Nos últimos meses, a pacata Carlos Barbosa, tem sido palco de um fenômeno preocupante: o aumento expressivo de golpes, principalmente virtuais. Em uma cidade marcada pela tranquilidade, a boa-fé dos moradores e a familiaridade nas relações interpessoais, os criminosos têm encontrado terreno fértil para aplicar fraudes que causam não apenas prejuízo financeiro, mas também abalo psicológico.

A Prefeitura de Carlos Barbosa, por meio do Serviço Municipal de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), tem intensificado ações de conscientização. No dia 14 de março, no Centro Educacional Ivo Tramontina (CEIT), uma palestra sobre golpes virtuais reuniu especialistas do setor financeiro e Marcelo Ferrugem, delegado da cidade, com participação significativa de alunos do ensino médio. “Orientamos a comunidade, a não prestar nenhum tipo de informação por telefone, principalmente por pessoas que se passam por bancos, porque sabemos que nenhum banco liga. Sempre que há alguma dúvida, as pessoas devem nos procurar ou contatar a Polícia Civil, para que o estrago financeiro e mental seja evitado”, salienta Willian Ferrari, Coordenador Executivo do Procon de Carlos Barbosa.

Para Leônidas Augusto Costa Reis, secretário municipal de Segurança e Trânsito do município, o perfil pacífico da população pode ser justamente um dos motivos pelos quais tantos golpes fazem vítimas na cidade. “Temos uma comunidade de boa índole, não acostumada com violência. Isso, infelizmente, contribui para os casos, já que sempre foi uma cidade tranquila. A prefeitura procura trabalhar na prevenção. Já foi desenvolvida a primeira palestra no Centro de Convivência dos Idosos, que são as principais vítimas”, afirma. Ele acrescenta que ações de conscientização estão sendo levadas às escolas, na tentativa de envolver os jovens no processo de proteção familiar. “Uma iniciativa junto à Guarda Civil Municipal para que os jovens auxiliem seus pais nesses casos. Estão previstas mais palestras de alerta para este ano”, frisa.

Procon de Carlos Barbosa realizou palestra com o Delegado Ferrugem

A complexidade dos crimes, no entanto, vai além do simples alerta. Para o advogado César Gabardo, o crescimento dos crimes cibernéticos está diretamente ligado à sofisticação das técnicas utilizadas pelos criminosos. “Eles usam links maliciosos e mensagens com erros sutis. Para identificar os golpes é necessário analisar com muita cautela os links, e-mails e mensagens recebidas, portanto é de extrema importância verificar links/endereços que parecem estranhos ou que não foram solicitados. Muitos golpistas ao tentar aplicar o golpe, encaminham mensagens com erro de gramática e ortografia. Outra prática corriqueira é encaminhar mensagens com solicitações urgentes de informações pessoais ou financeiras. Dessa forma, é necessário estar sempre atento a estes detalhes”, ressalta.

Gabardo também destaca que, embora existam mecanismos legais, como a Lei Carolina Dieckmann para punir crimes cibernéticos, especialmente invasão de dispositivos informáticos e a divulgação indevida de dados pessoais, a anonimidade dos golpistas torna a responsabilização um desafio. Em caso de fraude, recomenda-se reunir todos os elementos do golpe, contatar imediatamente o banco, registrar boletim de ocorrência na Polícia Civil e notificar a plataforma digital usada na fraude, para que sejam tomadas as medidas cabíveis contra o uso indevido das contas.

Outro fator que contribui para a vulnerabilidade da população é o baixo índice de educação digital, especialmente entre os idosos. A professora de Direito da UCS, Giovana Cenci Zir, lembra que apenas 24% da população brasileira possui educação digital básica, segundo dados de 2023 da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). “O analfabetismo digital abrange a dificuldade no entendimento e na utilização das tecnologias digitais. Desde a falta de habilidade para realizar pesquisas online até a incapacidade de discernir informações confiáveis na internet. A maioria da população faz uso de vários recursos digitais diariamente e são (somos) analfabetos digitais. Isso abre margem para que a engenharia social — técnica que explora a confiança das vítimas — seja eficaz”, frisa.

Giovana Zir é professora da UCS

Ela explica mais a fundo o conceito de engenharia social. “É um método usado para enganar, manipular ou explorar a confiança das pessoas. É uma forma de ataque sem violência física que busca fazer com que a vítima realize voluntariamente ações prejudiciais a si mesma, como divulgar informações sensíveis ou transferir dinheiro para desconhecidos. O golpista pode nos ludibriar, levando-nos a abrir um anexo contendo um malware (software malicioso) que permitirá um primeiro acesso ao sistema. Também pode nos fazer clicar em um link malicioso, permitindo que ele invada um sistema”, pondera.

Segundo ela, os golpistas para convencer a vítima se utilizam do medo, falando que a conta bancária foi invadida ou que alguém efetuou uma compra num valor muito alto no cartão de crédito, e pedem para confirmar os dados. “O pior é que muitas vezes a ligação é feita pelo número da agência bancária, o que se presume verdadeira a ligação. Nesses casos, não forneça os dados e ligue para o número oficial do seu banco”, frisa Giovana.

Embora a legislação brasileira esteja se adaptando para combater os crimes digitais, ainda há muito a avançar, especialmente na identificação de criminosos. Para as autoridades locais, no entanto, o caminho mais rápido e efetivo segue sendo a prevenção.

Giovana reforça que é muito importante que haja programas de educação digital para as pessoas de todas as idades. “A falta de educação digital pode gerar dificuldades em utilizar ferramentas básicas, como e-mails e questões relacionadas à privacidade e segurança online”, conclui a docente.

Dicas para não cair em golpes

  • Solicitação de informações pessoais e financeiras, como número de cartão de crédito, senhas bancárias, por e-mail, telefone ou mensagem, é um alerta;
    •Tenha cuidado com e-mails, mensagens de texto, SMS, telefonemas ou mensagens em redes sociais de remetentes desconhecidos ou não solicitados. Os golpistas pedem para a vítima clicar em um certo link para evitar que o dinheiro saia da conta. Isso é um golpe de phishing muito comum: os criminosos conseguem seus dados e podem usá-los para outros golpes;
  • Contatar a pessoa pelo número original em caso de ligação suspeita de pessoa querendo se passar por conhecido;
  • Golpe dos nudes ocorre quando as pessoas conversam com desconhecidos através de redes sociais ou whatsapp, enviam e recebem fotos e depois são alvo de extorsão. Se algum desconhecido entrar em contato, desconfie, não informe dados pessoais, não envie fotos;
  • Para aumentar a segurança online, é indicado que as pessoas ativem a verificação de dois fatores em suas contas e utilizem senhas fortes e únicas para cada conta, não devendo criar senhas com nome de filhos ou datas de aniversário.