Produção: Nathielly Paz.
Reportagem: Cassiano Battisti
Em um cenário político predominantemente masculino, a eleição de Letícia Bonassina (PL), como única vereadora de Bento Gonçalves marca um momento importante para a política local.
Sua trajetória se destaca, com experiências no ramo imobiliário, ao lado de seu pai, e na Assembleia Legislativa, no gabinete da deputada Fran Somensi. Estas vivências fortaleceram seu desejo de integração na política.
Mais do que isso, a experiência de ser mãe mudou ainda mais o seu olhar sobre o mundo. “Minha trajetória nem sempre foi fácil. Estava com a vida encaminhada, na faculdade, quando uma gravidez não programada chegou de forma surpreendente e desafiadora. O Lorenzo e o Vicenzo vieram ao mundo trazendo um novo propósito à minha vida. Desde que soube da minha gravidez, me perguntei incessantemente o que poderia fazer para deixar um mundo melhor para eles Foi assim que nasceu o projeto ‘Por Mais Empatia’. No início, nossa missão era ajudar famílias, crianças e animais. Com o tempo, percebi que o município carecia de políticas públicas adequadas para os animais, e decidimos focar nessa causa tão negligenciada. É imensamente gratificante poder fazer a diferença na vida dessas pessoas e animais que, muitas vezes, são esquecidos”, comenta.
Sobre a conquista, Letícia se diz grata pela votação. “Estou muito feliz por termos conseguido eleger uma vereadora mulher após 12 anos sem representação feminina. Esta conquista é um passo significativo para a representatividade no nosso município. Sinto, no entanto, a falta de uma colega ao meu lado e espero que a população valorize ainda mais a presença feminina, especialmente considerando que somos mais de 54% do eleitorado. É fundamental que tenhamos mais mulheres em cargos de liderança, pois isso reflete as necessidades e perspectivas de toda a comunidade. Desejo ver um aumento no engajamento das mulheres na política e mais candidaturas, pois o futuro do nosso município se beneficiará imensamente com mais vozes femininas”, afirma.
Sobre projetos pensados exclusivamente para mulheres, ela pontua que já possui uma ideia. “Gostaria de implementar um projeto de empoderamento econômico para mulheres. A proposta inclui a criação de oficinas de capacitação que ensinem habilidades práticas, como empreendedorismo e finanças pessoais. Além disso, planejo estabelecer uma rede de microcrédito para apoiar iniciativas locais, promovendo a autonomia financeira e fortalecendo nossa comunidade ao incentivar o empreendedorismo feminino. Para complementar, um programa de mentoria com mulheres de sucesso será fundamental para inspirar e guiar novas empreendedoras. Estamos sempre abertas a ideias e sugestões, porque acreditamos que, juntas, podemos crescer e conquistar ainda mais”, frisa.
Visão de uma ex-vereadora
Neilene Lunelli, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Bento Gonçalves (Sindiserp-BG) e última vereadora eleita em Bento Gonçalves, há 12 anos, reforça a importância da representatividade feminina, mas alerta para os obstáculos do machismo estrutural. Ela menciona que a sociedade ainda reserva às mulheres um papel limitado e que frases como “isso não é coisa para mulher” continuam sendo ouvidas em diversos setores, inclusive na política. “Mulheres enfrentam preconceitos e estereótipos que questionam sua capacidade de liderança e decisão. Como vereadora, enfrentei muitas barreiras para defender as causas das mulheres, tendo que me destacar para ser reconhecida. Mesmo com avanços rumo à igualdade de gênero, muitas mulheres sentem que precisam se esforçar mais para serem valorizadas como os homens. Além disso, a violência e o assédio desestimulam a participação feminina na vida política”, evidencia a ex-parlamentar.
Sobre a representação feminina no Legislativo, Neilene diz que “é muito importante, pois além de trazer equidade, traz um olhar diferenciado. Mas não basta apenas ser mulher, é preciso que ela esteja atuando na defesa dos interesses da coletividade, mesmo que as vezes tenham que contrariar interesses das chamadas ‘forças ocultas’ da cidade”, destaca.
Neilene dá um conselho para a nova representante feminina da Câmara. “É essencial formar uma rede de apoio, estender a mão a outras mulheres, buscar qualificação sempre e não se intimidar com comportamentos misóginos. E lembrar que quando somos eleitas, estamos servindo ao povo independente de quem nos elegeu”, finaliza.