Comui e grupos de convivência defendem a legislação e promovem a qualidade de vida dos idosos no município
O dia 1 outubro já faz parte do calendário de comemorações de Bento Gonçalves. Este ano, porém, além de marcar o início do Mês do Idoso, a data ganha proporções maiores, afinal consolida os 15 anos da criação do Estatuto do Idoso
Criado pela Lei 10.741, no dia 1º de outubro de 2003, quando o Brasil contava com 15 milhões de idosos, o estatuto promoveu princípios inéditos de proteção integral e de prioridade absoluta às pessoas com mais de 60 anos, além de regulamentar direitos específicos para essa parcela do povo. De acordo com estudos do IBGE, Entre 2012 e 2017, seguindo uma tendência internacional de maior longevidade somada à uma taxa de natalidade mais baixa, a quantidade de idosos cresceu em todo o Brasil, sendo que o Rio Grande do Sul, junto ao Rio de Janeiro, é o estado com a maior proporção de habitantes com essa faixa etária: 18,6%. Dado que apenas confirma a importância da consolidação das leis de proteção e incentivo aos idosos, bem como seu constante aprimoramento.
Embora o Estatuto seja considerado um modelo para os países vizinhos, especialistas ponderam que ainda há dificuldades para implementá-lo em totalidade, devido a estrutura ínfima dos chamados Conselhos de Direitos de Pessoas Idosas. Apenas 200 dos mais de 4,4 mil munícipios brasileiros contam com conselhos municipais que trabalham na articulação e fiscalização das políticas públicas que dizem direito aos idosos. Bento Gonçalves é um deles.
Com pouco mais de um ano da criação do Conselho Municipal do Idoso (Comui), os números comprovam a importância de seu trabalho. Até agosto deste ano, já haviam sido registrados 68 casos envolvendo violência contra o idoso, seja ela de ordem física ou psicológica. Quase metade das vítimas (44%) tem entre 71 e 80 anos.
Apesar disso, para a presidente do Lar do Ancião de Bento Gonçalves, Lourdes de Souza, ainda falta um maior interesse do poder público com as entidades que auxiliam na proteção e no bem estar da terceira idade. “Esta época de campanhas políticas deixa tudo muito evidente”. Há promessas de toda natureza, mas não escuto um candidato se quer falar de propostas direcionadas aos idosos”, comenta.
Quanto ao trabalho do Comui, Lourdes acredita que um dos principais méritos está na arrecadação de recursos por meio de projetos para as entidades e doações de empresas.
Direito à vida
Muito além de proteger o idoso por meio da fiscalização de denúncias de agressão, o Estatuto traz, em seu texto, 118 artigos que promovem garantias que vão desde a previdência e assistência social, até a habitação, transporte gratuito, custeio de remédios, profissionalização do trabalho. Mas, talvez, dado o aumento da expectativa de vida, os temas tocantes ao lazer recebem cuidado diferenciado.
Com trabalho coordenado pela Secretaria de Habitação e Assistência Social (SEMHAS), Bento Gonçalves conta atualmente com 24 grupos de convivência em diversos bairros do Município, atendendo cerca de mil idosos. Entre as atividades desenvolvidas, a coordenadora do Departamento de Políticas para Idosos, professora Andréia Antonini, destaca as aulas de ginástica, práticas esportivas, passeios e palestras voltadas à saúde. “Eu procuro levar a alegria para eles (os idosos). Eles já tiveram sua vida, suas agruras e preocupações. Agora é preciso que tenham esse momento para sair de casa, para compartilhar bons momentos, sorrir e se divertir. Afinal é disso eu se trata a vida”, comenta.
Para ela, a vitalidade dos idosos passa também pela inserção deles nesses programas que os incentivam a se mover e manter uma vida social saudável. “Hoje, o idoso não fica mais sozinho em casa. Ele busca uma atividade, tenta se inserir em algum grupo, manter a vida social, e isso faz com que eles se mantenham ativos, e isso faz com que ela tenha maior autonomia e viva melhor”, explica.
Além dos trabalhos desenvolvidos com a Secretaria de Habitação e Assistência Social (SEMHAS), também se destacam os esforços desenvolvidos nas casas de acolhimento, como o Lar do Ancião. Para além dos cuidados com a nutrição, saúde e acompanhamento, a entidade trabalha para proporcionar uma vida leve e repleta de atividades para cada um dos seus 58 atuais residentes.
Mais do que cuidados estéticos, contato com animais e visitações de escolas e voluntariados, a entidade desenvolve inúmeras atividades internas com música, dança, jogos, cuidados estéticos, contato com animais, tricô, entre outros. “O que o Estatuto prega é a diversão, a qualidade de vida, esportes, passeios. A gente procura oferecer isso aos idosos. Hoje, por exemplo, a gente havia organizado um passeio, infelizmente o tempo não colaborou. A gente procura oferecer isso aos nossos idosos, uma qualidade de vida até melhor do que a que é previsto em lei”, lamenta Lourdes.
Neusa Ramos, 80, foi uma das moradoras que fez coro à lamentação. Conta que seu passatempo favorito é sair “para dar umas voltas”, além de conversar com a amiga, Maria Josefina, 91, de quem é companheira inseparável.
Já para Claudino Periolo, 86, o passeio não faz tanta falta. Vencedor do bingo daquela tarde, traz no bolso os bombons, prêmios ganhados com o jogo, que vai distribuir para os amigos mais próximos. Conta que apesar de ter muita saúde, as pernas não ajudam, “os ossos são fracos”. Então prefere os jogos de mesa. “É mais fácil, é só pegar um grãozinho e colocar no número, e pronto”, conta.