Muito importante para a localidade, Associação de Deficientes Físicos de Bento Gonçalves (ADEF) auxilia pessoas de toda a cidade. Moradores opinam sobre a região, que cresce economicamente com novos empreendimentos

O Progresso é muito elogiado por quem reside ou trabalha no local. Um dos motivos é a proximidade com o Centro. Outros pontos, como o avanço comercial e lugares de apoio, também fazem do bairro uma região completa e ótima para morar.

Um local de acolhimento

A assistente social Andressa Ben, 43 anos, é coordenadora da Associação de Deficientes Físicos de Bento Gonçalves (ADEF) há quatro anos e meio. Ela conta que a organização foi fundada em 19 de outubro de 1987 com o objetivo de agrupar e valorizar a pessoa com deficiência, bem como conscientizar a sociedade sobre o tema.

Conforme Andressa, após dois anos, um espaço foi cedido em uma pousada do município. Sem precisar investir em valores de aluguel, a equipe permaneceu nesse local por aproximadamente uma década. Ali começaram os primeiros atendimentos fisioterápicos com profissionais cedidos pela prefeitura municipal por meio de convênio. “Neste período, além dos atendimentos, as atividades desenvolvidas centravam-se em visitas à outras associações, congressos voltados aos deficientes físicos e promoções para arrecadação de recursos. Além disso, iniciou-se o grupo da terceira idade, cujo objetivo era reunir familiares de pessoas com deficiência para a confecção de produtos em crochê e tricô e sua venda, auxiliando na manutenção da instituição”, relata.

Com a necessidade de aumentar o espaço, uma casa foi alugada, onde a equipe permaneceu por oito anos. Em 1998, a prefeitura doou o terreno localizado na rua Ettore Giovanne Perizzolo, 199, no bairro Progresso. “Foram realizadas inúmeras ações visando a arrecadação de recursos para a construção da sede própria”, informa.

Em 2006 foi colocada a pedra fundamental no terreno onde já se iniciavam as obras. Após quatro anos, o espaço atual foi inaugurado. “A partir daí, inúmeras atividades precisaram ser propostas para a manutenção da instituição. Ao longo dos anos, outros profissionais passaram a compor a equipe disciplinar e realizar atendimento aos usuários, pacientes, seus familiares ou cuidadores, como assistente social, psicóloga, terapeuta ocupacional e educador físico”, ressalta.

Uma conquista foi concebida em 2021, quando a ADEF teve seu projeto ‘Aprimorando a Reabilitação’ aprovado pelo Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência (Pronas/PCD). “O recurso está sendo utilizado para pagamento de profissionais nas áreas de psicologia clínica, fisioterapia, terapia ocupacional, serviço social, educação física e fonoaudiologia, além da compra de equipamentos necessários para a realização dos atendimentos. Todos os encaminhamentos são efetivados via Sistema Único de Saúde (SUS), com prévia avaliação médica”, pondera.

De acordo com a coordenadora, a organização dispõe de grupos para os usuários, pacientes e seus familiares ou cuidadores. Neles, são realizadas atividades na sede da associação que incluem aula de dança, música, xadrez e tênis de mesa paralímpico. “Há, também, uma ação voltada aos responsáveis pelos pacientes atendidos e um grupo direcionado aos adolescentes e jovens adultos com deficiência”, sustenta.

A assistente social destaca que o Progresso é um local bastante acolhedor, que dispõe de muitos recursos e de uma excelente infraestrutura, além da localização privilegiada, próxima ao Centro da cidade. “Há indústrias, comércio, serviços, escolas de educação, academias, farmácias, mercados, praça de lazer, quadra de esportes e segurança, facilitando a qualidade de vida tanto para quem reside quanto para quem trabalha aqui. A comunidade participa das atividades propostas pela ADEF, auxiliando também nas campanhas que realizamos”, elogia.

Para alunos que moram no bairro, é essencial ter um espaço tão perto de casa e onde se sintam acolhidos. “O atendimento ofertado pela ADEF é direcionado a todos os munícipes de Bento Gonçalves, tanto da área urbana quanto da rural. Contudo, contar com um serviço amplo e especializado dentro do território faz toda a diferença, proporcionando ao paciente participar do maior número de atividades ofertadas”, completa.

Há 45 anos no Progresso

O taxista e comerciante, Lucindo Redante, 77 anos, recorda que quando chegou no bairro, há quase meio século, só passavam carroças pela rua Giovani Girardi. “Aqui na frente tinha a lavoura de um senhor e, depois de um tempo, teve um projeto para área verde. Depois veio o encanamento e o esgoto, mas a luz era precária. As poucas casas que tinham já eram bem antigas, depois começou a crescer a população”, descreve.

De acordo com Redante, a localidade é boa e tem tudo, como mercado, farmácia, loja de material de construção, entre outros empreendimentos. “As ruas e a infraestrutura estão boas agora. Só que há muita gente que transita pela praça, bebendo, fumando e fazendo folia, ao invés de trabalharem”, adverte.

Sobre saúde, o taxista diz que apesar de ter um espaço de Estratégia Saúde da Família (ESF), ele está localizado na parte mais baixa do bairro. “Tínhamos um posto aqui em cima, mas ele fechou e agora é um centro para idosos. No momento, de acordo com minha localização, tenho que ir me consultar no Centro se preciso do SUS. Lá, quase nunca consigo marcar consulta, pois sempre há falta de médicos”, lamenta.

O comerciante aponta algo que mudaria nos espaços da comunidade Santa Lúcia, onde auxiliou durante 34 anos junto com a diretoria. “A localização do salão não é boa, porque tem pouco espaço. A igreja foi construída no terreno errado, por ser numa descida e não ter estacionamento. Tudo é apertado, então não tem aquela área para as pessoas deixarem seus carros na frente e seguros”, opina.

Para ele, seria melhor algo integrado a uma área de lazer. “Era para ter sido aqui na praça, a igreja ficaria melhor localizada neste endereço. Não sei sobre toda a burocracia que teve na época da construção, mas a comunidade falou para fazer aqui, porém, o governo não liberou por se tratar de uma área verde que não poderia ser arrumada”, finaliza.

Promessas e melhorias

O morador Ilecio Salvini, 67 anos, menciona que quando chegou no bairro, não havia nem 10% do que existe atualmente. “Tinha um barzinho a cada esquina e algumas casas, mas as ruas eram todas de chão batido. A primeira a ter calçamento foi onde resido. A região evoluiu muito desde aquela época, agora tudo é diferente”, conta.

Uma promessa antiga que ele nunca esqueceu, e que até agora não foi concretizada, era a do Lago da Fasolo. “Iam tratar a água e fazer uma praça, mas só prometem e nunca concretizam nada. Seria um ótimo local para caminhar e passar um tempo”, indaga.

Para ele, a praça do bairro é grande e deveria ser melhor cuidada, pois há muitas crianças na região. “A mobilidade urbana precisa de melhorias. Aqui na rua onde moro tem uma parte que nunca teve calçada, o que dificulta para as pessoas transitarem. Será que a prefeitura não pode fazer este pedacinho? É triste ver aquela área assim, pois é perigoso”, frisa.

Transporte público e segurança

Durante o período em que as linhas de ônibus ainda eram limitadas, o calçamento não existia e encontrava-se bastante barro na localidade, a aposentada Tânia Maria Tusset Casagrande, 65 anos, mudou-se com sua família para o Progresso. Ela lembra que no início não tinha nada na região, comparado com os dias atuais. “Só havia dois horários de manhã e um no começo da tarde, o que dificultava o transporte. Além de possuir poucos espaços para lazer e comércio, sendo que agora tem vários mercados, posto de saúde, lojas, posto de gasolina, salão de beleza, barbearia, restaurantes, entre outros”, diz.

Para Tânia, seria interessante ter uma pracinha no Progresso II, que é a parte de baixo do bairro. Além de mais horários de ônibus, que desde a pandemia foram reduzidos. “O itinerário está muito espaçado, prejudicando os moradores da região”, afirma. Segundo a aposentada, a segurança é outro ponto que deveria melhorar. “Há muita gente que faz festa até de madrugada e liga o som a todo volume. Isso prejudica a qualidade de vida, pois aqui na região tem bastante crianças, gestantes e idosos, que precisam descansar. Quando chega o horário de silêncio, o certo é baixar o volume e escutar a música tranquilamente, mas não está sendo assim, é pior do que se tivesse baile no salão”, completa.

Recordações do passado

O cozinheiro aposentado, Laurindo Zanin, 80 anos, veio de Muçum, onde era soldado e carpinteiro, rumo à uma nova oportunidade em uma escola. “Eu estava no exército e consegui um emprego no Instituto Federal, aqui em Bento. Fiquei dois anos como auxiliar e depois assumi o cargo de chefe, onde permaneci por mais quatro. Me aposentei em 1996”, lembra.

Batalhador, conseguiu comprar seu terreno por 130 mil cruzeiros, moeda que circulava na época, e construir seu lar aos poucos. “Fiquei com o melhor e mais fácil de construir uma residência, os lotes ao lado tinham árvores frutíferas e banhados. Comprei uma casa de madeira que chegou pronta, feita por uma empresa da região. Depois construí o banheiro e fui erguendo o restante aos poucos, praticamente sozinho”, vislumbra.

O aposentado recorda o período em que fazia curso de dança com sua esposa, que faleceu há sete meses, no salão da Associação do Progresso II. “Contratei um rapaz para filmar e registrar toda a formatura, eram tempos bons, que hoje não existem mais”, fala.

O local, onde os moradores organizam festas e há jogos na quadra e no campo, passou por um momento difícil há alguns meses. “Alagou durante aquela chuva forte que fez no final de novembro, entrou muita água pela parte de trás do salão e parecia uma cachoeira. Depois disso, foi feita uma obra na área externa dos fundos, para desviar o fluxo em dias chuvosos e não ocorrer mais incidentes. Só falta colocarem uma grade de proteção no chão”, avisa.

Novo empreendimento

O jovem empreendedor, Emerson da Silva Sandre, 23 anos, é sócio-proprietário, RH, hair designer e educador de um estúdio no Progresso. Anteriormente, o espaço era localizado em outra região e era somente barbearia. “Agora conta com estacionamento, estrutura, estúdio de tatuagem, cozinha, ar condicionado, entre outras coisas que nos tornam completos”, afirma.

Junto aos sócios Arthur Bortolini Mesquita e Lucas Karlinski Moro, Emerson fez a escolha do novo ponto por ter mais espaço. “Aqui a gente pode transmitir e evoluir de um jeito que na sala antiga não tínhamos liberdade, também não havia estacionamento e o acesso ficava difícil. Então, na necessidade de mudança, acabamos encontrando essa sala no Progresso, que achamos linda”, recorda.

Conforme Emerson, o bairro onde estão localizados é perfeito para crescerem como empresa, necessitando de poucas melhorias. “É muito bonito, limpo e de fácil acesso. Faltaria apenas bancos, lotéricas e coisas do gênero, mas nada que seja muito necessário, aqui é excelente”, conclui.

Fotos: Cláudia Debona