Colecionador de lembranças, testemunha de partidas e chegadas, sorrisos e lágrimas, assento de nobres corações e pobres nobrezas, esse velhinho, “nascido” lá em 1804, um dos símbolos da Revolução Industrial, o trem de passageiros continua a fazer história registrada na caligrafia em riscos no aço de seus trilhos.
Historicamente, a construção de estradas de ferro e a chegada do trem “rasgaram” planícies, descobriram planaltos, “escalaram” serras, “furaram” montanhas, colonizaram cidades e deixaram na trilha da fumaça não mais o passageiro, mas, agora, o nativo progresso nas suas mais variadas estações.
Não há dúvidas de que, naqueles tempos, a velha logística costurava, pelas linhas do trem, o melhor traje do progresso.
Aliás, palavra de destaque e muito mais difundida nos tempos atuais, a logística, é verdade, tem sido a luz do progresso e, como tal, coincidentemente ou não, por muitos só lhe é dado valor… quando falta.
Mas qual é a logística do progresso?
Essa resposta não tem preço definido, contudo, tomando como exemplo a histórica chegada do trem nos mais remotos rincões, seu valor reside no fato de que traz consigo uma real oportunidade de mudança, pois uma atividade está a reboque da outra, tal qual fossem – desculpem-me pela exagerada linguagem metafórica – vagões no expresso do progresso.
Porém, nesta viagem sem volta, proporcionada pela “louca” emotiva ação do empreendedorismo, não há passagem para aqueles sem coragem, dedicação, muito trabalho, e persistência de começar a mudança na plataforma de seus ideais de vida, pois isto lhes dará o direito de ouvir o badalar do sino para embarque e o crivo no bilhete pelo fiscal da competência.
Na locomotiva do progresso, como em tudo na vida, por óbvio não faltarão “fantasmas” na tentativa de tomar assento privilegiado sem passagem moral para tanto, outros então, não seria novidade, inescrupulosamente tentarão fazer as vezes de maquinista, quiçá até mesmo surgirá a tentativa medíocre de se apoderar fraudulosamente do protagonismo; pobres de espírito, falta-lhes a nobre têmpera do “aço” da humildade e quando viu…o trem já partiu…
Saindo desta última e fraca rima, a tão sonhada paisagem da janela do trem revela uma imagem conhecida, o semblante do passageiro emerge na transparência, o espelho da vida passa diversas estações em segundos e toma de emoção aquele momento de ver-se digno daquela poltrona.
Ah, velha sabedoria dos trilhos, seguem paralelos nessa dicotomia perfeita unindo a campanha, serra, fronteiras, cidades, fazendo o velho jovem trem reencontrar a antiga paisagem, renovando o bilhete do progresso que há muitos anos dera passagem, o qual ora se alegra no sorriso das crianças, jovens, todos na melhor idade.
E no descer à última estação, sobe o “passageiro” saudade, muitos deixando para trás merecido e valioso excesso de bagagem, fruto das melhores memórias, exemplo e virtudes de sua singular história.
E por falar em saudade, não há como esquecer daqueles que se destacaram nesta viagem de passagem, lembro-me da risada que por si tantas outras multiplicava e a alva lembrança dos cabelos brancos que de pronto simpatia e amizade a todos cativava, cuja sábia mensagem, assim será para sempre lembrada: “Jamais devemos nos esquecer de onde viemos, como chegamos até aqui e de quem caminhou conosco” (Nelo, Leonel Giordani in memoriam).
Vamos em frente!