A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) são medidas preventivas à exposição ao HIV, que são distribuídas gratuitamente no município

A luta contra o HIV/AIDS tem se aprimorado ao longo das últimas décadas, com avanços significativos tanto no tratamento quanto na prevenção da infecção. Dentro desse contexto, dois métodos preventivos têm ganhado cada vez mais espaço e reconhecimento: a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP). Em Bento Gonçalves, a oferta e o uso desses métodos refletem o compromisso da saúde pública local em proteger a população em risco, com campanhas de conscientização e fácil acesso ao tratamento.

O que são a PrEP e a PEP

A PrEP é uma medida preventiva que consiste no uso de medicamentos antirretrovirais (tenofovir e entricitabina) antes de uma possível exposição ao HIV, diminuindo significativamente as chances de infecção. Desde sua implementação no Brasil, em 2018, a PrEP se consolidou como uma ferramenta eficaz para grupos considerados mais vulneráveis ao HIV, como homens que fazem sexo com homens, pessoas trans e profissionais do sexo, entre outros.

A PEP, por outro lado, é uma intervenção de emergência aplicada após uma exposição ao vírus. Diferentemente da PrEP, que é utilizada continuamente ou sob demanda, a PEP deve ser iniciada em até 72 horas após o contato com o HIV, e o tratamento dura 28 dias. As situações que exigem o uso da PEP incluem relações sexuais sem proteção, violência sexual ou acidentes com material biológico em profissionais de saúde. “Nos casos de pós exposição (PEP) a Unidade de Pronto Atendimento tem a capacidade de resolver, devido aos seus horários de funcionamento, 24 horas de atendimento, favorecendo o usuário nos fins de semana e/ou feriados”, destaca a coordenadora do SAE/CTA, Adriana Cirolini.

O uso da PrEP e da PEP em Bento Gonçalves

Em Bento Gonçalves, esses métodos preventivos são oferecidos pela rede pública de saúde por meio do SAE/CTA (Serviço de Atenção Especializada e Centro de Testagem e Aconselhamento). A cidade segue as diretrizes do Ministério da Saúde, que reforçam a necessidade de prevenção combinada – o uso de múltiplas estratégias para melhorar a proteção contra o HIV, incluindo tanto a PrEP/PEP quanto o uso de preservativos.

De acordo com Adriana, em 2023, 190 usuários receberam a PrEP em Bento Gonçalves. Este número reflete uma população predominantemente jovem, com idade variando entre 20 e 40 anos e, em sua maioria, composta por homens. “Embora não tenhamos dados específicos sobre orientação sexual, sabemos que a maior parte das pessoas que utilizam a PrEP são homens gays, bissexuais ou outros homens que fazem sexo com homens”, relata Adriana, embasada pelo boletim epidemiológico nacional.
Além disso, a cidade registra um grande número de testagens para HIV, sífilis e hepatites virais, como parte de campanhas de conscientização, com 8.207 testes rápidos realizados em 2023. Desses, 15 casos de HIV foram detectados, evidenciando a importância contínua de iniciativas preventivas e da disponibilização de tratamentos como a PrEP e a PEP. “Em relação ao diagnóstico do HIV, de 2014 a 2022, foram notificados 122 homens e 92 mulheres, na faixa etária dos 20 aos 29 anos, possuindo o maior número de infecções, para ambos os sexos”, ressalta.

Como utilizar a PrEP e a PEP

A PrEP pode ser tomada de duas formas: diariamente ou sob demanda. A modalidade contínua é indicada para quem mantém um risco constante de exposição ao HIV, como pessoas em relacionamentos sorodiferentes (um parceiro vive com HIV e o outro não). Já a PrEP sob demanda, aprovada mais recentemente, é voltada para situações esporádicas de risco. “A PrEP deve ser considerada para pessoas a partir de 15 anos, com peso corporal igual ou superior a 35 kg, sexualmente ativas e que apresentem contextos de risco aumentado de aquisição da infecção pelo HIV ou repetição de práticas sexuais anais ou vaginais com penetração sem o uso de preservativo”, explica.

Por sua vez, um PEP deve ser iniciado o mais rápido possível, após situações como sexo sem proteção, violência sexual ou exposição ocupacional (por exemplo, profissionais de saúde em contato com material biológico). É crucial que o tratamento seja iniciado até 72 horas após a exposição e concluído durante 28 dias.

Ambos os métodos bloqueiam um acompanhamento médico específico. “É necessário estar vinculado a um serviço de saúde para a continuidade do uso da PrEP, com exames periódicos que incluem testes de HIV e acompanhamento dos efeitos colaterais”, explica.

Desafios e avanços na conscientização

Apesar dos avanços, Bento Gonçalves ainda enfrenta desafios no que diz respeito à conscientização e ao acesso à PrEP e à PEP. Adriana menciona que o estigma e a falta de informação são barreiras significativas. “Muitas pessoas ainda desconhecem essas opções de prevenção ou acreditam que são apenas para determinados grupos, o que não é verdade. A PrEP está disponível para qualquer pessoa que esteja em situação de risco”, afirma.

O município realiza campanhas contínuas de conscientização sobre infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e prevenção combinada. “Fazemos ações regulares em espaços públicos, como a Via Del Vino, onde oferecemos testes rápidos e esclarecemos dúvidas da população”, relata.

Em Bento Gonçalves, o trabalho contínuo da equipe de saúde pública tem sido fundamental para garantir que esses métodos sejam disponíveis e acessíveis. O uso da PrEP e da PEP, aliado a outras estratégias de prevenção combinadas, como o preservativo, oferece uma proteção eficaz e abrangente contra o HIV, mas é preciso garantir que a informação chegue a todos.