Quando uma massa de ar frio chega, baixando a temperatura debaixo dos lençóis, é hora de tomar algumas providências para esquentar a relação. Mas se o gelo formado por anos de rotina e estresse for muito sólido, exigem-se novas posturas – não obrigatoriamente as do kama Sutra – senão as coisas acabam degringolando de vez.
Era esse o papo cabeça que levava um grupo de amigos ao redor de uma mesa, às gargalhadas. Por identificação, ou não.
Enquanto o pessoal mais velho ria, da ala jovem, veio o prognóstico desses casamentos e alternativas para apimentar a relação. De acordo com a sabedoria contemporânea, a falta de motivação sexual podia ser resolvida com criatividade. Uma das formas de reacender o fogo, mesmo que a chama estivesse quase apagada, era colocar bons gravetos ou tocos secos e assoprar muito, que a brasa escondida nas cinzas, ressurgiria que nem a Fênix.
Todos os olhares caíram sobre uma das figuras presentes, o folclórico Toco, que acolheu a piada com seu habitual bom-humor. Antes que ele pudesse rebater com outra piada, a geração mais nova acrescentou:
– Geralmente dá certo, mas…
– Mas??? – o povo queria saber o que se escondia atrás daquela conjunção adversativa.
Para ilustrar, o jovem contou um evento ocorrido na intimidade de um casal muito próximo, cujas filhas pequenas obviamente interferiam na regularidade do intercurso. Mesmo assim, a abstinência não passava de uma semana. Mas para apimentar a relação, a mulher resolveu, numa certa noite, sensualizar, aproveitando inclusive a folga que as meninas lhes estavam dando.
Afinal, se a Tiazinha explodiu como símbolo sexual (em 1998), mexendo com o imaginário masculino e virando mania brasileira, ela também tinha dotes para deixar o marido em ponto de bala.
Então chegou o momento. Com longas botas pretas e meias arrastão que torneavam suas pernas, cinta-liga, que deixava alguma pele exposta, espartilho preto, que lhe afinava a cintura, máscara preta, que criava um ar de mistério, e chicotinho de couro preto, que prometia ação, ela adentrou no aposento. Magistralmente. Poderosamente. Voluptuosamente. Intensamente.
Já o marido, compenetrado na TV, assistia ao jornal das dez. Pego de surpresa e ainda sob o efeito do clima bélico das últimas notícias, ele perguntou de sopetão:
– Onde tu vai de Batman?