Conheça sua trajetória de vida pessoal e profissional em entrevista ao Paradoxo

Por Nathielly Paz e Cassiano Battisti

Alvaro Manzoni, músico, produtor de eventos e secretário de Turismo de Monte Belo do Sul, carrega em sua trajetória uma rica combinação de tradição, cultura e empreendedorismo. Em entrevista ao podcast “Paradoxo”, ele detalha como suas raízes, tanto familiares quanto culturais, impulsionam seu caminho na música e na gestão de grandes eventos. Mais do que isso, revela como seu trabalho tem sido fundamental para transformar o turismo na pequena cidade de Monte Belo do Sul em uma importante fonte de renda e desenvolvimento para a região.

As raízes da música italiana

Para entender o sucesso de Alvaro Manzoni no cenário musical e cultural, é necessário voltar às suas origens. Nascido em uma família com forte tradição musical e cultural, Manzoni relembra com carinho o ambiente em que cresceu. “O sonho do meu pai era que continuasse trabalhando com vinho, minha formação até é em enologia. Mas a música sempre esteve presente na minha vida, desde muito cedo”, conta. Filho de uma pianista e de um pai que apreciava tanto a tradição italiana quanto a gaúcha, ele cresceu cercado pela música.

A influência familiar, no entanto, não se restringiu apenas ao incentivo. “Minha mãe fazia aulas de piano com as irmãs no colégio Sagrada Família, e meu pai era um grande apreciador da música gaúcha. Ele organizava as festas de abertura da Vindima, e cresci vendo isso”, relembra. Manzoni destaca o papel das tradições italianas, transmitidas pelos seus antepassados. “O gosto pela música italiana veio muito por conta da família Barbieri, que trazia fitas cassete da Itália para a gente ouvir. Naquela época, era difícil fazer música italiana por aqui”, conta.

Este interesse pelas raízes italianas se refletiu diretamente na formação do grupo Ragazzi Dei Monti, fundado por Manzoni e sua irmã Mara. “Nós começamos a cantar muito cedo, na igreja. Aos 15 anos, já estávamos nos apresentando profissionalmente”, revela. O grupo, que nasceu com o intuito de manter viva a música italiana na região, logo se tornou uma referência no cenário cultural. “Não imaginávamos que, depois de 30 anos, ainda estaríamos fazendo música italiana e que teríamos alcançado tanto sucesso”, afirma.

O surgimento do Ragazzi Dei Monti

A banda: Alvaro Manzoni, Leandro José Rodrigues dos Santos, Mara Eluiza Manzoni Uliana, Jair Graebin, Arialdo Girardi Eitelven e Juliano Navarini

Manzoni explica que o início da banda foi marcado por dificuldades, principalmente pelo pouco espaço que a música italiana tinha na região. “Era complicado. Não havia muitos lugares que aceitassem esse tipo de música, mas o amor pela tradição nos manteve firmes”, recorda. Ele também menciona um nome importante na trajetória do grupo: Jovino Nolasco de Souza, ex-secretário de Turismo de Bento Gonçalves, que foi um dos grandes incentivadores do Ragazzi. “O Jovino foi quem nos incentivou a participar da Fenavinho, e isso deu um grande impulso para a nossa carreira. Ele nos ofereceu 12 shows na Fenavinho e, a partir daí, não paramos mais”, conta.

O nome do grupo, segundo Manzoni, foi ideia de sua irmã Mara. “Foram cogitados vários nomes, mas Ragazzi Dei Monti foi a escolha dela, e acabou sendo aprovado por todos. Hoje, após mais de 30 anos, o grupo continua a atrair públicos em toda a região e até fora dela”, celebra.

Ao longo das décadas, o Ragazzi Dei Monti passou por diversas transformações, mas sempre manteve suas raízes na música italiana. O grupo realizou turnês pelo Brasil e até mesmo pela Itália, gravando DVDs em locais históricos. “Fizemos 12 shows em cidades da região do Vêneto, na Itália. Foi uma experiência inesquecível”, lembra com orgulho.

A transição para produtor de eventos

Além de sua carreira na música, Manzoni encontrou outra paixão: a produção de eventos. Ao longo dos anos, ele se tornou um dos principais nomes à frente de grandes festivais e celebrações culturais em Monte Belo do Sul e região. “Com o advento das leis de incentivo à cultura, comecei a me interessar por organizar projetos e eventos. O Polentaço, por exemplo, é uma criação minha”, revela.

O Polentaço é um dos eventos mais emblemáticos de Monte Belo do Sul, atraindo milhares de pessoas todos os anos. Criado para celebrar a tradição italiana da polenta, o festival também ajuda a movimentar a economia local. “No início, recebemos algumas críticas. Muita gente não acreditava que um evento focado na polenta poderia dar certo, mas hoje é um dos maiores da região”, destaca.
Ele também ressalta a importância de festas como o Polentaço para manter vivas as tradições e a cultura local. “Eventos como esse são investimentos, não gastos. Eles ajudam a promover a cultura, atraem turistas e fortalecem a economia local. Temos que entender que a cultura pode ser uma poderosa ferramenta de desenvolvimento”, defende.

Turismo como motor de desenvolvimento

Nos últimos anos, Manzoni tem se dedicado à tarefa de transformar o turismo em Monte Belo do Sul. Como secretário de Turismo, ele lidera diversas iniciativas que buscam não apenas atrair visitantes, mas também envolver a comunidade local no processo de desenvolvimento. “O turismo é uma das principais fontes de renda do município. Nosso trabalho é incentivar os empreendedores locais a investir no setor e a criar experiências únicas para os turistas”, explica.

Além de sua trajetória musical, Alvaro Manzoni é peça-chave na promoção de eventos que revitalizam a economia de Monte Belo do Sul, como o famoso Polentaço

Manzoni reconhece que a gestão do turismo nem sempre foi fácil. “Na minha primeira gestão, não tivemos tanto sucesso porque o poder público tentava dizer o que deveria ser feito. Hoje, aprendemos que são os empreendedores locais que precisam ser os protagonistas”, reflete. Ele menciona que, atualmente, Monte Belo do Sul tem quase 60 empreendimentos turísticos, muitos deles geridos por jovens que retornaram à cidade após estudar fora. “A juventude está percebendo o potencial do turismo, e isso é fundamental para o futuro da nossa cidade”, comemora.

O sucesso de Monte Belo do Sul como destino turístico é reconhecido além das fronteiras da cidade. Manzoni tem sido convidado para palestrar em diversas regiões do Brasil, compartilhando sua experiência na gestão do turismo e da cultura. “É gratificante ver que o nosso trabalho serve de inspiração para outras cidades. Recentemente, fui convidado a falar em Muçum e Vespasiano Corrêa, que estão enfrentando grandes desafios devido às enchentes. Estamos todos no mesmo barco”, comenta.

Desafios recentes

Nos últimos meses, a região de Monte Belo do Sul e outras cidades próximas foram severamente atingidas por enchentes e deslizamentos, o que trouxe desafios extras para a gestão de eventos e turismo. “A tragédia foi devastadora. Muitas estradas e vinícolas foram destruídas, e os empreendedores estão desanimados, mas não podemos perder a esperança”, afirma Manzoni.

Para ele, a realização de eventos será fundamental para a retomada da economia local. “Os eventos podem trazer o produtor de volta à praça, incentivar o turismo e gerar renda. Temos que ser resilientes e acreditar que dias melhores virão”, diz. Ele destaca que, apesar das dificuldades, Monte Belo do Sul está se recuperando aos poucos, com o apoio tanto do poder público quanto da iniciativa privada.

A pandemia de Covid-19 foi outro momento crítico na trajetória de Manzoni e do Ragazzi Dei Monti. Com a suspensão dos shows e a incerteza do retorno das atividades, o grupo encontrou novas maneiras de se conectar com o público. “A pandemia zerou nossa agenda de shows, mas fizemos lives para manter o grupo ativo. Realizamos eventos religiosos on-line e aproveitamos para evangelizar através da música”, explica.

Manzoni também destaca a importância das leis de incentivo à cultura para manter a banda em atividade durante os meses mais difíceis. “Graças a essas leis e a projetos digitais, conseguimos passar pela pandemia sem desistir da música”, conta.

Planos para o futuro

Quando questionado sobre o futuro, Manzoni mantém uma visão clara de seus objetivos. “Nos próximos anos, quero me dedicar ainda mais à produção de eventos e à promoção da cultura. Tenho dois empreendimentos nessa área, e meu sonho é levar oficinas culturais para as escolas da região, ensinando sobre turismo e cultura desde cedo”, revela.

Apesar de seu envolvimento com o setor público, ele não tem certeza se continuará como secretário de Turismo nos próximos anos. “Ainda não sei se continuarei no poder público. Tenho deixado de lado meus projetos pessoais, e talvez seja hora de me concentrar neles. Mas, independentemente disso, sempre estarei envolvido com a cultura e o turismo de Monte Belo do Sul”, conclui.

Monte Belo do Sul

Para Manzoni, o município não é apenas um lugar onde vive e trabalha. É sua terra natal, seu lar e sua fonte de inspiração. “Monte Belo do Sul é um pequeno paraíso. É onde nasci, onde tenho minha família e meus negócios. É uma cidade com uma cultura forte, um turismo que cresce a cada dia e um lugar onde me sinto bem”, finaliza.
Com uma trajetória marcada pela paixão, pela cultura e pelo desenvolvimento de sua cidade, Alvaro Manzoni segue sendo um dos grandes nomes da cultura italiana e do turismo na Serra Gaúcha, deixando um legado que transcende gerações.