Começaram as aulas.
Os filhos passarão o dia nas escolas e uma significativa parte da transmissão do conhecimento e da educação das crianças passou a ser terceirizada, ou seja, fora do ambiente familiar. Tudo normal.
Para levar e buscar os filhos no colégio o serviço terceirizado de veículos faz seu competente trabalho de coleta e entrega.
Uma parte do tempo dessas crianças será preenchida com curso de inglês (línguas), escolinha de futebol, catequese, escolas de defesa pessoal e tudo o que for possível para que tenham o dia ocupado e se apliquem na construção do próprio futuro.
Outra parte do dia e da noite estas crianças irão para a casa de amiguinhos para estudar e brincar; algumas vezes para a casa dos avós e parentes para passar o tempo em que seus pais não estarão em casa, até por uma normal exigência do trabalho.
Nos finais de semana é o clube quem recebe estas crianças onde passarão horas divertindo-se sob a supervisão de encarregados. Se não for o clube pode haver muita outra diversão em passeios com os tios e amigos e Bento Gonçalves é rica em oportunidades.
Para as refeições as famílias deixam suas casas e nos restaurantes encontram as comidas já prontas.
As crianças ocupam boa parte de seu tempo com a televisão e os joguinhos no telefone celular.
Para a festinha de aniversário uma empresa terceiriza o acontecimento oferecendo um salão apropriado, com diversão e cuidadoras. É suficiente entregar os filhos e na hora marcada ir busca-los, até com a refeição servida.
O convívio entre pais e filhos á por tão pouco tempo que quase não existe. O tempo das crianças foi TERCEIRIZADO.
Da mesma forma os pais destas crianças têm tanta ocupação que já não podem dar atenção para seus próprios pais, muitos deles em idade já avançada e que requerem cuidados mais difíceis do que o exigido pelas crianças. Mais uma vez a terceirização: um lar para anciãos, cuidadoras e por aí vai.
Tudo isto é fruto da modernidade que separou pais e filhos.
A nova geração de brasileirinhos passa pela terceirização.
Algumas famílias vivem mais isoladas, no interior gaúcho. É comum ver pais, filhos e avós numa convivência sem terceirizações onde os mais jovens cuidam dos mais idosos e os pais cuidam de todos.
As crianças brincam entre si e algumas vezes com vizinhos. Na escola só o tempo suficiente enquanto a “fessora” estiver presente.
O fogão na cozinha da casa e a mesa para as refeições são compartilhados por todos e aquela pequena sociedade de gente vive unida e feliz. Nada é terceirizado.
Tente viver sem terceirizar. É quase impossível.