Consumidor vai começar a pagar R$ 14,20 a mais a cada 100 kWh consumidos. Cobrança vai perdurar, pelo menos, até abril de 2022
A falta de chuva nas hidrelétricas brasileiras vai impactar no bolso dos cidadãos em todo o território nacional. Isto porque, desde 1º de setembro, entrou em vigor a bandeira tarifária de escassez hídrica, na qual o consumidor vai começar a pagar R$ 14,20 a mais a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que a cobrança vai perdurar, pelo menos, até 30 de abril de 2022.
Por que o valor da conta de luz aumenta?
Segundo a coordenadora do curso de Ciências Econômicas da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Jacqueline Corá, isso ocorre porque o Brasil tem sua matriz energética sustentada em grande parte pelas hidrelétricas. “Neste ano, enfrentamos uma crise hídrica sem precedentes com cinco estados nesta situação de escassez de chuvas e, por consequência, com os reservatórios em níveis muito baixos, comprometendo o fornecimento de energia elétrica. Por conta disso, a Aneel criou a bandeira com aumento de 7% nas contas de todas as famílias a partir de setembro”, explica.
Jacqueline pondera, ainda, que quando as hidrelétricas não conseguem produzir a energia necessária para atender a demanda do país, entram em jogo as termelétricas. “A Aneel autorizou que todas fossem acionadas para suprir o déficit de energia, só que isso gera um custo adicional elevadíssimo para ser repartido por todos os brasileiros. Elas custam muito mais caro que as hidrelétricas, sem contar ainda os prejuízos ambientais com a geração de energia a base de carvão”, frisa.
Mesmo com o acionamento das termelétricas, o déficit persiste. “Está sendo necessário importar energia de outros países, como Argentina e Uruguai. Por isso, vamos pagar ainda mais, pois segundo especialistas, a importação tem um custo 12 vezes mais caro que o da energia eólica, por exemplo”, ressalta.
O por que a população precisa passar por isso está claro para entendedores do assunto. “Especialistas consideram que houve falta de planejamento e gestão nesta área, pois a situação já estava clara e exigia que outras medidas tivessem sido tomadas há, pelo menos, uns três meses, minimizando um pouco o problema da escassez das chuvas. Agora, todas as alternativas que temos para evitar o apagão custam muito mais caro e essa conta está sendo repassada para as famílias, para as indústrias e para o setor do agro. O efeito da elevação no custo da energia é um aumento ainda maior nos alimentos e produtos industrializados, apenas para citar alguns exemplos. Ou seja, neste ano a inflação não dará trégua”, destaca a economista.
Em 31 de agosto, antes de as novas medidas entrarem em vigor, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, fez um pronunciamento em rede nacional. Ele afirmou que por conta da escassez de água, que se agravou, os cidadãos precisam fazer um esforço ainda maior para eliminar desperdícios. “Reduzir utilização de chuveiros elétricos, condicionadores de ar e ferros de passar”, advertiu.
Bandeiras tarifárias
De acordo com a iniciativa “Consumo Consciente Já”, uma parceria entre a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), a Aneel e o Ministério de Minas e Energia, o sistema de bandeiras tarifárias sinaliza o custo real da energia gerada, possibilitando aos consumidores o bom uso da energia elétrica. “O funcionamento das bandeiras tarifárias é simples: as cores indicam se a energia custará mais ou menos em função das condições de geração”, destaca o projeto.
Outros aumentos
Além da conta de luz, outros itens essenciais que estão sofrendo reajustes consecutivos são o gás de cozinha e a gasolina.
Em agosto, a Petrobrás aumentou o valor do gás em 7%, mas o reajuste só entrou em vigor na última quarta, 1º de setembro. Em Bento Gonçalves, o preço do botijão de gás já passa de R$ 110.
O Sindicato das Empresas Transportadoras e Revendedoras de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) do Distrito Federal (Sindvargas) afirma que aumentar o valor foi uma iniciativa das distribuidoras que repassaram o reajuste de até 7% para cobrir aumento nos custos causados pela inflação e pela correção do salário dos colaboradores.
Já a gasolina comum, na Capital do Vinho, em pesquisa divulgada pelo Serviço de Proteção ao Consumidor (Procon), também aumentou. Em 4 de agosto o valor mínimo era R$ 5,89 por litro e o máximo, R$ 6,15. Um mês depois os valores já mudaram: no mínimo R$ 6,09 e no máximo, R$ 6,28.
Foto em destaque: Suellen Krieger