O 5º Simpósio Internacional de Escultores conta com a obra “Guardiã”, do escultor bento-gonçalvense Mauri Menegotto. Além disso, outros países como Peru, Hungria, Costa Rica, Letônia, Turquia, Japão, Chile e Georgia vão expor suas esculturas no Parque Domadores de Pedra
Está ocorrendo, em Bento Gonçalves, o 5º Simpósio Internacional de Escultores, no Hotel Dall’Onder. O evento tem como objetivo evidenciar o trabalho de dez escultores de todo o mundo. Esta edição vai até a próxima terça-feira, 31 de janeiro, e posteriormente as obras serão expostas no Parque Internacional de Esculturas Domadores de Pedra, localizado no Caminhos de Pedra.
O único escultor brasileiro participante, Mauri Menegotto, é bento-gonçalvense e participa do simpósio pela primeira vez como convidado. Essa tem sido uma experiência diferente e inovadora para sua carreira. “Já participei de quatro edições como ajudante. Muda um pouco a responsabilidade, né? Eu fazia o que o escultor mandava, agora eu que tenho que decidir o que vou fazer”, conta.
O objetivo de Menegotto é ter uma obra monumental no parque, localizado em Bento Gonçalves. O nome da escultura que está produzindo é ‘Guardiã’. “Minha obra tem três conceitos básicos: o primeiro é o monumentalismo, porque é difícil alguém que passe despercebido por uma cabeça enorme dessa. O segundo conceito é o olho além do globo ocular, que significa a visão maior de um vigilante, de um guardião, que é o nome dela. E por fim, estou colocando ‘gavetas’ de cada lado e uma embaixo, que significa o segredo dos saberes de cada pessoa, cada uma tem lá no fundo a sua sabedoria, aquilo que só ela compreende”, relata.
Sobre as técnicas utilizadas para esculpir, o artista garante que são as tradicionais. “É desbaste. Corta, quebra e tira o excesso. Depois começa o polimento, que é com lixa diamantada, inicia com a lixa 50 e vai para 100, 200, 400, 800 e estou passando até 1.500 no rosto dela. A técnica maior não é como antigamente, agora tem outras ferramentas, por isso que dá pra fazer um simpósio em dias, modernizou para podermos trabalhar aqui em menos tempo e com mais agilidade”, explica.
A respeito da convivência com escultores de outros países, Menegotto destaca que é uma experiência formidável. “São coisas diferentes que a gente vai aprendendo, detalhes sobre como trabalhar. Às vezes uma ‘ferramentazinha’ diferente já muda nosso processo de construção da obra. O pessoal da Rússia, por exemplo, é muito concentrado. Os da Georgia têm uma outra técnica de corte, sem se preocupar muito com o maquinário”, descreve.
De auxiliar a escultor, o artista relembra os primeiros passos de sua carreira, quando não tinha coragem de mostrar suas obras. “Antes eu fazia e escondia, era meio tímido. Aí vi que quem tem um sonho pode fazer acontecer, basta querer. Estou atrás da minha identidade”, afirma.
Artistas de calibre internacional
O uruguaio Mario Cladera está atuando como auxiliar curador do evento, e destaca, a respeito dos artistas que vieram do exterior pra cá, a felicidade de estarem participando desse simpósio no Brasil. “Primeiro porque a organização está muito bem realizada. A Fundação Tarcísio Michelon tem a preocupação até nos mínimos detalhes e foi adquirindo uma experiência que levou a esse resultado. Desta vez, a curadoria reuniu dez artistas de calibre internacional muito bons, que todos têm grande trajetória e são pessoas reconhecidas não só nos seus países, mas no circuito de cultura internacional”, salienta.
O evento tem a curadoria do turco Kemal Tufan e os escultores confirmados desta edição vêm de diversos países. Aldo Shiroma Uza é do Peru; Tamas Baraz, da Hungria; Gemma Domingues Guerra, da Costa Rica; Paul’s Jaunsems, da Letônia; Bahadır Çolak, da Turquia; Yoshin Ogata e Baku Inoue, ambos do Japão; Mauricio Guajardo, do Chile; Jhon Gogaberishvili, da Georgia e Mauri Menegotto, do Brasil. De acordo com Cladera, em um evento como esse, os artistas recebem convite do curador e não se faz um chamado público.
Cladera realça que é um momento ímpar para o Brasil e demais países participantes. Além disso, ele frisa as técnicas utilizadas pelos artistas. “A escultura de pedra contemporânea usa vários maquinários, mas ainda utiliza ferramentas manuais. São usadas esmerilhadeiras e furadeiras, mas também o pincel, a talhadeira e a marreta para quebrar a pedra. Temos combinação do que tem de mais novo na tecnologia, além das técnicas que vêm de cinco mil anos atrás”, sublinha.
A pedra que está sendo utilizada é o basalto, extraído em uma pedreira da região, além de blocos do granito marrom-guaíba, vindos de Cachoeira do Sul, que sobraram do simpósio anterior. “As pedras pesam cerca de sete ou oito toneladas, algumas vão chegar a ter cinco metros de altura. São obras de grande porte”, esclarece.
Conforme Cladera, os artistas estão trabalhando felizes por saberem que as esculturas vão ajudar em uma escola de música infanto-juvenil. “Todas as atividades que acontecem no parque, que é privado, serão revertidas para manutenção dessa organização patrocinada pelo Instituto Tarcísio Michelon”, destaca.
Outro fato elucidado pelo artista uruguaio é que todos os auxiliares de escultores que estão no simpósio também são artistas locais e estão tendo a oportunidade de aprender com os mais experientes. “Vão desenvolver as técnicas, eles já não serão mais os mesmos depois do dia 31. Já saem com conhecimento e uma capacidade bem maior. Estamos fazendo uma escola”, ressalta.
II Domadores de Pedras do Sul
Junto ao 5º Simpósio Internacional de Escultores, no mesmo local, está acontecendo o II Domadores de Pedras do Sul, que reúne três artistas gaúchos. Além de auxiliar no evento maior, Cladera é o curador responsável do simpósio local. Para ele, é uma forma de integrar a produção regional com outros países. “Eles fazem pedras de tamanho um pouco menor, mas que também vamos pro Parque Internacional de Escultura”, garante.
No caso do evento do Sul, o uruguaio, que já vive no Rio Grande do Sul há 40 anos, procura não apenas artistas que vão dar uma resposta à altura do que deve ser feito, mas que, de alguma forma, vão aproveitar o evento internacional nas suas vidas profissionais. “Isso é importante não só pela carreira de cada um deles, mas sim pelo que pode trazer para a sua produção cultural e especificamente para escultores do estado”, acredita.
Pelo carinho que tem com o RS, o curador se preocupa que tudo que seja feito fique no estado para desenvolver a cultura local. As pedras utilizadas são as mesmas do simpósio internacional. “É feita com o mesmo basalto, mas o evento tem dez dias de duração, as pedras são um pouco menores, pesam de 200 a 500 quilos e ficam entre 1 metro e 1,5 metro de altura”, finaliza.
Comunicação através da arte
O evento é uma realização do Instituto Tarcísio Michelon e Parque Internacional de Esculturas Domadores de Pedra, que conta com a direção e coordenação de Ângela Martins. Para ela, a experiência é incrível, um momento de união. “A cada dia a gente percebe que as pessoas começam a se comunicar cada vez mais através da arte, da expressão, porque tem gente de vários países”, analisa.
Ela acrescenta que chamaria o simpósio de um encontro de comunicação, de arte, de cultura do turismo, da comunidade. “Porque as pessoas passam a se interessar por um produto que, na verdade, já foi usado no início da imigração para fazer a própria casa, a estrada, os paralelepípedos”, conclui.