Mulheres da região contam sobre o trabalho árduo das agricultoras e a importância do aumento das agrônomas no mercado
Hoje, 15 de outubro, é comemorado o Dia Internacional da Mulher Rural. A data significa um divisor de águas para um novo cenário que vem se descortinando nas expectativas das mulheres na agricultura. Além de fomentar a maior participação feminina na agroindústria e nas colônias, é necessário ouvir atentamente o que elas pensam sobre o futuro das suas profissões e incentivar mudanças na sociedade, como meio de se atribuir à mulher do campo a representatividade a que faz mérito.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares de Bento Gonçalves (STR-BG), Cedenir Postal, a presença das mulheres é muito importante para a agricultura, trabalhadoras que atuam, principalmente, na organização da residência e dos negócios. “São companheiras e estão lado a lado com seus maridos, muitas vezes são elas que tomam as decisões e fazem a administração em propriedades da região”, reconhece.
Na agricultura, muitas mulheres trabalham da mesma forma que os homens, podando e amarrando parreirais, na colheita, no raleio e poda do pêssego, realizando entregas e comandando as agroindústrias familiares. “Muitas são gerenciadas por jovens, que dirigem tratores e caminhões. Claro que ainda existe um número menor de trabalhadoras nesse setor, mas hoje em dia o preconceito é quase inexistente”, observa.
Segundo Postal, a agricultora deve ocupar os espaços que ela tem direito, optando por fazer o que mais lhe agrada. “Muitas vezes vemos os homens desempenhando os trabalhos mais pesados e que exigem mais força física e outros mais delicados são feitos por mulheres, como o cuidado com as hortaliças, as uvas de mesa e morangos. Mas isso não impede de um fazer a função do outro, as agricultoras são batalhadoras e conseguem realizar tudo o que lhes for proposto”, considera.
Os braços que erguem a enxada
Um exemplo de muito trabalho e dedicação na agricultura familiar é Terezinha Paese, 67 anos, que ama a natureza desde criança e dedica seus dias para a atividade árdua realizada na colônia. “Fiquei onde estou porque tudo o que planto me faz feliz, cuido com muito carinho. E cada ano que passa, vou tendo mais conhecimento sobre o valor do duro trabalho dos agricultores, que é pesado e difícil. Para isso, tem que gostar. Considero a mulher que atua na área uma guerreira, pois ela não desiste até conseguir completar seus objetivos”, conta.
Terezinha produz uva, pêssego, ameixa, bergamota e laranja para o sustento de sua família, em Pinto Bandeira. Ela ressalta que gostaria de ser mais reconhecida e destaca a importância de sua profissão. “Me orgulho porque o que produzo alimenta outras pessoas. Além disso, gostaria de que quem trabalha na agricultura fosse mais valorizado e tratado com respeito”, fala.
A produtora agrícola da Linha Palmeiro, em Pinto Bandeira, Lenir Fatima Mucelin Foresti, 55 anos, é outro exemplo de mulher batalhadora. Nasceu em Anta Gorda, onde seus pais trabalhavam com soja, milho e porco. “Fui criada sempre no meio rural, com o passar dos anos, me mudei para Farroupilha em busca de melhores condições de vida, pois éramos uma família muito humilde. Trabalhei como empregada doméstica, depois fui para a indústria. Nesse tempo, conheci meu marido e voltei a morar no interior, em Pinto Bandeira, pois ele também era agricultor”, conta.
Para ela, o trabalho é cansativo, mas gratificante. “Acordo cedo, preparo o café, acompanho meu marido na roça, onde cuidamos das nossas parreiras. Além disso, ajudo na vinícola, na produção de vinhos da família e cuido da casa. Basicamente participo de toda e qualquer atividade que aconteça aqui na nossa propriedade”, relata. A parte mais desafiadora que Lenir enfrenta como mulher rural é o cansaço e esforço constante. “Por mais que tenhamos maquinário, tratores e tudo que ajuda nas parreiras, ainda assim existe muito trabalho braçal”, ressalta.
Ela e o marido, Vanius Foresti, cuidam de seis hectares de vinhedos com 13 variedades diferentes. Grande parte delas vão para a indústria de suco, principalmente em algumas vinícolas da região. “Quando conheci meu companheiro, a família dele já produzia essa fruta. Quando vim morar aqui, começamos a plantar mais. Tentamos trabalhar com pêssego e caqui também, porém exigia muita mão de obra e, como éramos somente nós dois, decidimos por produzir somente uvas”, recorda.
O objetivo de Lenir sempre foi dar um futuro melhor para suas filhas Francine, Alana e Francisca, e é por elas que a agricultora trabalha e se dedica. “A nossa vinícola e o varejo, que inauguramos neste ano, é uma grande realização minha e do meu marido. Foi com isso que conseguimos dar mais incentivos às nossas filhas a continuarem com nosso trabalho, fico muito feliz que elas queiram seguir com a empresa. Sempre que precisamos, elas estão dispostas a ajudar, desde a cheira das uvas, plantio de novas parreiras, produção dos vinhos, atendimento de clientes e no cuidado com a casa”, valoriza.
O futuro do agro é feminino
A engenheira agrônoma, Andressa Comiotto, 41 anos, conta que quando era jovem queria estudar algo que fosse familiar. “Como sou filha de agricultores e morava no interior, conhecia o trabalho rural e optei pela Agronomia”, revela. Atualmente, ela é professora do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), Campus Bento Gonçalves, e leciona disciplinas relacionadas à agricultura. “Pesquiso temas referentes à fruticultura, como a cultura do pessegueiro. Ministro aulas práticas a campo de plantio, manejo utilizado para a produção de frutas, como a poda e tratamentos fitossanitários, para estudantes de ensino médio e superior. Além disso, oriento vários alunos agricultores da região em seus relatórios e Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), que atuam diretamente no campo”, salienta.
Andressa iniciou sua carreira há 16 anos, como profissional liberal, atuando diretamente na colônia com os agricultores. Ela menciona que o avanço das mulheres no meio rural é progressivo e irreversível. “Na maioria das vezes fui bem recebida, pois o mercado já tinha algumas mulheres atuando na área, poucas, mas o público já não estranhava tanto. As agrônomas se tornaram cada vez mais frequentes no campo nos últimos anos, embora o mercado ainda é predominantemente composto por homens”, ressalta. Ainda assim, existe o preconceito por uma pequena parte do público rural, mas em geral, não é tão agressivo a ponto de impedir a continuidade do trabalho. “Ele aparece na forma de comentários e burburinhos. É necessário persistência para continuar atuando, com a certeza de estar fazendo um bom trabalho e na área de atuação que gosta”, destaca.
No agronegócio, as mulheres cada vez mais conquistam espaço e destaque profissional. De acordo com a engenheira agrônoma, é possível afirmar que elas podem e devem atuar também neste setor. “Hoje são muitas que gerenciam as propriedades e executam o manejo com a mesma excelência de um homem”, afirma. A sensibilidade mais aguçada, em perceber toda a dinâmica do estabelecimento rural, ajuda as profissionais do gênero feminino a entender melhor todo contexto e auxiliar o agricultor com excelência.
Segundo Andressa, todos os gêneros são importantes e necessários na agroindústria, mas a professora realça a atuação de agrônomas, que cada vez mais estão entrando no mercado de trabalho. “Homens e mulheres têm características diferentes para a condução, e ambas habilidades são essenciais. A mulher se inseriu neste ramo e tem demonstrado sucesso. É necessário persistência para atuar numa profissão onde os fatores climáticos como sol, chuva e calor podem interferir, além de tolerância e paciência aos que ainda não aceitam ou não compreendem que a mulher chegou para ficar no agronegócio”, completa.
Fotos: Fernando K. Dias e Cláudia Debona