Liderança sindical destaca a necessidade do fortalecimento dos Sindicatos e da valorização dos funcionários das empresas de mobiliário e das indústrias da construção. Ela também aponta a necessidade de mudança nas leis de tributação para a qualidade de vida dos trabalhadores

Assistente Social, natural de Santa Cruz do Sul, trabalhadora da indústria por muitos anos e associada ao sindicato desde 2006, a Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário (SITRACOM), Adriana Machado de Assis, explica a importância da luta sindical para os trabalhadores manterem seus direitos, a necessidade de valorização para uma mão de obra qualificada e demonstra preocupação com as novas leis tributárias que interferem na qualidade de vida dos trabalhadores bento-gonçalvenses.

A importância dos Sindicatos

Segundo a Presidente Adriana, associada há 18 anos no Sindicato, há um desmonte na instituição causado por mudanças na legislação ainda no ano de 2017 e que visam enfraquecer o trabalho realizado pelos Sindicatos. “Depois da reforma trabalhista em 2017, muitos direitos dos trabalhadores foram retirados. A lei que os desobriga a contribuir com o sindicato é vista como uma forma de enfraquecimento, levando ao fechamento de muitos. Graças a Deus, conseguimos sobreviver, mesmo contendo despesas e dispensando profissionais. No entanto, para nós, essa reforma trabalhista de 2017 veio para extinguir os direitos, principalmente os dos Sindicatos. Essas mudanças têm sido bastante complicadas, e não vemos caminhos ou leis que nos ajudem a recuperar nosso papel como protagonistas na vida dos trabalhadores, como já fomos um dia’, alega.

Ela relata que nota uma despreocupação dos funcionários em relação ao trabalho feito pelo SITRACOM, e que isso pode causar um problema maior no futuro. “Os sindicatos estão aqui para assegurar e lutar pelos direitos, e, se terminar, também vai ficar ruim para o outro lado, não só para os trabalhadores. Acredito que, para nós, o principal é voltarmos a ter esperança e conseguir fazer um trabalho com os trabalhadores e empresários. Lutar por segurança, principalmente, por respeito aos empregados dentro das empresas. Sem verbas, não conseguimos negociar com as empresas o dissídio. Portanto, necessitamos dessa contribuição para nos mantermos. E o trabalhador é quem mais perde, pois corre o risco de voltar a ganhar um salário mínimo, trabalhar muitas horas, aumentar as doenças relacionadas ao trabalho e os acidentes do trabalho, dos quais ainda conseguimos combater um pouco, cobrando das empresas sobre segurança do trabalho”, salienta.

A Presidente ainda traz que muitos empregados viram a lei como uma vantagem e uma forma de economizar. “Há uma construção, até na própria mídia, que faz esse trabalho bem feito, para que houvesse uma descrença nos sindicatos. Quando saiu a reforma trabalhista, a principal notícia era que o trabalhador não é mais obrigado a se filiar ao sindicato. E muitos entenderam como uma economia, como um gasto a menos, e que é um dinheiro que pode ser investido em outras coisas”, e complementa quais foram os direitos adquiridos pelo SITRACOM. “Tem o próprio reajuste, que também é uma garantia que tem na Convenção Coletiva. Os dias 31, auxílio creche, que equivale a 12% do salário normativo. Auxílio à escola, que é 10% também. O quinquênio, que a cada cinco anos trabalhados, tem direito a 5% a mais de salário. Banco de horas, hora extra 100%. Foram diversos direitos para os trabalhadores que, pela legislação trabalhista, não têm”, enumera.

A Presidente do SITRACOM, Adriana Machado de Assis, alega que há necessidade na qualificação da mão de obra, por meio de formações gratuitas e valorização do trabalhador

A perda de identidade do trabalhador

Adriana se preocupa com os empregados não se entenderem como mão de obra, e nisso, existir uma perda de identidade. “Hoje está difícil para o trabalhador se reconhecer e se encontrar como classe trabalhadora. Muitos acreditam que não são exatamente empregados, seja por estarem ganhando um salário melhor, ou porque as empresas os chamam de colaboradores, o que gera essa perda de identidade. Para nós, do sindicato, que estamos aqui do outro lado, colaborador é quem colabora com algo e trabalhador é quem vende sua mão de obra’, ressalta
A Presidente orienta que há necessidade dos funcionários entenderem a importância do que já conseguiram e buscarem mais. “Há muitos direitos conquistados através do sindicato que muitos acreditam que são concedidos pela empresa. No entanto, se nossa instituição fechar, esses direitos serão perdidos e não mais conquistados. Esse é um debate que frequentemente discutimos: como conscientizá-los de que são trabalhadores e fazê-los retomar essa visão de unidade”, reitera.
O SITRACOM tem usado diversos canais, como rádios, jornais e redes sociais, para promover essa conscientização. “Utilizamos várias formas de conscientização, incluindo um programa de rádio semanal dedicado ao assunto. Além disso, mantemos uma presença ativa nas redes sociais e em nosso site, onde fornecemos informativos e publicamos matérias nos jornais locais. Essas estratégias visam garantir que nossa mensagem chegue até as pessoas”, explica a Presidente.

Qualidade de vida

Há algum tempo, debates sobre qualidade de vida e saúde mental têm ocorrido com mais frequência, e esta é uma preocupação da Presidente, que nota uma queda nestas questões. “Hoje, os trabalhadores só trabalham e não vivem. Os aluguéis são caros, os salários não são valorizados, os gastos no mercado são altos e muitas vezes há filhos para sustentar, não sobrando nada. Então, acabam não vivendo. Não sobra para viajar, para ver a família, não sobra para ir à praia”, constata.


Ela nota que cada vez mais pessoas de fora passam a morar no Município, mas que isso não significa que essas pessoas permaneçam por muito tempo. “Em Bento, vemos prédios lindíssimos, grandes, mas que valem um milhão. O trabalhador consegue comprar? Falta investimento em habitação e saúde que possibilite que eles queiram permanecer na cidade. Muitos vêm com a ilusão de que se ganha mais aqui, mas quando percebem os gastos que têm, acabam retornando para suas cidades”, declara.

Valorização da mão de obra

Como Presidente do SITRACOM, Adriana também lida com as empresas, e as reclamações sobre a falta de mão de obra qualificada estão crescendo. “A mão de obra está bem precária. Até mesmo durante as negociações coletivas, observamos que as empresas estão enfrentando grandes dificuldades para encontrar pessoas qualificados. Muitos empresários relatam que até conseguem contratar mas estes não permanecem por muito tempo. Há uma rotatividade constante, onde se uma empresa oferece um salário um pouco maior, o trabalhador troca de emprego”, relata.

Ela observa que isso também acaba sendo culpa das empresas e lideranças que não valorizam adequadamente o profissional. “Há uma dificuldade por parte das empresas em reconhecer a mão de obra e realmente valorizar o esforço dos trabalhadores, que estão lá enfrentando dificuldades dia e noite. Muitas vezes, eles não têm condições ideais de trabalhar, mas mesmo assim vão, deixando os filhos em casa e enfrentando preocupações, especialmente aqueles que moram no interior e têm dificuldades de deslocamento. No entanto, as empresas muitas vezes não reconhecem isso e relutam em oferecer um salário um pouco melhor, considerando-o apenas como um gasto. Não percebem que se trata, na verdade, de um investimento”, e completa que “quando bem remuneradas, as pessoas tendem a se esforçar mais para melhorar. Muitas empresas, infelizmente, perdem bons funcionários porque não estão dispostas a investir em salários melhores e benefícios adequados. Isso faz com que o empregado perca o entusiasmo em permanecer em um ambiente que não o valoriza”, ressalta

Outra solução que a Presidente acredita ser necessária é a disponibilização de cursos gratuitos para esses funcionários. “Essa situação exige união, tanto da patronal quanto do próprio sindicato, para qualificar essa mão de obra. É essencial realizar cursos de qualificação e buscar parcerias. No caso da indústria de móveis, poderíamos buscar parcerias com o DiMóveis, SESI, SENAC e até mesmo com o Instituto Federal. A oferta de formação gratuita seria ideal, pois muitas vezes as pessoas não têm dinheiro para pagar pelo curso ou transporte”, explica.

A reforma tributária e aumento do ICMS

A Presidente do SITRACOM debate sobre as alterações feitas nas leis, tanto da reforma tributária quanto aquela que envolvia o aumento do ICMS no Estado do Rio Grande do Sul. “É necessário realizar uma reforma tributária, pois atualmente quem ganha menos acaba pagando mais impostos. Acredito que essa legislação precisa ser alterada. Como é justo que o trabalhador, que já ganha pouco e já tem tantos descontos, ainda precise arcar com mais impostos? O custo de vida está elevado, e já não se consegue comprar nada, pois tudo está aumentando de preço. Portanto, acredito que é urgente essa mudança na tributação para garantir que os que ganham menos consigam se manter. E aqueles que têm mais recursos devem contribuir mais, pois isso é justo”, ressalta.

Adriana expressa sua preocupação de que essas mudanças na lei afetem os mais pobres, que já se esforçam para comprar apenas o necessário. “O mesmo vale para o aumento do ICMS em alimentos que até agora não eram tributados, uma medida que o governo estadual pretende implementar. Leite, pão e outros produtos essenciais, que são mais necessários para o povo, serão afetados. Quem acabará pagando mais? Todos nós pagaremos mais, e até aqueles que têm uma renda mais alta acabarão pagando o mesmo”, destaca, e acrescenta que “para aumentar a arrecadação, devem ser exploradas outras formas. Não é necessário tributar algo que já está caro. Apesar da inflação estar baixa, o custo dos alimentos está aumentando. Para nós, trabalhadores, muitos de nós com filhos, o leite é uma necessidade básica. Quanto custará esse produto tão necessário? Isso vai impactar significativamente o orçamento de quem já ganha pouco e precisa gastar com esses itens. É muito injusto. Devem haver outras maneiras de aumentar a arrecadação, sem fazer com que o povo pague essa conta”, conclui.

O SITRACOM BG incorpora seis Categorias, abrangendo 19 Municípios e mais de 12.000 trabalhadores em sete Categorias, que são: Mobiliário, Construção Civil, Mármore e Granito, Olaria e Cerâmica e Marcenarias