Foram 503 amostras inscritas, por 74 vinícolas de sete estados brasileiros (Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo), além do Distrito Federal, num processo de meses, reunindo profissionais ligados ao setor vitivinícola, que revelaram os 30% de melhor pontuação, totalizando 157 amostras. Destas, 16 foram divulgadas ao público no último sábado, e degustadas por um público de 1.650 pessoas, entre participantes presenciais, que se reuniram no Parque de Eventos de Bento Gonçalves, e on-line, através do canal da Associação Brasileira de Enologia (ABE) no Youtube, nas mais diversas partes do Brasil.

Dos 16 vinhos selecionados, 15 foram de vinícolas gaúchas das cidades de Alto Feliz, Bento Gonçalves, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Pinto Bandeira e Santana do Livramento, e um de Brasília (DF). Única no mundo, a Avaliação mais uma vez fez história, reunindo pessoas de diferentes profissões e estilos, mas que têm em comum o gosto pelo vinho. Entre o público presente, formado por mais de 600 apreciadores, o mais distante veio de Fortaleza (CE), percorrendo 4.089 km para chegar em Bento Gonçalves. Já o kit que viajou mais longe foi enviado para Boa Vista (RR), que dista 5.154 km.

O Enólogo do Ano 2022, Bruno Motter, acredita que o espumante brasileiro já se consagrou. “A qualidade das borbulhas aqui produzidas é, sem dúvidas, umas das melhores do mundo. Os vinhos brasileiros estão cada dia mais concorrendo com qualidade e preço, comparado a produtos importados”, frisa.

Participante da Banca de Avaliadores Motter ousa dizer que o Brasil foi um dos países que mais aumentou sua qualidade nos últimos 10 anos. “O investimento em novos vinhedos e terroirs proporcionou um salto qualitativo enorme na elaboração de grandes vinhos. Hoje as vinícolas estão preparadas para vinificar com o que há de melhor no mercado mundial para vinificação”, comenta.

Quem se prepara para ocupar o posto na Avaliação em 2024 é Vanessa Stefani, eleita Enóloga do Ano 2023. Para ela, o vinho brasileiro já ocupa papel de destaque no cenário nacional e internacional. “As vinícolas têm investido em equipamentos e tecnologias, bem como na qualidade da uva. O resultado disso é o surgimento de novas regiões produtoras e, também, o destaque que os vinhos brasileiros têm recebido em concursos internacionais”, salienta.

Além disso, Vanessa afirma que o consumidor brasileiro está mais interessado no mundo do vinho. “Com a pandemia o consumo subiu para 2,4L/ano por pessoa, baixo ainda se comparado aos nossos vizinhos da Argentina e Uruguai, porém praticamente o dobro da década passada. O interesse também foi verificado pela grande procura por visitas em vinícolas e pela formação de grupos e confrarias, buscando por conhecimento e degustação de vinhos”, destaca.

Para o presidente da ABE, enólogo Ricardo Morari, o evento reverencia o trabalho de toda a cadeia produtiva da uva e do vinho, responsável pelos avanços significativos dos últimos anos, que têm posicionado o Brasil como um dos principais produtores mundiais. “A diversidade que só o Brasil possui tem nos levado à mesa de consumidores do mundo todo. Além de vermos novas regiões produtoras surgirem no país, acompanhamos projetos incríveis de alta qualidade em todas as partes. É lindo de ver o Brasil, tão diverso, avançando na cultura do vinho. A prova é a Safra 2023, que nos apresentou vinhos excelentes, com características próprias e um futuro sem volta: o reconhecimento aqui e lá fora”, comemora.

Comparação entre vinhos nacionais e importados é imprudente

“Quando entramos no assunto vinho, seja em um bate papo informal com consumidores, seja em um encontro com produtores, ou em degustações com os comerciantes, sempre surge o tema dos vinhos importados. Cada classe tem uma visão sobre o assunto. Uns  dizem que o produto entra de forma ilegal, burlando os trâmites legais de importação, e dessa forma competindo de forma desigual com a produção nacional. Outros consideram os vinhos importados de qualidade inferior. Alguns preferem o importado por fatores como preço ou qualidade. Mas há um ponto em comum: todos concordam que o vinho nacional evoluiu notavelmente nos últimos anos, tanto em qualidade quanto em inovação na apresentação, com layout moderno de rótulos, incremento de estilos, lançamento de novos varietais”, enfatiza o enólogo e ex-presidente da ABE, Luciano Vian.

Conforme ele, hoje já é possível classificar e identificar as diferentes categorias do vinho nacional. “As empresas sabem muito bem onde querem posicionar seus produtos, elaborando assim diferentes estilos de vinhos, uns mais simples, de menor custo, os denominados “vinhos de entrada”, ou produzindo vinhos de qualidade superior, os tidos como ‘linha premium” e “super premium”, produtos esses em que são selecionadas as melhores parcelas de uvas, fermentações com temperatura controlada, maturação em barricas de carvalho e outras técnicas enológicas que possibilitam obter vinhos com um diferencial superior de qualidade”, diz.

Vian frisa que, não raramente, ocorrem comentários comparativos entre o vinho importado e o nacional, porém, de categorias diferentes. “Assim sendo, não podemos simplesmente comparar um com o outro, pois se o fizermos, seremos, no mínimo, levianos e imprudentes. O mundo vitivinícola é vasto. Algumas regiões vitivinícolas mundiais possuem séculos de história, são responsáveis por elaborar belíssimos vinhos, com marcas reconhecidas mundialmente. Esse fato não pode ser negado ou ignorado, assim como a produção nacional de vinhos de qualidade, que vem crescendo a cada ano. Prova disso são as inúmeras premiações que nossos produtos vêm conquistando em concursos internacionais, sendo reconhecidos por experts do mundo todo”, salienta.

O  enólogo finaliza afirmando que “o Brasil, ao longo dessa última década, vem investindo fortemente em tecnologia nos vinhedos, implementando novas técnicas de manejo, identificando os melhores terroirs, adequando sua produção para um crescimento qualitativo da uvas, possibilitando assim que os enólogos, em suas vinícolas, exerçam seu conhecimento, aliado a novas tecnologias de produção, elaborem excelentes produtos, vinhos que representem e expressem a nossa vocação vitivinícola, vinhos que carreguem o DNA brasileiro, vinhos que são premiados e reconhecidos por consumidores e experts, vinhos que nos enchem de orgulho”.

Troféu Vitis 2023

Desde 1993, a ABE homenageia duas pessoas de comprovada atuação em prol do vinho brasileiro. A distinção acontece sempre durante a Avaliação Nacional de Vinhos. Este ano, o Troféu Vitis Enológico 2023 foi para o enólogo Adriano Miolo, também diretor superintendente da Miolo Wine Group, pela sua trajetória profissional dedicada à evolução do vinho brasileiro, influenciando todo o setor vitivinícola, além de conquistar uma posição de liderança setorial tanto no país, quanto no exterior. E o Troféu Vitis Amigo do Vinho Brasileiro 2023 ficou com o CEO da Inner Group, Christian Burgos, Publisher da Revista Adega e sócio da Pro Wine São Paulo.

As 16 mostras selecionadas

Categoria Vinho Base Espumante

  1. Chardonnay e Pinot Noir – Vinícola Geisse – Pinto Bandeira (RS)
  2. Pinot Noir – Moet Hennessy do Brasil – Garibaldi (RS)

Categoria Branco Fino Seco Não Aromático

  1. Alvarinho – Cooperativa Vinícola Garibaldi – Garibaldi (RS)
  2. Chardonnay – Cooperativa Vinícola São João – Farroupilha (RS)

Categoria Branco Fino Seco Aromático

  1. Moscato Giallo – Hortência Vinhos e Espumantes – Flores da Cunha (RS)
  2. Malvasia Aromática – Cooperativa Vinícola Aurora – Bento Gonçalves (SC)

Categoria Rosé Fino Seco

  1. Tannat – Casa Venturini Vinhos e Espumantes – Flores da Cunha (RS)

Categoria Tinto Fino Seco Jovem

  1. Merlot – Vinícola Salton – Bento Gonçalves (RS)
  2. Pinot Noir – Miolo Win Group – Bento Gonçalves (RS)

Categoria Tinto Fino Seco

  1. Marselan – Vinícola Gazzaro – Flores da Cunha (RS)
  2. Alicante Bouschet – Vinícola Salvattore – Flores da Cunha (RS)
  3. Cabernet Sauvignon – Vinícola Perini – Farroupilha (RS)
  4. Cabernet Franc – Vinícola Don Guerino – Alto Feliz (RS)
  5. Petit Syrah – Vinícola Brasília – Brasília (DF)
  6. Tannat – Vinícola Almadén – Santana do Livramento (RS)
  7. Tannat – Vinícola dos Plátanos – Farroupilha (RS)

Fotos: Jeferson Soldi – Reprodução