O medicamento Mounjaro (tirzepatida) foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento da obesidade. A aprovação foi publicada no Diário Oficial no dia 9 de junho.
De acordo com o médico endocrinologista do Tacchini Saúde, Alexandre Paggi, o Mounjaro é um remédio indicado para pessoas com diabetes tipo 2 ou com sobrepeso e obesidade. “O medicamento é prescrito especialmente quando outras formas de tratamento, como dieta e atividade física, não foram suficientes. O perfil ideal inclui pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30, ou acima de 27 se houver problemas de saúde associados, como hipertensão ou colesterol alto”, explica o médico.
A tirzepatida age no controle da taxa de açúcar no sangue e do peso dos pacientes. De acordo com a fabricante, ela é a primeira medicação disponível e aprovada capaz de atuar nos receptores dos dois hormônios que agem no controle do apetite. A aprovação da Anvisa permite que ele seja indicado para a obesidade, desde que a doença esteja relacionada a pelo menos uma comorbidade.

Quem pode utilizar?
Ao contrário do que muitos pensam, o Mounjaro não é uma solução universal para quem busca emagrecer. “Antes de prescrever o fármaco, avaliamos se o paciente já tentou mudar o estilo de vida, com foco em alimentação equilibrada e atividade física regular”, explica o médico. Ele ressalta que “o medicamento não substitui esses hábitos – ele é um aliado quando as mudanças sozinhas não deram o resultado esperado no controle do peso ou do diabetes”, enfatiza Paggi.
O uso do Mounjaro vai além da simples prescrição;,exige um acompanhamento médico e nutricional rigoroso. É fundamental que o paciente seja acompanhado por profissionais de saúde para garantir o uso adequado e a otimização dos resultados. “Um ponto essencial é que o uso do medicamento deve estar integrado a um plano de cuidados, e isso inclui o acompanhamento com nutricionista, que ajuda a criar uma dieta saudável, personalizada e sustentável, além de orientar o paciente a lidar com os efeitos do remédio e manter os resultados no longo prazo”, aponta. Esse suporte multidisciplinar é crucial para o sucesso e a segurança do tratamento.
A prática de exercícios físicos regulares se mantém como um pilar fundamental na jornada de perda de peso, e isso não muda com a utilização do Mounjaro. “Também reforçamos a importância da atividade física como parte do tratamento”, afirma. Ele explica que exercícios regulares mesmo caminhadas, alongamentos ou atividades leves “ajudam no controle do peso, melhoram o metabolismo, a disposição e o bem-estar geral”, diz. É crucial, no entanto, que a prática seja orientada conforme a condição de saúde de cada pessoa, garantindo que os exercícios sejam seguros e eficazes para cada paciente.
Quem não pode?
A segurança na utilização do remédio é primordial e, por isso, o endocrinologista alerta para a existência de contraindicações que reforçam a necessidade de uma avaliação médica detalhada antes da prescrição. “Além disso, o médico verifica o histórico de saúde, outros medicamentos em uso e se há situações que contraindicam o Mounjaro”, explica o especialista.
Entre as condições que impedem o uso do medicamento, destacam-se:
- Histórico pessoal ou familiar de um tipo raro de câncer de tireoide (carcinoma medular);
- Inflamação do pâncreas (pancreatite);
- Gravidez ou fase de amamentação;
- Problemas renais ou hepáticos graves.
O medicamento tem se destacado como uma ferramenta promissora no manejo do peso e no controle do diabetes. No entanto, é fundamental compreender que sua eficácia e segurança estão intrinsecamente ligadas a uma abordagem de saúde integral. “Em resumo, o Mounjaro é indicado dentro de um plano completo de cuidados, com orientações nutricionais, prática de atividade física e acompanhamento médico regular, sempre respeitando a individualidade de cada paciente”, explica Paggi.
Como é utilizado?
O medicamento é utilizado de forma injetável. “É aplicado por injeção subcutânea (na barriga ou na coxa), uma vez por semana. A aplicação é simples, feita com uma caneta parecida com as usadas para insulina, e o próprio paciente pode aplicar em casa após orientação. O paciente pode escolher um dia da semana que prefira e manter a regularidade”, salienta o Dr. Paggi.
Efeitos esperados
O Mounjaro age de forma multifacetada para auxiliar no controle do peso e do diabetes. “Ele ajuda o corpo a sentir menos fome, comer menos e usar melhor a insulina. Além disso, retarda o esvaziamento do estômago, o que ajuda a manter a saciedade por mais tempo. É comum o paciente sentir menos apetite, ficar satisfeito com menos comida e, em alguns casos, sentir náuseas leves no começo”, segundo o médico. Essa combinação de efeitos contribui para a redução da ingestão calórica e para um melhor manejo dos níveis de açúcar no sangue. Embora náuseas leves possam ocorrer no início, são geralmente temporárias.
Muitos pacientes que buscam medicamentos para auxiliar na perda de peso esperam resultados rápidos, mas a realidade do tratamento com Mounjaro é diferente. “Os pacientes costumam perder de 10% a 20% do peso corporal ao longo de vários meses. Os primeiros resultados geralmente aparecem nas primeiras 4 a 8 semanas, mas a perda mais significativa ocorre após 3 a 6 meses de uso contínuo”, destaca. Ele ressalta que a jornada é individualizada, pois os resultados variam de acordo com o organismo e a adesão ao plano de tratamento, reforçando a importância de um acompanhamento rigoroso e da manutenção dos hábitos saudáveis.
Tempo de utilização
A duração do tratamento com Mounjaro não é fixa, variando significativamente conforme os objetivos e a evolução de cada paciente. “O uso pode ser a longo prazo, especialmente se o objetivo for manter o peso e o controle do diabetes”, explica o médico. Ele compara a abordagem a outros medicamentos para condições crônicas, salientando que pode ser necessário uso contínuo, com ajustes conforme os resultados e a evolução clínica do paciente. Isso reforça a importância de um acompanhamento médico contínuo para adaptar o tratamento às necessidades individuais, visando resultados sustentáveis e a longo prazo.
A obesidade é um desafio de saúde complexo, frequentemente mal compreendido como uma simples questão de força de vontade. No entanto, a perspectiva médica moderna a define como uma condição crônica e multifatorial, que demanda uma abordagem de tratamento contínuo e integrado. “O entendimento de que a obesidade é uma condição crônica e multifatorial, que exige tratamento a longo prazo e que, se não tratada, pode acarretar várias doenças, é essencial para o sucesso dos tratamentos”, salienta.
Efeitos colaterais
Como qualquer medicamento, o Mounjaro (tirzepatida) pode causar efeitos colaterais, que variam de pessoa para pessoa. É fundamental que o paciente esteja ciente dessas possibilidades e mantenha um acompanhamento médico regular para gerenciar qualquer sintoma. De acordo com Paggi, os mais comuns são:
- Náusea;
- Diarreia;
- Prisão de ventre;
- Dor de cabeça;
- Diminuição do apetite.
Com algumas adaptações simples na rotina alimentar e o suporte de profissionais de saúde, é possível minimizar esses desconfortos e garantir uma melhor adesão ao tratamento. “Eles geralmente diminuem com o tempo, especialmente se o paciente fracionar melhor as refeições e tiver orientação adequada”, salienta Paggi.
Embora os efeitos colaterais do Mounjaro sejam, em sua maioria, leves e passageiros, é crucial estar ciente das complicações mais sérias, ainda que raras. “Pode haver inflamação do pâncreas (pancreatite) ou problemas na vesícula biliar. Também há risco teórico de tumores de tireoide em estudos com animais. Por precaução, pessoas com histórico familiar desse tipo de câncer não devem usar o medicamento. Por isso, o acompanhamento médico regular é essencial”, enfatiza Paggi.
Por isso, é de extrema importância realizar acompanhamento adequado durante o tratamento. “É importante fazer consultas regulares, além de exames de sangue periódicos e específicos. Isso garante a eficácia e a segurança do tratamento”, de acordo com Paggi. O medicamento também pode interagir com outros medicamentos com isso, é preciso esclarecer tudo ao seu médico. “Pode interagir com outros remédios, especialmente os que afetam o açúcar no sangue. É muito importante informar ao médico todos os medicamentos em uso, inclusive fitoterápicos ou suplementos”, explica.
Diferenças Mounjaro, Ozempic e Saxenda
Todos são medicamentos injetáveis e vêm ganhando destaque no tratamento do diabetes tipo 2 e, mais recentemente, na perda de peso. Embora todos atuem no metabolismo e na saciedade, eles possuem diferenças importantes em seus princípios ativos, mecanismos de ação e indicações.
Porém, eles apresentam diferenças, de acordo com o médico. “Enquanto o Ozempic e o Saxenda agem imitando um hormônio chamado GLP-1, que regula o apetite e o açúcar no sangue, o Mounjaro age em dois hormônios: GLP-1 e GIP. Ambos são produzidos naturalmente em pequenas quantidades pelo nosso corpo, e a ação combinada tende a melhorar os resultados em muitas pessoas”, conclui Paggi.