Entidade sem fins lucrativos promove inclusão, autoestima e acesso a direitos por meio de atendimentos humanizados, esportes adaptados, apoio psicológico e parcerias com universidades

Fundada em 19 de outubro de 1987, a Associação dos Deficientes Físicos de Bento Gonçalves (ADEF) nasceu da mobilização de um pequeno grupo de famílias que, diante da ausência de políticas públicas e serviços voltados às pessoas com deficiência física, decidiu fundar uma entidade própria, enfrentando preconceitos e total carência de apoio estatal. Inicialmente instalada em uma sala modesta e com escassez de recursos financeiros, técnicos e materiais, a ADEF hoje é referência regional em inclusão, assistência e defesa de direitos. A entidade é uma organização não governamental, privada, sem fins lucrativos, declarada de utilidade pública municipal, estadual e federal, e conta com o Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social (CEBAS). Atualmente, em torno de 600 pessoas com deficiência física estão cadastradas na associação, que proporciona uma variedade de atendimentos e serviços de reabilitação e suporte social.

Missão e propósito

A missão da ADEF é clara: “Oportunizar à pessoa com deficiência física o desenvolvimento de suas capacidades e potencialidades, visando independência e autonomia em suas relações sociais”. Isso é feito por meio de reabilitação e habilitação física, social, cultural e profissional, com forte foco na conquista de direitos, no exercício pleno da cidadania e no reconhecimento de seus deveres como cidadão.
Avanços e profissionalização

Para a atual presidente, Cleci Fracalossi, uma das fundadoras da entidade, a gestão atual representa um marco. “Estamos realizando grandes melhorias, com um progresso significativo e contando com o apoio de muitas pessoas que têm nos ajudado ao longo do caminho”, afirma. Ela reforça que a associação cresceu tanto que hoje opera com a estrutura de uma empresa. Cleci ainda destaca que muitas pessoas acreditam erroneamente que a ADEF é um órgão da prefeitura, quando, na verdade, é uma instituição independente que mantém parcerias com o poder público.

A vice-presidente Bernadete Schiavo Caprara também celebra os avanços. “Se fosse para dar uma nota ao avanço da associação, de zero a dez, eu diria que estamos em nove. Ainda há aspectos a melhorar, mas já alcançamos grandes conquistas no atendimento e nos projetos”, declara. Segundo ela, a ADEF deixou de ser vista apenas como uma entidade assistencialista e passou a oferecer uma atuação mais ampla e eficaz, com foco em políticas públicas.

Vice-presidente Bernadete Schiavo Caprara, a presidente Cleci Fracalossi e a coordenadora Cláudia Brandolt

A coordenadora Cláudia Brandolt pontua: “Hoje, a ADEF não opera mais como uma entidade voltada à caridade, mas sim como uma instituição comprometida com políticas públicas e o acesso a direitos”, pontua. Ela salienta que a população muitas vezes desconhece a existência da entidade, mesmo passando diariamente em frente à sua sede. “Recentemente, atendi uma jovem que veio para uma entrevista e me disse que, apesar de passar a vida inteira aqui na frente, nunca soube o que era a ADEF”, relata.

Atividades desenvolvidas

Os serviços da ADEF são variados e buscam atender de forma integral às pessoas com deficiência física. Entre as atividades realizadas estão:

  • Capoeira adaptada
  • Xadrez
  • Tênis paralímpico e tênis de mesa adaptado
  • Fisioterapia neurológica
  • Psicologia
  • Fonoaudiologia
  • Serviço social
  • Grupos para adolescentes e mulheres
    Atividades físicas e manuais

Cláudia afirma: “Oferecemos uma ampla gama de atendimentos. Atendemos mais de mil pacientes por mês (projetos e atendimentos), o que demonstra a importância e abrangência do nosso trabalho”, acrescenta. A entrada de pacientes ocorre exclusivamente por meio de encaminhamentos do Sistema Único de Saúde (SUS) ou da assistência social municipal, como CRAS e CREAS. Não há favorecimentos ou indicações pessoais: a lista de espera é gerida pelas secretarias responsáveis.

Atendimento humanizado e domiciliar

Outro diferencial da entidade é o atendimento domiciliar, realizado quando o paciente não pode se deslocar até a sede da associação. Além disso, quando necessário, a equipe acompanha os pacientes em audiências no Ministério Público, e há suporte jurídico voluntário por parte de uma advogada. “O atendimento social fica sob a responsabilidade da assistente social, garantindo que cada paciente receba suporte adequado”, destaca Cláudia.

Equipe e gestão

Todos os profissionais, incluindo os técnicos, são remunerados por meio de projetos e convênios. Apenas a diretoria atua de forma voluntária. Bernadete ressalta: “O que recebemos é muito mais valioso, o amor, o carinho e o respeito dessas pessoas”, ressalta. Ela celebra o fato de a gestão atual ser inteiramente composta por mulheres: “Isso nos dá uma visão diferente, especialmente no que se refere ao assistencialismo”, comenta.

Na diretoria, estão a presidente Cleci Fracalossi, a vice-presidente Barnadete Schiavo Caprara, o primeiro tesoureiro Marcelo Scardueli e a segunda tesoureira Simone Tafarel Ferreira.

Campanhas, eventos e parcerias

Para manter a estrutura em funcionamento, a ADEF promove diversas ações de arrecadação e conta com apoio da comunidade:

Luta por acessibilidade

  • Pedágio solidário
  • Galeto solidário
  • Macarrão da Nona (em outubro, no aniversário da entidade)
  • Bingo beneficente
  • Rifas
  • Coleta de tampinhas plásticas

Cláudia explica que os recursos públicos obtidos via projetos têm destinação específica e não podem ser usados em despesas gerais como contas de luz, alimentação ou manutenção predial. “Por isso, sobrevivemos com os recursos arrecadados nos eventos e doações diretas”, explica.
A associação também está com uma campanha para captar padrinhos financeiros. Bernadete afirma: “A gente quer buscar padrinhos, voluntários, que digam: ‘vou doar 10, 20, 50 reais por mês’. É a maneira de a gente poder pagar água, comprar uma lâmpada, manter isso”, diz.
A ADEF também realiza parcerias importantes com três universidades (UCS, FSG e Cenecista), cujos alunos fazem estágios supervisionados na entidade. Além disso, menores infratores cumprem horas de trabalho na instituição por meio do Judiciário, o que contribui para sua reabilitação e reinserção social.

Mesmo com os avanços, a falta de acessibilidade ainda é um entrave constante. Cláudia denuncia: “Não é a pessoa com deficiência que não consegue andar, são as ruas que não têm rampas, os transportes que não são adaptados”, diz. Bernadete reforça: “Até o prédio da prefeitura tem escadas que dificultam o acesso de cadeirantes”, destaca.

Ela também lembra que a ADEF foi a única entidade a construir sua sede dentro do prazo estabelecido em um terreno doado pela prefeitura, há 20 anos. Além disso, foram conquistas da entidade em parceria com o poder público a criação da “Praça da Inclusão”, única praça adaptada da cidade, a construção de calçadas acessíveis e a arte na fachada da sede, feita com doações de tinta e mão de obra voluntária.

Autonomia, autoestima e transformação social

Cláudia destaca que o trabalho da ADEF vai muito além de um atendimento pontual. “Vemos o paciente como parte de um núcleo familiar, e buscamos acolher toda a família”, salienta. Grupos atendidos pela psicóloga, especialmente adolescentes, são trabalhados para desenvolver autoestima, confiança e autonomia.

Cleci reforça: “Se você não se valoriza, ninguém o fará. Ou você se valoriza e luta, ou a vida o deixa para trás”, aconselha. Bernadete complementa: “Aprendemos a valorizar e ser gratos pela vida de cada um que por aqui passa”, argumenta.

ADEF como segunda casa

Para Cleci, estar à frente da presidência é algo profundamente pessoal. “Falar da ADEF é como falar da minha segunda casa. Comecei no início da associação e, ao longo dos anos, fui vendo crescer, evoluir, como uma família. Este lugar não é só uma entidade, é um lar, é parte da minha vida!”, pontua. Ela acrescenta que a ADEF, ao longo dos anos, “ganhou filhos e netos”, simbolizando o crescimento afetivo e o envolvimento comunitário da instituição.

A entidade realiza anualmente competições de tênis paralímpico e tênis de mesa adaptado, com participação de atletas de outras regiões. Cláudia conclui: “Esse ambiente prova que limitações físicas não impedem conquistas, e que o respeito, inclusão e acesso são os verdadeiros desafios que a sociedade precisa superar”, finaliza.

Como ajudar

A comunidade pode contribuir de várias formas:

  • Doação de tampinhas plásticas: em grande quantidade, a entidade busca no local mediante contato prévio.
  • Destinação do imposto de renda: por meio do projeto Leãozinho do Bem, da Prefeitura.
  • Tornar-se padrinho ou madrinha: contribuições financeiras mensais, em qualquer valor.

Objetivos futuros

Entre as metas da ADEF está a ampliação do número de atendimentos, a melhoria contínua da qualidade dos serviços prestados, a redução da fila de espera e a conquista de mais apoio financeiro que possibilite a ampliação da sede e da estrutura disponível para os atendimentos. A associação também busca ampliar parcerias com empresas, que além de apoiar financeiramente, podem se beneficiar de incentivos fiscais ao investir em inclusão social.

Com um histórico de superação e um presente ativo e acolhedor, a ADEF segue sendo uma instituição essencial na garantia de dignidade e cidadania para pessoas com deficiência em Bento Gonçalves e região.