Rafael Geremia e Cassiano Tomazzini são os responsáveis pela iniciativa em homenagem a Ronaldo Garbin e outros que ajudaram nas enchentes do ano passado. Angel Lucena foi o encarregado pelos grafites
Um mural pintado recentemente na Rua Guilherme Fasolo, em Bento Gonçalves, vem parando pedestres e motoristas não apenas por sua beleza, mas pela forte carga emocional que carrega. A obra é assinada pelo artista Angel Lucena, radicado no município há cerca de seis anos, e presta uma homenagem comovente a Ronaldo Garbin e outros heróis das enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024.
A ideia nasceu do amigo de Garbin, Rafael Geremia, que, junto com Cassiano Tomazzini, articulou os apoios e buscou recursos para viabilizar o projeto. “Foi graças a essa união que conseguimos dar vida à obra”, conta o artista, reforçando que o espírito coletivo foi o mesmo que marcou os dias difíceis vividos pelos gaúchos durante a tragédia.
Um retrato da solidariedade gaúcha
No mural, o espectador encontra elementos potentes que remetem à força, coragem e solidariedade. A bandeira do Rio Grande do Sul, com suas cores e ondulações, toma conta do fundo da pintura, enquanto o retrato de Garbin aparece com os equipamentos que o caracterizavam nos resgates: capacete, cinto e cordas.“Esses elementos são símbolos da proteção física, da prontidão”, explica o artista.
Um dos pontos mais emocionantes da obra, no entanto, é a imagem de Jesus Cristo acolhendo uma criança, um símbolo de esperança e fé que tocou profundamente quem foi atingido pela tragédia. “Sei que muitos cristãos vão se identificar com essa cena, assim como todos os gaúchos vão se ver na bandeira. A arte urbana tem esse poder: fala com todos”, ressalta.
A homenagem estava sendo feita em silêncio, sem envolver diretamente a família de Ronaldo, para que fosse uma surpresa. No entanto, o destino tratou de dar um toque ainda mais comovente à história. “A noiva dele passou por acaso na frente do muro pouco antes de finalizarmos e reconheceu o rosto dele na pintura. Foi um momento forte”, relembra.
Compromisso e superação
A execução da obra levou nove dias, dois a mais do que o previsto, e enfrentou desafios técnicos e emocionais. “Estava muito frio e a parede era bastante úmida. Mas o compromisso era maior do que qualquer dificuldade. Foi uma honra fazer essa homenagem”, afirma o artista, que enxerga uma conexão pessoal com Ronaldo. “A sensação foi de compromisso e de honra. O que temos em comum é essa disposição de servir ao próximo”, frisa.
Uma mensagem que permanece
Segundo Lucena, a arte é um meio pelo qual é possível conectar e transmitir várias mensagens, atingindo diversos públicos: “Quem é gaúcho também vai se identificar, sobretudo os que de uma ou de outra forma foram afetados pelas enchentes”, afirma.
Mais do que um painel artístico, o mural se tornou um ponto de memória. “Espero que quem passe por ali lembre que, na união, está a força. Foi assim que muitos foram resgatados e que, mesmo na dor, encontraram esperança”, finaliza.