O bairro Progresso, segundo os moradores, tem muitas vantagens, como fácil acesso ao Centro e um comércio bastante completo. Entretanto, a falta de compromisso em relação ao Lago Fasolo e os poucos horários de ônibus tem deixado a comunidade chateada.

A qualidade de vida no bairro Progresso é muito elogiada pelos residentes que estão ali há muitos anos e puderam ver, com seus próprios olhos, a evolução do bairro ocorrendo a partir do aumento de moradias e comércio na região. Além de que, a boa localização, permite fácil acesso ao centro. Entretanto, moradores cobram a respeito da revitalização do Lago Fasolo e pedem melhorias no transporte público.

Comércio familiar

O bairro conta com um comércio diversificado, como farmácias, mercados, bazar, lojas e bares, isso facilita para que os moradores não precisem se deslocar para outros locais. Muitos dos empreendimentos existem há, no mínimo, 20 anos, além de terem sido transferidos de pais para filhos.

Fernanda Gehlen é do administrativo de uma loja de materiais de construção. Após o pai falecer, o irmão Marcelo assumiu o estabelecimento. “Meu pai e meu tio começaram a empresa há 20 anos. Compraram do antigo proprietário e a loja se chamava Progresso. Entretanto, quando assumiram mudaram para Bom Sucesso que era como as pessoas se referiam ao bairro”, relembra Fernanda.

Victor Orlandin assumiu o bar do pai e gosta muito da localidade para se ter um comércio

Muitos residentes e comerciantes definem o Progresso como um local bom de se viver, justamente pelas pessoas que o habitam. “É tranquilo, quase todos os moradores se conhecem, ele lembra um bairro de cidade pequena onde se tem toda uma familiaridade com as pessoas. Sem falar que é pertinho de tudo, somos bem servidos em relação a bancos, porque tem próximo. Fica bem localizado, com mercados e lojas”, explica.

Victor Orlandin morou no bairro a vida toda, e seguiu com o comércio do pai que já era muito conhecido. “O bar iniciou em 1977 e o proprietário era o meu pai. Depois dele, passou para a minha mãe e atualmente está comigo. O local é excelente, porque tem muito movimento, a localização é boa e a freguesia também”, relata.

Para poder ver os filhos crescerem, Solange Damiani abriu sua própria loja

Já Solange Damiani decidiu iniciar o seu negócio, há 23 anos, quando viu que o comércio poderia ser uma possibilidade que lhe rendesse qualidade de vida. “Tinha crianças pequenas em casa e trabalhar fora ficava difícil. Todas as minhas irmãs administravam o próprio comércio e decidi abrir a minha loja. Comecei vendendo na rua, e depois abri aqui na minha casa mesmo. Até hoje dá certo, os clientes gostam muito”, salienta.

Fizeram do Progresso seu lar

Diversos residentes foram responsáveis pelo povoamento do bairro, já que muitos relatam que ao chegarem lá nem casas haviam. Muitos deles vieram do interior à procura de um bom lugar para se viver e gostaram do que encontraram, já que a maioria está há mais de 40 anos no local, na época em que o Progresso ainda era chamado de Bom Sucesso.

Ingrid Porto tem 27 anos, e o bairro foi onde passou a infância, a adolescência e agora a vida adulta. “Cheguei aos sete anos com a minha família. Neste ano, completou duas décadas que moro aqui. É muito tranquilo, o pessoal é acolhedor, nunca me estressei com ninguém. Os moradores gostam desse convívio de vizinhos,” rememora.

Além do mais, com o passar dos anos, foram notáveis as mudanças que ocorriam à sua volta. “Muitos prédios foram erguidos, estabelecimentos comerciais, foi um local que cresceu muito com o tempo. Ainda mais agora que tem farmácia, mercado, fica tudo de fácil acesso para o morador”, enumera.
Mas há algo que incomoda Ingrid e, muitas vezes, parte dos moradores. “Acredito que a higiene deixa a desejar, as ruas parecem meio sujas. Por exemplo, vizinhos que colocam os lixos perto dos postes ao invés de uma lixeira, tem que ter um cuidado a mais sobre isso e ele tem que vir das próprias pessoas que moram aqui”, sugere.

Lucilena Meiotti chegou ainda criança do interior e, junto com a família, se estabilizou pelo bairro. “Nunca pensei em ir embora, amo aqui, é tudo de bom. Primeiro porque ele é muito bem localizado, perto de tudo e dá para ir até os locais a pé. E segundo porque ele é completo, tem farmácia, mercado, posto de saúde”, frisa.

O que ela nota que precisa melhorar, seria a segurança, já que muitas vezes acaba tendo receio de ir em alguns espaços. “Sinto falta aqui no bairro de um pouco mais de segurança, principalmente na praça. Porque ela é muito bonita, mas às vezes dá medo, por não ter um guarda. É claro que isso não é só aqui, mas em todos os lugares, o mundo anda mais violento e perigoso, segurança é fundamental”, salienta.

Maria Lúcia Salvagni chegou ao bairro quando mal haviam propriedades por lá. “Casei aos 21 anos e desde então moramos aqui. Quando chegamos tinham três casas nessa rua, e ali para baixo praticamente nenhuma, só tinha poeira. Mas não pretendemos ir embora, vamos morrer aqui, porque o bairro é bom”, expõe.

Maria Lúcia e Sérgio Salvagni muitas vezes precisam gastar com táxi, já que o transporte público tem poucos horários


Há cinco décadas, vinha com o pouco que tinha para construir o seu lar. “Trouxemos a madeira que tínhamos da outra casa e durante a semana fizeram o espaço que era do tamanho de um quarto, e foi nela que criamos nossos filhos e trabalhamos. Quando meu marido se aposentou, aos 50 anos, é que aumentamos o espaço”, relembra.

“O transporte público mudou após a pandemia”

Apesar do Progresso não ficar tão afastado do Centro, alguns moradores, principalmente os mais idosos e com comorbidades, necessitam utilizar o transporte público para afazeres do dia a dia. Mas relatam que, após a pandemia de covid, onde todas as empresas tiveram suas frotas reduzidas, os horários não voltaram a ser como que eram. Leonice Bavaresco é uma das pessoas que sofrem por este problema. “Antes da pandemia tínhamos vários horários, quando ia domingo de manhã para a missa tinha até demais. E durante a onda da doença, diminuíram. Agora que acabou, eles não voltaram. E quando vemos os ônibus que passam por nós, estão abarrotados de gente. Os horários que eles mantêm são só os de pico, mas e quem precisa sair em outros? É muito difícil para a gente que é mais velho e depende do transporte público”, cobra.

Maria Lúcia Salvagni tem quase 80 anos, e para ela tem sido cada vez mais difícil se locomover a partir dos ônibus, e acaba tendo que gastar com outros meios para não sobrecarregar as pernas. “Utilizo o transporte público para ir ao Centro, é perto, mas as pernas não ajudam, pegamos ele ali na pracinha, mas depois para voltar nunca tem ônibus. E aí acabamos tendo que pegar táxi, porque não é sempre que temos condições de andar. E é caro para manter a volta ou a ida de táxi toda vez que saímos, mas o que vamos fazer se falta transporte público?”, questiona.

Lago Fasolo, eterna promessa

Placas e mais placas estão coladas no muro de arame que separa o Lago Fasolo da rua do Progresso. Todas elas pedem justiça ambiental pelo lago que dá o que falar há anos. Em 1930, a propriedade fazia parte de uma Olaria e na década de 40 foi adquirida pela família Fasolo, que utilizava a água para a manufatura do couro. Entretanto, faz muitos anos que a indústria foi desativada. Desde então, os moradores pedem por melhorias, principalmente da água que tem ali, que até hoje em dia, serve como esgoto.

Leonice Frata, mora há 40 anos no bairro e conta que antigamente o cheiro do lago era muito pior

Leonice Frata relata que quando se mudou, há alguns anos para o bairro, a situação era bem pior. “Quando cheguei, o cheiro era insuportável, a ponto de não poder manter as portas e as janelas de casa abertas”, e complementa, “Era importante que fossem tomadas providências em relação ao lago, prometeram a revitalização e nós ficamos sonhando com ela”, lamenta.


E ela pensa em todo o potencial que a área poderia ter, se tivesse os devidos cuidados. “Seria um local onde poderíamos caminhar, se exercitar. Já vi em muitas cidades este tipo de lugar”, ressalta.

Lucilena Meiotti acredita ser uma perda não cuidar do local para o aproveitamento da comunidade. “É um espaço que já está ali, então se fosse investido para cuidarem dele, ia ficar muito bom. Seria uma área de lazer importante. Mas o trabalho é grande, parece que tem esgoto que cai ali, então teria que descontaminar a água e o solo”, prevê.

Ingrid Porto, desde criança, vê o lago muitas das vezes sujo e sem ser utilizado. Ela sonha com o dia que poderá entrar ali para aproveitar o espaço. “É necessário fazer algo em relação ao lago, é desde sempre isso. Há 20 anos discutem este assunto e acredito que deveriam, pelo menos, ter um cuidado maior, porque é do nosso bairro, é algo que todo mundo que passa acaba olhando. Principalmente em questão de limpeza, mantê-lo limpo é um trabalho necessário”, finaliza.