Considerada tradicional em Bento Gonçalves, a Feira Livre do Produtor Rural existe desde 1997. É nela que quase 60 agricultores garantem uma renda e onde os clientes, em sua maioria já consolidados, encontram produtos frescos e de qualidade. Entretanto, devido a pandemia do coronavírus, a feira ficou suspensa por um mês, gerando enormes prejuízos para aqueles que dependem dela.
Seguindo a orientação do decreto municipal n° 10.470, que no artigo 16 suspendeu a realização das feiras livres, a primeira deixou de acontecer no dia 21 de março. Embora ainda não tenha números exatos, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Cedenir Postal, acredita que a soma dos valores que todos os feirantes deixaram de arrecadar nesse período pode chegar a R$200 mil.
Quem sentiu na pele os danos, foi o feirante Valdir Fabrísio. Comercializando produtos na feira há mais de 20 anos, ele relata que o cancelamento aconteceu justo na época em que mais vende. “Estava vendendo cerca de 600 kg de uva por sábado, às vezes até mais”, afirma. Ao todo, Fabrísio estima que deixou de vender até 5 mil kg da fruta.
Fabrísio acrescenta que vai conseguir recuperar as perdas só na próxima safra, portanto, apenas daqui um ano. “Agora tenho que esperar o ano que vem, porque dependo da safra da uva”, conta. Enquanto isso, o feirante vai se virar com a venda de pinhão, embora esse ano não tenha tanto. “Durante o inverno vai ser fraco, porque tem pouco pinhão”, lamenta.
Cancelamento precoce
De acordo com Postal, o que também contribuiu para o alto prejuízo, foi o cancelamento ter sido determinado três dias antes da realização, quando os feirantes já estavam organizados. “O decreto foi numa quarta-feira e os agricultores ficaram sabendo na quinta. Todos já estavam preparados, com as mercadorias prontas para vender no sábado. Não é só ir no dia e vender, tem toda uma preparação: tem que colher, separar, classificar. Foi falta de sensibilidade por parte da administração municipal de pelo menos naquele sábado ter acontecido”, expressa.
Como a feira é do segmento de alimentação, que é considerada item essencial para a manutenção da vida, Postal acredita que a suspensão foi injusta. “Foi uma decisão equivocada. Alguns agricultores tiveram que vender a preço bem abaixo e os consumidores não pagaram menos porque o lucro ficou com os mercados, que foi um dos setores que não foi atingido, já que continuaram vendendo”, analisa.
Retomada da feira
O último decreto municipal, do dia 16 abril, autorizou a retomada das feiras livres, desde que realizadas no turno da tarde. O último sábado, 18, quando aconteceu o retorno das atividades, o movimento surpreendeu, segundo Postal. “Não sabemos se foi pela ansiedade das pessoas em comprar, se estavam com saudades da feira ou se foi pelo horário diferente, mas foi mais do que esperávamos”, comenta.
Para que feirantes e clientes estejam em segurança, todas as medidas necessárias estão sendo tomadas. Além do uso de máscara pelos agricultores, também é disponibilizado álcool gel para quem passar pela feira. Também foi feito um cordão de isolamento para os consumidores não chegarem tão perto das bancas.