Estudo da UFRGS revela que município teve 516 registros de movimentos de massa, enquanto Caxias do Sul lidera o ranking regional
Entre o fim de abril e início de maio deste ano, a Serra Gaúcha foi severamente afetada por intensas chuvas que resultaram em um grande número de deslizamentos de terra, colocando em risco a segurança e infraestrutura das cidades da região. Bento Gonçalves, conhecida por sua viticultura e beleza cênica, se posicionou como a quarta cidade da região com o maior número de deslizamentos de terra, totalizando 516 cicatrizes de movimentos de massa, de acordo com um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A pesquisa, divulgada na terça-feira, 29 de outubro, foi resultado de um esforço colaborativo que envolveu professores, estudantes e técnicos da universidade, além de colaboradores externos. De 4 de maio até 21 de agosto deste ano, uma equipe de 50 membros, entre professores, estudantes, técnicos e colaboradores externos da UFRGS, mapeou cerca de 18 mil quilômetros quadrados, a partir de imagens de satélite de alta resolução. O levantamento aponta que, além de Bento Gonçalves, outros municípios da Serra Gaúcha também foram severamente atingidos, com destaque para Caxias do Sul, que liderou o ranking regional com 656 registros de deslizamentos. Veranópolis ocupou o segundo lugar com 363 ocorrências.
No total, o estudo revelou que mais de 15,3 mil cicatrizes de movimentos de massa foram identificadas na região, além de 16,8 mil rupturas no solo, consequência direta do acúmulo de chuvas intensas. O impacto dessas ocorrências foi sentido em 148 cidades do Rio Grande do Sul, afetando mais de 10 mil propriedades. O levantamento é uma das maiores investigações sobre os efeitos das chuvas no estado, trazendo à tona a gravidade dos deslizamentos e suas consequências para as comunidades e a economia local.
De acordo com o coordenador do mapeamento, professor do IGeo Clódis Andrades-Filho, a maior concentração de chuva naquele período ocorreu no nordeste do Estado, região de relevo majoritariamente acidentado onde está localizada a Serra Gaúcha, o Vale do Taquari, o Vale do Rio Pardo e a Quarta Colônia. “Por conta dos efeitos desse evento extremo, a movimentação de massa mais expressiva aconteceu nas encostas dos vales em 30 de abril e 1º e 2 de maio, predominando os movimentos dos tipos: deslizamentos, fluxos de detritos, queda de blocos e rastejo do solo”, explica ele.
A magnitude do problema
Embora Caxias do Sul tenha sido a cidade mais afetada pela quantidade de deslizamentos, com 656 registros, outras cidades da Serra Gaúcha também sofreram com os impactos. Além de Bento Gonçalves, outros municípios com grande número de ocorrências incluem Veranópolis (636 deslizamentos), Cotiporã (403), Pinto Bandeira (292) e Santa Tereza (271).
Os números revelam um cenário preocupante para a região, que, tradicionalmente, já enfrenta desafios relacionados ao relevo montanhoso e à necessidade de monitoramento constante das áreas de risco. No entanto, os dados também servem como alerta para a necessidade de medidas preventivas e adaptativas para evitar novos desastres. “Em número de movimentos de massa, este evento é o maior já registrado no Brasil, uma vez que o último de grandes proporções ocorreu no Rio de Janeiro em 2011 e teve 4.300 cicatrizes de movimentos de massa”, explica Andrades-Filho.
Medidas para minimizar os danos
A partir dos dados obtidos, o estudo da UFRGS sugere diversas alternativas para mitigar os impactos futuros dos deslizamentos e reduzir os riscos para as comunidades. Entre as principais recomendações estão medidas de contenção e drenagem em lavouras de modo a reduzir a movimentação do solo e o acúmulo de água em áreas frágeis do terreno; zoneamento das áreas de maior risco e estabelecimento de medidas de uso restrito do solo e proteção ambiental; formação dos profissionais locais gestores, técnicos, dos agricultores e professores sobre risco geológico e adaptação e aperfeiçoamento de sistemas de alertas, que considerem o risco geológico nas encostas a partir de dados técnico-científicos precisos e adequados à realidade socioambiental local e regional, etc.
Para ver o ranking completo, basta clicar neste link.
Fotos: Prefeitura de Santa Tereza, Johnny Wiest e Clódis Andrade Filho / Reprodução