Segundo o fiscal Jorge Acco essa é a segunda denúncia recebida pela associação em pouco mais de um ano; caso semelhante verificado em janeiro de 2019, segue sendo investigado pela Polícia Civil
Como que em um déjà vu, cerca de um ano após encaminhar uma denúncia à Polícia Civil pela mortandade de centenas de peixes no Lago Fasolo, a Associação de Proteção aos Animais e Meio Ambiente (Arpa) mais uma vez foi acionada pelos moradores do bairro Progresso para verificar a existência de novos animais encontrados mortos. De acordo com o fiscal da Arpa, Jorge Acco, que inspecionou o local, dezenas de jundiás, cascudos e lambaris foram encontrados boiando na segunda-feira, 16. Na terça-feira, em uma nova verificação, o número era ainda maior.
Segundo ele, assim como ocorreu em janeiro de 2019, a suspeita é de que as mortes estejam relacionadas ao lançamento de efluentes de esgoto sem tratamento. “Conforme a água do lago vai baixando com a estiagem e o esgoto, que é lançado de quatro ou cinco pontos, vai sendo depositado no lago, a qualidade da água fica cada vez pior. Falta oxigênio e isso causa a mortandade dos animais. A tendência é de que morram ainda mais peixes se nada for feito”, adverte.
Para o secretário municipal do Meio Ambiente, Claudiomiro Laurindo Dias, que acompanhou a fiscalização no lago, na terça-feira, 17, a morte dos peixes estaria relacionada às altas temperaturas e não ao esgoto. Ele afirmou, ainda, que segundo acordo feito entre a prefeitura, a empresa responsável pelo lago e a Companhia Rio-Grandense de Saneamento (Corsan), após audiência no Ministério Público, em 2013, a estatal de saneamento ficou responsável pelo prosseguimento da ligação de esgoto, enquanto o município assumiu a fiscalização do local.
Uma história que se arrasta
Até então pertencente a uma olaria, o terreno onde fica o Lago Fasolo foi adquirido pelo Curtume Fasolo na década de 1940, para captar a água usada na manufatura do couro. Uma vez desativada a indústria, o local passou a receber, por décadas, o esgoto de bairros vizinhos. Após iniciativas de gestões anteriores — tais como o desvio de uma tubulação em 2004, a licitação para instalação de caixas coletoras, em 2009, e um projeto de criação de um parque público, em 2011 —, em 2014 ficou acertado, de acordo com publicação no site da prefeitura Bento Gonçalves, que o governo municipal seria responsável por finalizar a limpeza das águas, com a retirada das marrequinhas (algas) que cobriam a superfície do lago, e a Corsan se faria a canalização do esgoto.
Se em 2014, durante vistoria da limpeza, o prefeito Guilherme Pasin chegou a acenar com a possibilidade de revitalizar o espaço para servir como ambiente de lazer do bairro Progresso, em 2020, a situação segue longe do ideal. O inquérito, aberto na 1ª Delegacia de Polícia para apurar os crimes ambientais elencados em 2019 segue em andamento aguardando resultados da análise do Instituto Geral de Perícias (IGP-RS). Enquanto isso, diante da nova situação verificada nesta semana, a Arpa pretende acionar a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para novo levantamento técnico. Já a possibilidade de transformar o lago em um parque público foi descartada pela prefeitura, por se tratar de uma área privada.