Eu mesma já tive uma foto de perfil com uma taça de espumante na mão. Achava chique. Era o tal do beber socialmente, muito embora nunca tivesse gostado de beber – nem socialmente. Bebia – socialmente – para ser aceita nas entrelinhas da minha turma – a geração Millennials. Geração essa que criticou os pais, que desenvolveu muito da tecnologia, que cresceu na rua e teve de aprender, aos poucos, a usar a tecnologia moderna, a fazer curso de informática básica para se inserir no mercado de trabalho e a que pensava – mais uma vez – que dominaria o mundo.
A geração que achava bonito ter mais garrafas expostas na sala que diplomas, mais festas alternativas ao invés de cursos de especializações, mais prazer e conforto que responsabilidades e trabalhos. É uma crítica a muitos que venderam a essa geração uma esperança de fazer o que quiser e liberdade de expressão. E igualdade. E “yes, we can, but…”. E inércia. E produtividade desenfreada. E a conviver com as primeiras redes sociais e com os “likes”. E a implorar em ser aceito e curtido. E a ostentar marcas, viagens e bebidas caras. E a postar “localiza aí, bebê”.
Quando conheci meu marido, o que impressionava nele era justamente o que o fez se tornar a pessoa que eu admiro: ele escrevia corretamente. Na época, era só um adolescente que mandava músicas na rádio e bilhetes. Tempos depois, na faculdade, o que me cativava ainda mais era a exatidão com que aplicava as vírgulas e os porquês, os acentos e a letra legível, além de exímia coesão e repertório variado.
Eu sou de Letras, ele era das Engenharias. Nunca me falou “ mas eu sou de exatas” para justificar qualquer desvio. Aliás, nunca teve desvio. Não sei, até hoje, como escreve tão bem, já que não o vejo lendo e nunca o vi escrevendo nesses 13 anos. Não sei, também, se procura no Google ou se a sua professora era realmente tão boa. O fato é que ele nunca precisou da taça na mão. Ele pouco bebe e pouco escreve e isso me faz refletir se é facilidade ou gosto ou memória ou o quê.
Minha mãe frequentou a quarta série somente e não percebo erros ortográficos. Ela me pede sobre o “leva e traz”, tira algumas dúvidas com humildade e me impressiona a facilidade de me tocar na escrita. Meu pai preferia escrever no dialeto italiano, já que tinha medo de errar e não se fazer entender. E eu escrevia de volta na mesma língua, sem me importar em errar e continuar mantendo viva a tradição.
Meu irmão tem letra complicada, escreve tudo de forma metódica, mas nunca pude perceber dificuldade na língua ou na expressão. Sempre foi de estudar e até hoje tem caderno de estudos. E é assim com toda minha família.
Hoje, além da discussão da língua neutra (que para mim é tamanha besteira), nem a escola consegue ensinar mais e incentivar as práticas leitoras e produções textuais. Não faz bem corrigir porque traumatiza. Não obriga a escrever porque vai de encontro ao direito de escolha do aluno. Pais não aceitam letra cursiva porque acham, em suas teorias, que não serve para nada. Não exigem letra legível porque cada um tem a sua personalidade e o seu estilo. Algumas instituições não mais ensinam os clássicos nem contam histórias, mas gravam Tik Toks para fazer parte do mundo moderno. Pensem nas raridades de Pedro Bandeira, Drummond, Machado. Muitos nem sabem mais o que é isso. Contar histórias virou breguice. E é isso que chamamos de avanço. E ostenta quem vive de luxo ou de pose, mesmo sem saber escrever. E inspira quem faz vídeos curtos, da moda, sem, necessariamente, um conteúdo para desfrutar. E é mais uma geração que “vai mudar o mundo”. Eu só espero que seja para melhor!