A Expointer 2025 confirma a força da agricultura familiar da Serra Gaúcha. Neste ano, 21 agroindústrias participam da feira representando Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza. O número é o maior entre os sindicatos do Estado e mostra o protagonismo regional na produção de alimentos e bebidas de identidade local.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Bento Gonçalves, Cedenir Postal, afirma que o resultado não é por acaso. “Esse número se deve ao trabalho que nós fizemos junto às agroindústrias, de dar todo o apoio, não só nessas feiras, como em todas as outras. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (FETAG-RS) busca patrocínios, disponibiliza hospedagem e almoço, e o sindicato acompanha desde a inscrição até o suporte durante a feira. Isso facilita muito para os empreendimentos que vêm de municípios como os nossos, porque não dá para ir e voltar todos os dias pelo custo alto”, declara.

Postal destaca ainda a atuação de parceiros. “A Emater-RS faz toda a formalização das agroindústrias, e durante a feira o sindicato e a FETAG ficam ao lado dos produtores para o que for necessário, até na questão de internet. Não é só chegar no dia e montar o estande, há todo um processo de seleção e acompanhamento”, explica.

As agroindústrias da região levam para a feira um leque variado de produtos: vinhos, espumantes, geleias, pães, cucas, sucos de uva, alho negro, artesanato, além de lançamentos preparados especialmente para o público da Expointer.

Apesar da diversidade, Postal reconhece que ainda há espaço para expansão. “Em Bento está faltando agroindústrias de embutidos e de lácteos, como queijo e iogurte. Isso seria importante até para o turismo, porque quem visita busca esse tipo de produto e, em outros municípios, encontra mais facilmente”, observa.

Vinícolas familiares ampliam visibilidade

Na vitrine da feira, a Vinhos Foresti aposta em um lançamento que une inovação e resgate histórico: o espumante Sur lie de Peverella, elaborado pelo método tradicional. A enóloga Alana Foresti explica que a escolha da variedade não é aleatória. “A Peverella representa muito da nossa história e do nosso vínculo com a terra. É uma uva que traduz a identidade da região, e o Sur lie foi pensado para oferecer ao público uma experiência diferenciada, que vá além do consumo, transmitindo também memória e tradição”, afirma.

Alana observa que a feira é estratégica não apenas para vender, mas para posicionar a marca no mercado. “Participar da Expointer é sempre especial. É um espaço importante de comercialização, mas também de troca com outros produtores e de contato direto com o público. Cada edição reforça nossa marca e amplia nossa visibilidade”, destaca.

A enóloga avalia que o movimento até agora tem sido positivo, mas ressalta que a feira tem um peso que vai além dos números. “Mais do que as vendas, valorizamos a oportunidade de sermos vistos e lembrados. A Expointer abre portas para novos contatos e futuras parcerias, o que é fundamental para uma vinícola familiar como a nossa”, comenta. Para ela, o maior aprendizado é entender o público. “Cada visitante traz percepções diferentes sobre nossos vinhos. Esse diálogo nos inspira a inovar e, ao mesmo tempo, valorizar nossas raízes”, conclui.

Na Speranza Vinhos, o destaque é o espumante Extra Brut de Riesling Itálico, que passou mais de um ano em autólise e já soma 15 meses de garrafa. O proprietário Alceu Speranza explica que o produto sintetiza a busca pela qualidade e diferenciação. “É um baita espumante, o principal produto que trouxemos para a feira. Além dele, temos uma linha diversificada, com sete tipos de espumantes e nove tipos de vinhos”, detalha.

O portfólio da vinícola inclui Brut Branco, Brut Rosé, Demi Sec e três versões de Moscatel, além de vinhos como Tannat, Malbec Nobre com 14,5% de álcool, Malbec Rosé, Peverella e cortes diferenciados como o Alicante Bouchet 2020 com Tannat 2023. Há também variedades menos comuns na Serra, como o Lorena com corte da uva portuguesa Alvarinho, a Malvasia Bianca e os tradicionais Isabel e Bordô Suave.
Para Speranza, a Expointer é uma vitrine indispensável. “Cada ano é uma nova oportunidade, e estamos sempre aqui para mostrar o melhor da empresa. As feiras são nossa oportunidade de estar frente a frente com o consumidor, apresentar novidades e consolidar a marca”, afirma.

Ele relata que o movimento nos pavilhões tem sido intenso, especialmente nos fins de semana. “No sábado e no domingo, encheu de gente. Muitos clientes antigos retornaram para fazer compras. Durante a semana o fluxo é mais tranquilo, mas isso também facilita para conversar, negociar e mostrar nossos produtos”, diz.

Mais do que vendas, o agricultor enxerga na feira um espaço de aprendizado. “A cada edição aprendemos mais: a conversar com o público, a entender suas necessidades, a perceber o que eles procuram. É assim que vamos ajustando nossa produção e ampliando nossa presença no mercado”, completa.

Inovação e articulação marcam presença na feira

Marcia da Cunha Francisco e Edvaldo Gallon

A busca por diversificação e inovação guia o trabalho da Gallon Sucos, de Bento Gonçalves. Nesta edição da feira, o enólogo e proprietário Edvaldo Moro Gallon apresenta ao público o mais novo produto da linha: o vinagre balsâmico, que começou a ser produzido recentemente. “Nós já havíamos testado o lançamento na ExpoBento e na Fenavinho, em junho, e agora decidimos trazer também para a Expointer. Está sendo muito bem aceito, porque amplia nosso portfólio e oferece mais uma opção diferenciada para os clientes”, explica.

Para Gallon, a feira de 2025 tem um diferencial importante: o movimento de visitantes. “Percebo que neste ano tem muito mais gente circulando nos pavilhões. Os corredores estão sempre cheios, o público entrando e saindo a todo momento. Essa presença maior nos dá confiança de que vamos superar os resultados de anos anteriores”, avalia.

Outro ponto valorizado pelo produtor é a troca de experiências com colegas de diferentes regiões do Estado. “A cada feira mudamos de posição dentro do pavilhão e, consequentemente, de vizinhos. Esse rodízio é muito positivo, porque nos coloca em contato com produtores de realidades e setores diferentes. Sempre aprendemos algo novo e levamos isso para dentro do nosso negócio”, comenta.

No aspecto comercial, Gallon comemora os resultados. “As vendas estão ótimas, dentro dos objetivos estipulados. Claro que durante os finais de semana projetamos metas maiores, porque o público aumenta. Já nos dias de semana ela é mais baixa, mas até agora está tudo muito positivo. Estamos conseguindo atingir nossos objetivos”, relata.

Para além das vendas, o produtor reforça a importância do contato com representantes do poder público. “Aqui é um momento raro em que conseguimos falar diretamente com pessoas da Secretaria de Desenvolvimento Rural e da FETAG-RS. São encontros difíceis de acontecer no dia a dia, mas que na feira se tornam possíveis. É a oportunidade de expor nossas dificuldades e buscar apoio para que políticas públicas sejam criadas e que realmente nos ajudem”, defende.

Gallon conclui que a feira se torna um espaço de negócios, aprendizado e articulação. “A participação é sempre muito positiva. Saímos daqui com novos clientes, novas ideias e, principalmente, mais fortalecidos enquanto agricultura familiar. É isso que faz com que valha a pena estar presente a cada edição”, afirma.

Novos sabores conquistam espaço

A diversidade de produtos da agricultura familiar também se reflete nas agroindústrias que apostam em combinações criativas para atrair o público. Entre elas está a De Costa Cogumelos e Alho Negro, que levou para a feira novas receitas elaboradas a partir do ingrediente que se tornou sua marca registrada. “Trouxemos como novidade a gremolata, o tomate confit e a cebola caramelizada, todos preparados com alho negro. São produtos que despertam curiosidade e ajudam a mostrar a versatilidade do ingrediente”, explica Felipe Lazzarotto de Costa.

O produtor avalia que a participação tem sido positiva, sobretudo pela visibilidade conquistada. “A feira é muito boa para captar novos clientes e apresentar nossos produtos a quem ainda não conhece. A quantidade de visitantes no primeiro final de semana foi bastante alta, e isso nos dá boas expectativas para o encerramento”, comenta.

No faturamento, o resultado está dentro do planejado, mesmo com queda em relação a 2024. “Na comparação com o ano passado, as vendas estão cerca de 30% mais baixas, mas dentro da nossa estimativa. O mais importante é a oportunidade de mostrar nosso trabalho para milhares de pessoas”, ressalta.

Na linha de produtos coloniais, a EM Produtos Coloniais apresentou como novidade a torta tirolesa, que rapidamente chamou a atenção dos visitantes. Para a produtora Elaine Cristina Pertile Moro, a feira é sempre um momento de reconhecimento e aprendizado. “O público da Expointer é muito receptivo e valoriza os produtos das agroindústrias. A organização, feita pela FETAG, nos dá todo o suporte, e a troca de experiências com outros produtores é um aprendizado constante”, destaca.

Elaine comemora o desempenho comercial desta edição. “As vendas estão muito boas, a expectativa é de um movimento ainda maior nos últimos dias”, avalia. Para ela, a feira também é um espaço para se inspirar. “Sempre surgem novidades e inovações entre os expositores, e levamos isso como aprendizado para seguir aprimorando nossos produtos”, acrescenta.

Tradição repaginada

Isidoro e Mário Petroli, e Cedenir Postal

Na feira, a Vinhos Petroli aposta em um lançamento que combina nostalgia e inovação: um vinho em garrafa de um litro, com rolha diferenciada, metade para fora, metade para dentro, e um rótulo que remete ao estilo antigo. A novidade é apresentada nas variedades Bordô e Niágara e foi pensada especialmente para a feira. “É uma proposta diferente, que resgata a tradição e chama a atenção do público. Até aqui, está vendendo bem”, comenta o produtor Mário Petroli.

Ele avalia que o movimento tem sido positivo, mas percebe cautela por parte dos consumidores. “Há bastante público, mas vemos que as pessoas estão gastando menos. É reflexo da situação econômica do país, está todo mundo apertado. Ainda assim, a expectativa é boa para os últimos dias, quando costuma haver maior movimento e liberação de pagamentos. Acredito que as vendas melhorem no encerramento”, observa.

Mesmo com o ritmo de vendas mais moderado, Petroli ressalta a importância da presença. “Os contatos que fazemos aqui são valiosos, sempre adquirimos novas experiências. Estar na feira é estar no meio do povo, mostrando o trabalho. Quem não é visto não é lembrado, e por isso participar é fundamental”, afirma.

Crescimento e perspectivas

Em 2024, foram 19 agroindústrias representando a região na Expointer. Neste ano, o número subiu para 21, sinalizando avanço e fortalecimento do setor. Postal projeta continuidade dessa trajetória. “Esperamos continuar aumentando a presença. Nossa região é um dos maiores polos de agroindústrias registradas no Estado. Muitas vendem apenas na propriedade ou para turistas, mas ainda podem vir a participar de feiras. Queremos seguir liderando em número de empreendimentos”, conclui o presidente.