farmácias e hospitais; Resíduos Eletrônicos: Secretaria do Meio Ambiente. A logística reversa é aplicada para itens como lâmpadas e embalagens de agrotóxicos, promovendo uma economia circular.
Taxa de reciclagem e participação comunitária
Cerca de 25% a 30% dos resíduos coletados são reciclados, uma taxa que o município busca ampliar com a conscientização da população. O sistema de coleta seletiva contribui para a redução do volume de resíduos enviados ao aterro, promovendo a sustentabilidade e gerando impacto social positivo por meio da inclusão de recicladores. “Esse índice inclui materiais recicláveis que são devidamente triados nas Associações e Cooperativas, que são distribuídos nas associações através de sistema de rodízio dos caminhões de coleta. A destinação desses materiais ajuda a reduzir a quantidade de resíduos enviados para o aterro sanitário e promove a sustentabilidade. O município tem buscado aumentar esse percentual ao aprimorar o sistema de coleta e aumentar a conscientização da população sobre a importância da separação dos resíduos”, conta o secretário.
Apesar dos avanços, o município enfrenta desafios para aumentar a adesão ao sistema de coleta seletiva e incentivo a práticas como a compostagem. A ampliação das campanhas educativas e o fortalecimento das parcerias com associações são estratégias para alcançar uma gestão de resíduos ainda mais eficiente. “Embora o percentual de reciclagem ainda esteja em processo de crescimento, Bento Gonçalves continua trabalhando para expandir a participação da reciclagem por meio de Ações Educativas e do fortalecimento das parcerias com as Associações e Cooperativas que atuam diretamente na triagem e aproveitamento dos materiais recicláveis”, comenta.
Desafios enfrentados
O lixo eletrônico é um dos grandes desafios ambientais do nosso tempo. Em Bento Gonçalves, a Associação Ativista Ecológica (AAECO), sob a liderança de Gilnei Rigotto, desempenha um papel crucial na conscientização e no manejo sustentável desse tipo de resíduo, garantindo que ele não prejudique o meio ambiente nem a saúde da população.
De acordo com Rigotto, o descarte inadequado do lixo eletrônico traz sérios riscos, já que esses equipamentos contêm mais de 60 componentes químicos, muitos deles extremamente contaminantes, como chumbo, mercúrio e níquel. “Esses elementos podem causar doenças graves e desequilíbrios ambientais se não forem tratados adequadamente”, alerta.
Entre os maiores desafios está o descarte de toners de impressora. “Esse produto contém pó microparticulado, que não tem reciclagem em nível mundial. Ele precisa ser incinerado em equipamentos específicos, como secadores de cimento, mas sua manipulação é perigosa e pode atingir os pulmões”, explica Rigotto. Outro problema são as pilhas, cujo descarte correto é caro e limitado, já que há apenas uma empresa no Brasil capacitada para lidar com esse resíduo, cobrando por quilo descartado, além do custo do frete.
Apesar dessas dificuldades, o trabalho da AAECO tem trazido benefícios concretos para Bento Gonçalves. “Todas as toneladas que enviamos para reciclagem especializada geram economia para os cofres públicos, já que a prefeitura paga pelo peso do lixo enviado para Minas do Leão. Além disso, realizamos doações frequentes de celulares e outros eletrônicos para pessoas de baixa renda, instituições filantrópicas e até mesmo secretarias municipais”, destaca.
A associação também colabora com escolas públicas e particulares, fornecendo materiais para projetos técnicos e educativos. Contudo, Rigotto lamenta a falta de parcerias com o poder público. “Embora nosso trabalho seja reconhecido em nível nacional, a administração local nos vê como adversários políticos devido a denúncias ambientais que levamos ao Ministério Público. Isso inviabiliza colaborações que poderiam beneficiar toda a sociedade”, afirma.