No dia 22 de maio foi comemorado o Dia do Apicultor. A data faz referência a Santa Rita de Cássia, conhecida como a padroeira dos apicultores. Quem se dedica a essa prática, cria abelhas por hobby ou para comercializar os produtos que são extraídos da colmeia, como mel, cera, própolis e geleia real.
Esse é o caso da família de Alzira Giacomoni, 75 anos, moradora da Linha 28 de Pinto Bandeira. Segundo ela, seus filhos se dedicam a apicultura há dez anos. Para consumo próprio, eles produzem mel e cera. “Eles não vão lá todos os dias, mas quando tiram o mel, já colocam sobre a caixa e deixam lá para a abelha. A gente diz que é um empregado que trabalha e não te cobra (risos). Elas estão trabalhando, a gente vai lá e tira o mel e não pagamos nada pra elas”, conta.
Polinização e tipos de mel
Segundo o extensionista da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Bento Gonçalves, Neiton Perufo, a respeito dos tipos de mel, na Serra Gaúcha eles são oriundos de florações vindas de eucaliptos e de citros. “O mel da nossa região provém principalmente das floradas de plantas cítricas, como laranja, e bergamota, especialmente, que é a época que as abelhas fazem o seu trabalho, na primavera, verão e início do outono”, aponta.
Conforme ele, as abelhas são responsáveis por cerca de 73% da polinização das espécies vegetais, ou seja, cerca de um terço das culturas agrícolas do Brasil. No mundo, em torno de 33% da produção agrícola é dependente da polinização.
Mortandade
No entanto, a situação é preocupante devido a mortandade do inseto. Segundo ele, entre os anos de 2018 e 2019 no Rio Grande do Sul, foram mortas 400 milhões de abelhas. “Sobre elas estarem sumindo, é um caso bem grave. A própria Organização das Nações Unidas (ONU) alertou a população sobre a possível falta de alimentos no futuro devido a importância que as abelhas tem na manutenção das espécies de plantas, na produção frutífera principalmente”, ressalta.
Projeto sobre uso correto de inseticidas
Conforme Perufo, um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2019 apontou que 60% das abelhas mortas foram contaminadas por princípios ativos encontrados em inseticidas comuns que os produtores utilizam ano a ano.
Devido a isso, a Emater de Bento Gonçalves, juntamente com a Prefeitura Municipal, por meio das secretarias de Desenvolvimento da Agricultura e do Turismo, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Sindicato Rural da Serra Gaúcha, Embrapa, Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e Inspetoria Veterinária, estará iniciando um projeto de educação e conscientização dos produtores familiares sobre a importância da preservação das abelhas. “Dentro dos próximos meses estaremos fazendo o lançamento dessa iniciativa, onde preparamos um material informativo-técnico sobre a importância da manutenção das espécies”, explica.
Intitulado “Preserve as abelhas”, a proposta é conscientizar também sobre o uso desordenado de inseticidas. “É um problema, anualmente quando o pessoal começa a fazer as aplicações agora no inverno e acabamos tendo os resultados lá no início da primavera, quando começa a ter mortalidade de enxames, mas que são muitas vezes afetados pelo uso de inseticidas. Muitas vezes os produtores acabam utilizando de forma errônea ou não tem cuidado quanto aos manejos em geral da aplicação. Isso acaba muitas vezes liquidando uma diversidade de enxames. Uma série de cuidados que a gente quer alertar o produtor para evitar mais mortalidades”, enfatiza.
Produtores em Bento Gonçalves
De acordo com o extensionista, o município é um local propício para a apicultura. “Temos disponibilidade de floração, condição, terreno, clima, temos conhecimento, então não teria nenhum empecilho maior a não ser questão externa, como a mortalidade que ocorre por uma série de questões, principalmente pelo uso desordenado de inseticidas e pelo desmatamento que influencia na depreciação e mortalidade dos enxames”, elucida.
No entanto, a falta de agricultores que se dedicam à atividade em Bento Gonçalves estaria relacionada a parte técnica. “Quanto a questão de dedicação exclusiva, o produtor geralmente não tem esse viés na propriedade para trabalhar com mel, com enxames. Normalmente a apicultura é uma atividade complementar de renda ou mesmo como hobby”, salienta.
Sobre a venda do mel e seus derivados, conforme Perufo, qualquer pessoa pode produzir e comercializar, desde que tenha um estabelecimento registrado diante dos órgãos legais. “Deve-se ter toda uma estrutura específica, que vai servir para o processamento e extração do mel, embalagem e comercialização desse produto”, indica.
Ainda segundo Perufo, vários produtores já demonstraram o interesse em iniciar o registro, porém não deram continuidade. “Seria outra oportunidade que teríamos aqui no município, de mais uma agroindústria nessa atividade e com certeza também teriam consumidores adeptos no consumo do mel, que além de ser de ótima qualidade, é terapêutico e medicinal”, finaliza.
Comercialização
Conforme o fiscal estadual agropecuário da Inspetoria Veterinária de Bento Gonçalves, Willian Augusto Smiderle, em Bento, Monte Belo do Sul, Santa Tereza e Pinto Bandeira, 230 produtores rurais declararam possuir algum tipo de criação de abelhas, porém nenhuma empresa ou agroindústria que receba o mel para envase e processamento é registrada.
Smiderle explica que os produtores de mel devem realizar a entrega em um espaço de recebimento devidamente inscrito no serviço de inspeção, chamado Entreposto ou Casa do Mel. “Este local deve ter registro junto ao órgão de fiscalização, apresentando os documentos necessários. O espaço deverá passar por vistoria e aprovação, estando adequado às normas técnicas para este tipo de estabelecimento”, elucida.
Ainda segundo ele, a fiscalização da prática ocorre nos estabelecimentos de comércio, no transporte ou na própria propriedade rural que produz o produto de forma irregular. “Se for constatada a produção e comercialização de produto sem inspeção, ele será apreendido e inutilizado. Já o produtor ou comerciante será autuado por infração à legislação sanitária”, aponta.
Os riscos de consumir um mel e seus derivados sem saber a procedência estão relacionados à intoxicação alimentar. “O produto sem fiscalização não dá garantias de que foi produzido, envazado ou armazenado de forma adequada, com as devidas práticas de higiene, por exemplo”, explica.
Com relação ao trabalho da Inspetoria Veterinária junto aos agricultores, o fiscal determina que as ações vão desde a orientação ao acompanhamento. “Os produtores são orientados dos procedimentos obrigatórios, tanto na produção de mel, como na criação das colmeias, que devem ser cadastradas na inspetoria, bem como sobre o transporte de abelhas, que deve ser sempre acompanhado de Guia de Trânsito Animal. Além de orientar, também atendemos casos de notificações de mortalidade, para verificar se a causa pode estar relacionada com alguma doença ou contaminação”, explana.
Por fim, Smiderle lembra que está próximo o período de declaração anual de todos os rebanhos, iniciando em 1° de junho, sendo que os produtores de abelhas ou mel devem também comparecer na Inspetoria para realizar a declaração obrigatória desta e das demais espécies.