O acesso à ponte que liga as cidades de Bento Gonçalves e Cotiporã, no Rio Grande do Sul, segue bloqueado. A força das águas do rio das Antas causou danos significativos à estrutura, especialmente no trecho pertencente a Bento Gonçalves, onde a cabeceira da ponte, a estrada e até mesmo a linha férrea foram completamente destruídas.
Até o momento, na Capital Nacional do Vinho, equipes de resgate e recuperação, em torno de 15 frentes, estão trabalhando para organizar os espaços afetados pela inundação. Entretanto, não há previsão para a liberação do acesso à ponte.
A prefeitura de Cotiporã também emitiu comunicado informando sobre o andamento dos trabalhos no entorno da ponte, pertencentes ao município vizinho. Segundo as informações, apesar da estrutura não estar mais submersa, foram registrados inúmeros foram os deslizamentos, impossibilitando, ainda, o tráfego pela estrada.
Apesar da gravidade da situação, um aspecto positivo é que a estrutura principal da ponte permanece firme no local, o que traz uma perspectiva de reconstrução e eventual reabertura da via de ligação entre as duas cidades.
Pilares de sustentação podem garantir estabilidade da estrutura, observa engenheiro
Segundo o mestre em engenharia civil, com concentração em estruturas, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Maílson Scherer, um dos aspectos que pode afetar a estabilidade de uma estrutura é a sua configuração de apoios. Conforme o estudioso, estruturas contínuas com maior quantidade de apoios apresentam, em geral, uma melhor capacidade de redistribuição de esforços. “Isto é, se algum apoio apresentar algum tipo de instabilidade e perder a capacidade de suportar os carregamentos impostos, os demais apoios podem, eventualmente, absorver algum acréscimo de carregamento, garantido que a estrutura se mantenha estável mesmo diante de alguma falha estrutural localizada. Este comportamento não é observado estruturas com um número reduzido de apoios (dois, por exemplo), onde a falha de um dos apoios pode culminar na falha generalizada da estrutura. Trata-se, portanto, de uma possível justificativa para o bom comportamento da ponte em questão frente a estes eventos extremos”, explica.
Ainda, segundo Scherer, é necessário pontuar que cada estrutura apresenta, ainda, suas particularidades e condições locais. “Em se tratando da força transmitida pela água à estrutura, esta depende, dentre outros fatores, da velocidade do curso d’água nas intermediações da estrutura. Na prática, esse efeito só pode ser mais bem avaliado por intermédio de estudos hidrológicos”, revela. Apesar de não possui informações mais detalhadas sobre a estrutura, o engenheiro entende que pelas características locais, os esforços adicionais decorrentes das cheias não representem, para a estrutura em questão, uma situação crítica em termos de estabilidade, de modo que a margem de segurança estabelecida em seu projeto se apresente suficiente para acomodar tais acréscimos.
Scherer diz ainda que as condições locais, a estabilidade dos pilares diante das cheias pode se justificar pela adequada escolha do tipo de fundação que suporta a estrutura. “Tudo indica que a solução adotada ainda na fase de projeto (possivelmente alguma solução em estacas) não vem tendo o desempenho estrutural afetado apesar dos possíveis efeitos das cheias nas condições do leito do rio”, observa.
Foto: Ascom Prefeitura de Bento Gonçalves