O delegado Ederson Bilhan, da 1ª Delegacia de Polícia de Bento Gonçalves, falou com a imprensa nesta sexta-feira, 13, sobre a investigação em torno da morte de um menino de um ano e sete meses, que é suspeito de ter sido vítima de maus-tratos. O caso, ocorrido na tarde de quinta-feira, 12, na cidade de Bento Gonçalves, tem chamado a atenção não apenas pela tragédia, mas também pela complexidade do contexto social envolvido.

Bilhan afirma que, de acordo com as percepções iniciais da investigação, o caso pode ser mais um reflexo de um grave problema social do que um caso puramente policial. “As percepções iniciais são de que se trata de um problema grave, muito mais social do que policial”, declara o delegado. Ele explica que somente a perícia poderá confirmar se a causa da morte realmente se deve a maus-tratos.

A investigação revelou que a mãe do menino e seus filhos eram residentes de Santa Catarina e haviam se mudado recentemente para Bento Gonçalves. “Ela residiu um tempo em Carlos Barbosa e atualmente as crianças ficavam na casa de uma tia aqui em Bento”, informou Bilhan. A casa onde a criança residia abrigava mais três irmãos, o cônjuge da tia e seis filhos daquele casal, totalizando 13 pessoas em um espaço limitado a dois quartos.

Bilhan destacou que, durante as diligências, a Polícia Civil não encontrou evidências de maus-tratos físicos nas outras crianças que indicassem violência direta. “Repito, maus-tratos sobre o ponto de vista de conduta ativa”, enfatiza o delegado. No entanto, ele não descarta a possibilidade de contextos de desnutrição ou omissão de cuidados.

Segundo o delegado, professores e diretoras das instituições de ensino frequentadas pelas crianças foram ouvidos, e, segundo as informações repassadas, não foram detectados sinais de lesões ou machucados. Bilhan expressa dúvidas sobre a causa exata da morte, afirmando que, apesar de existir a possibilidade de maus-tratos, poderia também ser resultado de negligência e falta de cuidado. “A criança que veio a óbito, tenho sérias dúvidas se ela realmente morreu em virtude de maus-tratos, ou seja, de agressão, de lesão”, disse ele. “Pode ter sido, sim, a causa da morte, alguma conduta omissiva, negligência e falta de cuidado. Mas isso só a perícia é quem vai dizer”, indica.

A mãe do menino relatou à Polícia que trabalha das 11h até a meia-noite e que uma de suas filhas cuida dos irmãos durante esse período. O menino falecido estava sob os cuidados de uma tia que também cuida de outras oito crianças durante o dia. Bilhan caracteriza o caso como complexo, ressaltando que, até o momento, não há evidências claras sobre a causa da morte, nem mesmo a possibilidade de morte não decorrente de ação humana foi descartada.

Segundo a autoridade policial, todas as perícias necessárias foram solicitadas e encaminhadas para os órgãos competentes, mas os laudos ainda não estão prontos. A Polícia Civil continua a investigação, ouvindo pessoas e intimando outras para buscar mais informações sobre o núcleo familiar e os vizinhos. “O caso é complexo, não temos evidência ainda cerca da causa da morte, né? Nem uma possibilidade descartada, inclusive morte não decorrente de ação humana”, concluiu Bilhan.

Relembre o Caso

O menino de um ano e sete meses faleceu em Bento Gonçalves na tarde de quinta-feira, 12. Informações preliminares indicam que a criança foi levada ao Pronto Atendimento no bairro São Roque, já sem vida. Após a constatação do óbito, os familiares foram encaminhados à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) para prestar esclarecimentos. O corpo da criança foi enviado ao Departamento Médico Legal (DML) para necropsia.

A investigação está sob responsabilidade da Polícia Civil, com o apoio da Brigada Militar, através do Policiamento Comunitário (POCOM), da Guarda Civil Municipal (GCM) e do Conselho Tutelar. As autoridades seguem trabalhando para apurar as circunstâncias da morte e identificar possíveis responsáveis pelo ocorrido.