Produtor artesanal do município elabora hidromel desde 2009 e busca aperfeiçoar conhecimento

Em 2009, o administrador Renan Souza resolveu produzir hidromel, uma bebida fermentada de mel, por passatempo e curiosidade. Nove anos depois, ele já está na quinta safra, estuda a possibilidade de profissionalizar sua produção e abrir uma hidromelaria em plena Capital do Vinho. Contudo, ainda enfrenta desafios, como apresentar a bebida milenar para a região e achar a receita ideal para o gosto do consumidor.
A iguaria não tem origem exata, mas os primeiros registros remontam o período paleolítico, quando nômades carregavam odres com água e, ao encontrarem mel, resolveram guardar o alimento nos mesmos recipientes. Após alguns dias, eles percebem que o liquido foi transformado em algo novo e, sem querer, descobrem o processo de fermentação. Indícios apontam que a bebida foi descoberta em vários lugares, por civilizações diferentes e em períodos diferentes.
De acordo com Souza, a elaboração é muito parecida com o vinho, mas com base no mel. “Ao invés de usar o açúcar da uva para a fermentação, a bebida fermenta com o mel”, explica. Ele entende que é necessário despertar a curiosidade das pessoas para criar o hábito de consumo.
Cada garrafa demora cerca de um ano para ficar pronta, entre o processo de fermentação e a guarda. Contudo, Souza destaca que quanto mais tempo de guarda, melhor deve ser o resultado da bebida. “Eu já tenho garrafas de 8 anos aqui em casa, mas quanto mais velho, melhor. A produção ainda é pequena”, aponta.
O hidromeleiro afirma ainda que não comercializa, visto que é necessário pesquisar mais e regularizar. “Por enquanto estou fazendo degustações com amigos, com pessoas que gostam da bebida, para definir as características”, comenta.

Semelhante ao vinho branco

A cor, textura e complexidade no paladar e olfato tornam o hidromel uma bebida semelhante ao vinho. Como ela é elaborada a base de mel e água, é comum sentir notas florais no aroma, como nos vinhos brancos leves.
Souza ressalta que existem inúmeras variações na receita, que dão tons e características diferentes à bebida, como cascas de limão siciliano ou de laranja. “É uma bebida de séculos e está ainda aqui, isso é fantástico. A gente pode sentir o aroma de flores, de caramelo, de frutas. É uma bebida para ser degustada”, avalia.
Os custos de produção, bem como o tempo que precisa ser dedicado à elaboração, fazem com que o preço estimado seja de R$ 35 para uma garrafa de 330 ml. “É uma estimativa que ainda é difícil de fazer”, comenta.

Características do Brasil

Atualmente, Souza precisa importar as leveduras do Canadá para dar o tom que busca. “A levedura é que vai definir o que é mais marcante, serve para deixar mais ou menos floral, com mais ou menos teor alcoólico”, afirma.
Ele comenta sobre a importância de trazer características regionais para o hidromel, desde a utilização de um mel que seja particular de um lugar até uma levedura específica. “Estou em fase de testar novas receitas e buscar outras leveduras”, ressalta.
Um grupo de pesquisa da Universidade de Viçosa, em Minas Gerais, trabalha no desenvolvimento de uma levedura específica para a produção do hidromel brasileiro desde 2013. Hoje hidromeleiros mineiros já estão utilizando o composto.
O objetivo da pesquisa é criar uma identidade brasileira para a bebida e profissionalizar o processo produtivo. Ao longo dos anos, foram selecionadas 23 entre 100 leveduras, a partir de uma avaliação de quais melhor se adaptariam à bebida e se desenvolveriam mais facilmente.

A importância da escolha do mel

O resultado final depende de vários fatores, mas o mais importante deles é a qualidade do mel, enfatiza Souza. Ele relata que já ocorreram casos de a bebida ficar melhor do que o esperado, por ter acertado na escolha e, em outras, perdeu parte da sua produção.
Na sua observação, muitos apicultores colocam água e limão no mel, o que reduz a qualidade para a fermentação. Noutros casos, as abelhas pegam néctar de lugares contaminados por agrotóxicos. “Mel de parreira não é bom porque ela é carregada de alguns compostos químicos que prejudicam. Como isso é passado na floração, ela vai ter o resquício do mel”, observa. Ele conta que perdeu parte de sua produção por conta desse problema. “Mandei para a análise e encontraram metais pesados”, pontua.
O produtor relata ainda que teve que pesquisar vários apicultores até chegar em um mel de qualidade. “Tive muitas experiências positivas e negativas. Sempre faço testes para ver como o mel vai se comportar, hoje consigo medir a qualidade”, comenta. Atualmente, sua matéria prima vem de um produtor de Cotiporã.
Ele explica que, na região, normalmente são encontrados os méis de laranjeira e eucalipto e que a predominância se define pelas plantas em um raio de 5 km da colmeia. ”Consigo fazer todas variedades de bebida com o hidromel, como um espumante ou uma cerveja de hidromel ”, observa.