Clacir Rasador
“O Governo e o povo brasileiros desejam a cooperação da iniciativa estrangeira no desenvolvimento econômico de País, mas preferem reservar à iniciativa nacional o campo de petróleo, sabido que a tendência monopolística internacional dessa indústria é de molde a criar focos de atrito entre os povos e entre governo. Fiel, pois, ao espírito nacionalista da vigente legislação do petróleo, será essa empresa genuinamente brasileira, com capital e administração nacionais”. Com estas palavras, no longínquo 06 de dezembro de 1951, o então presidente Getúlio Vargas justificava o projeto de lei de criação da Petróleo Brasileiro S.A. – PETROBRAS.
Não há dúvidas de que o teor de tal justificativa nos remete a uma única conclusão, atender à indústria nacional, atender, primeiramente, à nação brasileira, afinal, já dizia a propaganda da época: “O PETRÓLEO É NOSSO!!!”.
Mas, de lá para cá, o mundo deu muitas voltas, não é mesmo?
A modernidade, as novas estratégias do mercado, a globalização – não nos esqueçamos do maior roubo da história, o PETROLÃO – enfim, tudo concorre e concorreu para que o espírito nacionalista ficasse somente no espírito mesmo.
Com o preço dos combustíveis nas alturas, afloram estrategistas e estratégias acerca do que havia de ter sido feito para não chegarmos ao ponto de o produto petróleo cobrar mais caro do próprio “dono”!?!.
Resumindo, temos, mas não podemos, porque vendemos…parece sem nexo, mas é isso mesmo.
Assim, hoje o mundo está à mercê de parar e, quem diria, correndo atrás do indigesto combustível fóssil, sim, o petróleo, ao arrepio dos ambientalistas.
A propósito, sobre os filhos da mesma mãe Terra, PETRÓLEO e ÁGUA, sendo recursos naturais não renováveis, me pergunto: O que seria de nós se, a PETROBRAS fosse a AGUAGRAS, e diante deste mesmo cenário de pós-pandemia e guerra, se somasse ainda a falta de recursos hídricos numa proporção mundial e durante um período de tempo jamais visto?
Tendo aos pés o maior reservatório de água do planeta, o AQUÍFERO GUARANI, teríamos nós os brasileiros que passar sede diante da escassez mundial de água, se assim vigorasse as mesmas leis de mercado e legislação de proteção às Estatais tal qual temos hoje em relação a PETROBRAS?
O que seria justo? A liberdade da lei de mercado, a legislação vigente a época ou a necessidade de uma lei especial, nacionalista sim e contra o abuso dos preços?
Retratado no livro Justiça: o que é fazer a coisa certa?, de Michel J. Sandel, tal dilema foi enfrentado pelos Estados Unidos em 2004, com o furacão Charley, em que os preços em plena catástrofe, dada a escassez, fizeram a água mais que quintuplicar de preço.
Enfim, se, depois da tempestade, vem a bonança, há de se dizer que há muitos interessa a escuridão, por quanto que o sol está a brilhar somente para seus interesses, pois se beneficiam deste cenário mundial, sejam eles decorrentes de fatores internos e/ou externos.
Não se trata de pregar o apocalipse ou pré-roteiro para a saga de um novo filme de Mad Max, contudo, é prudente evoluir sem perder a essência da sua história.
E assim, inegavelmente diante de um mundo doente e sem energia, mesmo pelo aprendizado da dor, quiçá venham as autoridades competentes não somente remediar, mas operar uma NOVA POLÍTICA DE ESTADO e NÃO DE GOVERNO frente a “jóia da coroa”…quem sabe possamos acordar desse pesadelo e voltar a sonhar novamente que o PETRÓLEO É NOSSO!
Vamos em frente!