Apesar disso, entidades ligadas ao comércio, lojistas e empresários apontam que danos causados pelo fechamento de quatro semanas, ainda que imensuráveis, indicam dificuldades de retomada
Passadas quatro semanas, o modelo de cogestão regional é retomado no Rio Grande do Sul. Com isso, municípios podem aplicar regras mais brandas, mesmo que o estado tenha permanecido, pela quarta semana consecutiva, em altíssimo risco de contágio da Covid-19. Estabelecimentos como salões de beleza, academias, restaurantes e comércio estão reabertos, desde segunda-feira, 22.
Durante esses 21 dias, um dos setores que mais sofreu foi o comércio. O presidente do Sindilojas Regional Bento e vice-presidente da Fecomércio-RS, Daniel Amadio, afirma que levará um tempo até que tudo volte ao normal. “São muitas incertezas e mudanças que geram insegurança, tanto por parte do lojista quanto do comerciário e consumidor. A queda na renda familiar, a cadeia econômica enfraquecida, o próprio isolamento social, o desemprego, entre outros fatores, interferem diretamente neste cenário”, sublinha. Para ele, os prejuízos somente serão recobrados quando toda a população estiver imunizada.
A proprietária de uma loja de roupa íntima, Meriene Balssanello, aponta que estão liquidando as peças de verão para, de alguma forma, superar o prejuízo. “Foi bem complicado. Pelo tipo de mercadoria que comercializamos é difícil fazer a venda online. Nosso faturamento caiu 95% neste mês. O que vendo em um dia na loja física, vendi em duas semanas”, observa.
A instabilidade das determinações impede qualquer tipo de planejamento. Marcos Carbone, presidente da CDL-BG
Em março de 2020, todas as atividades de atendimento ao público também foram suspensas por 11 dias. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Marcos Carbone, menciona que ainda não é possível quantificar o prejuízo em valores, mas as perdas são grandes. “Houve fechamento de estabelecimentos, que deixaram de existir; outros tantos demitiram colaboradores e todos, sem exceção, sofreram os abalos morais dessa sequência de medidas restritivas impostas, de forma excessiva e arbitrária, pelo governo do estado”, lamenta.
Carbone ressalta que a reabertura vem acompanhada de um sentimento de incerteza. “A instabilidade das determinações, que se alteram semana sim e outra não, impede qualquer tipo de planejamento por parte dos lojistas, piorando uma situação que já é difícil. Somado ao contexto nacional, este cenário vai retardar a recuperação do comércio. Hoje, a luta é pelo direito de manter as portas abertas. Na sequência, virá outro desafio: trabalhar para reverter as perdas acumuladas”, sustenta.
Atividade física como essencial
Com 51 votos favoráveis, foi aprovado o Projeto de Lei 144/2020, da deputada Fran Somensi, que reconhece a prática da atividade física em estabelecimentos e espaços públicos, como essencial para a população gaúcha. O PL foi adotado em 16 de março, mas tramitava na Assembleia Legislativa desde junho.
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Quem comemora a conquista é o sócio proprietário de uma academia no loteamento Bertolini, Alexsander Macagnan. “Hoje está comprovado cientificamente que exercícios são importantes para o bem-estar e saúde”, afirma.
Ele conta que desde o início da pandemia, tomam os cuidados de higienização. “Já tínhamos o costume de higienizar os aparelhos, com a chegada o vírus o hábito se intensificou. Todos os alunos têm a consciência dos cuidados a serem tomados”, pontua.
O que o preocupa são as inadimplências e o custo físico e de pessoal. São nove profissionais disponíveis para atender os alunos nas duas unidades — a outra está localizada no bairro Glória.
Novas regras para serviços de higiene
Segundo o governador Eduardo Leite, que alterou alguns protocolos da bandeira vermelha, as prefeituras podem adotar restrições mais severas, mas não menos rigorosas durante a cogestão. Nisso inclui que cabelereiro, barbearia e estética podem voltar a atender, mas com o máximo de uma pessoa a cada 8m².
Simone Nichetti, proprietária de um salão de beleza, afirma que apesar de toda circunstância, não perde a fé. “Ficar parada novamente veio em minha mente uma dúvida que a maioria dos cabeleireiros tem: ‘como não podemos atender, se estamos tomando todos os cuidados necessários? Como iremos nos manter e honrar nossos compromissos?’ Porém, foram dias também de reflexão. Não podemos perder nossas esperanças. Acredito que a pandemia nos mostra que somos todos iguais. Nossa fragilidade e incertezas nos faz refletir: de que adianta ter condições financeiras se nem mesmo com muito não se salva os seus?”, indaga.
Restaurantes buscam alternativa
Uma das saídas para driblar o fechamento dos estabelecimentos foi a venda por pegue e leve, como é o caso de um restaurante da região central da cidade. O sócio proprietário César Valandro conta que o objetivo é não deixar de atender o cliente. “A experiência foi um tanto angustiante. Ninguém se sustenta só com isso, fazíamos uma quantidade muito inferior”, reitera.
O aumento no preço dos insumos foi outro fator preocupante. “O prejuízo não será retomado, o alimento que foi perdido durante o tempo de parada, não volta. Porém, temos uma expectativa de melhora em abril”, acredita Valandro.