Especialista analisa cenário e vê diferentes causas dentro da categoria, mas diz que deposição de Temer seria um problema

Embora a principal agenda da paralisação dos caminhoneiros seja a redução e congelamento do preço do diesel, muitos deles se manifestam em favor de uma intervenção militar. Por outro lado, a complexidade de demandas e inclinações políticas que compõe o movimento torna qualquer leitura difusa. Essa é a opinião de um cientista político ouvido pelo Semanário.
Uma manifestação em frente ao 6º Batalhão de Comunicações (6º BCOM), em Bento Gonçalves, reuniu dezenas de pessoas pedindo intervenção militar, no domingo, 27. Em contrapartida, o comandante do Exército Brasileiro, general Eduardo Villas Bôas, postou em seu Twitter que “há uma perfeita integração das Forças Armadas com os órgãos de segurança pública e agências governamentais de todos os níveis”. Ou seja, em outras palavras, ele nega qualquer possibilidade de intervenção militar.
Na opinião do cientista político e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), João Ignacio Pires Lucas, assim como nos movimentos anteriores, tem sido difícil fazer uma avaliação mais precisa sobre a mobilização. “A própria dispersão existente do movimento, que tem várias associações, várias formas de organização. É uma categoria bastante plural, do ponto de vista político”, comenta.
Lucas entende que muitas dúvidas pairam sobre o caráter de organização dos caminhoneiros, como o que querem e quem está por trás do movimento. “É difícil de responder, cientificamente falando. O que se pode observar é que tem diferentes visões dentro da categoria”, analisa.
Na sua avaliação, a esmagadora maioria dos manifestantes quer a saída do presidente Michel Temer, além de ter um grupo que reinvidica somente a questão da redução do preço combustíveis e pedágios. “A bandeira política da intervenção militar, que é um eufemismo para ditadura, não me parece consensual. Não são todos que defendem isso, embora seja uma parte barulhenta”, avalia.

Cenários com a possível deposição

O cientista político não vê como positivo qualquer cenário de afastamento do presidente Michel Temer, que esteja dentro da Constituição. Segundo ele, uma eventual renúncia ou deposição resultaria em eleições indiretas. “Isso provavelmente manteria a mesma política econômica atual, porque o governo tem a maior base no Congresso. A Petrobras continuaria igual”, prevê.
Ainda de acordo com análise de Lucas, muitos segmentos políticos estão aproveitando o momento para se manifestar pela saída do governo, eleições diretas e mudanças na questão econômica. “A política é uma dimensão abrangente da vida, uma vez que envolve formas de organizar a sociedade. O pedido de intervenção é uma proposta política, ainda que seja inconstitucional. O perfil desses grupos parte geralmente de uma matriz ideologicamente conservadora, inclusive porque não possuem nenhuma identificação com o partidarismo”, comenta.

 

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