O número de homicídios colocou Bento Gonçalves como o 9º município mais violento do estado. Na Serra, a Capital do Vinho está em primeiro lugar nas estatísticas, na frente até mesmo da maior cidade da região, Caxias do Sul, que fica com a 15º posição a nível estadual. Os números são baseados na quantidade de assassinatos por 100 mil habitantes, gerando a taxa de 33,9. A pesquisa foi publicada no Atlas da Violência, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) juntamente com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A situação coloca a cidade em alerta, pois os dados são de 2017, quando foram contabilizados 39 assassinatos durante todo ano. Mas esse número vem crescendo. De acordo com o delegado de Polícia Civil Álvaro Becker, essas mortes violentas estão acontecendo por causa da disputa de facções pelo domínio de território para venda de entorpecentes. Ele afirma que, a partir de 2017, houve uma migração maior das facções para a região.
“Não é um problema somente de polícia. É um sistema que está falhando em dar apoio às famílias, garantir escola e trabalho. As pessoas sem trabalhar e moradia adequada entram no tráfico e vão começar a vender”, afirma.
Região lucrativa
O comandante do 3º Batalhão de Áreas Turísticas (Bpat), Major Álvaro Martinelli, também aponta para a migração de grupos criminosos para Bento. “Eles só vão se estabelecer em locais que gerem perspectivas de lucro. Isso envolve diretamente o mercado consumidor. Bento já não tem mais uma boca de fumo estabelecida, onde as pessoas vão comprar drogas. Hoje temos até tele-entrega. Essa é a criatividade do mundo do crime a adaptação ao novo meio social”, afirma.
A presença maior do tráfico na periferia, segundo ele, é porque ali encontram mão de obra barata. “É uma questão que envolve falta de emprego e pouca perspectiva de futuro”, esclarece.
Outro fator que faz com que esses grupo se estabeleçam em Bento é a grande movimentação de valores, principalmente pelo turismo. “Isso gera roubos de veículos, celulares, residências e estabelecimentos comerciais”, declara. Martinelli também aponta as consequências dessas disputas.
“A partir do momento que esses territórios estiverem dominados por um único grupo criminoso. As ações criminosas irão ganhar força”, relata. Se isso ocorrer, de acordo com ele, a projeção é que tenha aumento de ações, principalmente roubo, porque esses grupos precisam manter o território. “É uma tendência que vemos em centro urbanos. Isso é alarmante”, finaliza.
Naturalização da violência
Para o sociólogo Gregório Grisa, o fenômeno da violência em cidades médias e pequenas vem aumentando nas últimas décadas. “O aumento do desemprego, da chegada de pessoas em volume não esperado, dos conflitos ligados ao tráfico de drogas e controle de território também explicam a situação da cidade. O fato de as mortes serem ‘localizadas’ imprime um caráter de naturalização no tratamento que a sociedade em geral dá para esses fatos”, pontua.
Por outro lado, Grisa acredita que a população já percebe o aumento da violência mais sistêmica e está cada vez mais preocupada. De acordo com ele, em menor escala, a banalização da resolução violenta de conflitos, certa apologia ao uso da arma de fogo e uma conjuntura de polarização também permeia o imaginário das pessoas, em especial dos jovens que são mais vulneráveis em relação aos crimes mais violentos.