O consumo de bebidas alcoólicas está a diminuir em vários países, incluindo o Brasil. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Datafolha, esta tendência reflete uma mudança de comportamento, especialmente entre os jovens. No Brasil, o consumo anual médio entre jovens de 15 a 19 anos caiu de 26% em 2016 para 22% em 2019. Embora o consumo geral tenha diminuído, o padrão de consumo abusivo ainda preocupa. Além disso, uma pesquisa Datafolha de abril de 2025 indicou que 53% dos brasileiros reduziram a sua ingestão de álcool no último ano.

Oportunidade e inovação na Serra Gaúcha
Se, por um lado, os números revelam uma redução no consumo de álcool, por outro, abrem espaço para a inovação. Na Serra Gaúcha, vinícolas tradicionais e emergentes apostam na criação de produtos zero álcool, em sintonia com uma geração que valoriza cada vez mais o bem-estar e a moderação.
A nova tendência de mercado é vista como uma oportunidade para o setor. Segundo Eduardo Valduga, enólogo do Grupo Famiglia Valduga, essa nova tendência vem para dar oportunidades. “Criaremos um modelo de relação entre o vinho, produto milenar, que merece uma atualização em sua linguagem com o modelo sociocultural dos jovens clientes”, salienta.
Já a Vinícola Aurora acompanha essa mudança há quase uma década. “Atenta a essas transformações, a cooperativa foi uma das pioneiras no setor ao lançar, em 2019, a linha Aurora Zero Álcool, desenvolvida justamente para atender a consumidores que buscam novas experiências e não abrir mão do sabor do vinho e espumante. Estamos sempre atentos às tendências e aos diferentes perfis de consumo, oferecendo produtos que se conectam com as escolhas e o estilo de vida das pessoas”, frisa o Diretor de Marketing e Vendas da Cooperativa Vinícola Aurora, Rodrigo Arpini Valerio.
Para Maiquel Vignatti, gerente de Marketing da Vinícola Garibaldi, o movimento do mercado é visto de maneira natural pela empresa. “Ao longo das mais de nove décadas em que estamos no mercado, acompanhamos suas mudanças e tendências. As preferências mudam constantemente e a nós, como indústria do vinho, cabe acompanhar esses movimentos e abastecer o mercado com diferentes bebidas para atender a todos perfis de consumo”, descreve.

Ajustes no portfólio e novos perfis de mercado
As vinícolas observam que os consumidores procuram cada vez mais por vinhos brancos, rosés e espumantes. Segundo elas, os produtos têm o seu nicho e merecem desenvolvimento. “Vemos maior foco em espumante à mercê de terroir e da cultura brasileira”, enfatiza Valduga.
Vignatti também acredita no potencial de bebidas mais leves, por estarem em ascensão. “Principalmente de espumantes com menos ou até zero álcool. Há também uma desaceleração na participação no consumo de vinhos de guarda e de vinhos mais encorpados, cuja quantidade de álcool, corpo e estrutura, é maior. Entretanto, vinhos de perfil mais leve, como brancos e rosés, ganham cada vez mais notoriedade, e tintos jovens seguem na preferência”, observa.
A Vinícola Aurora entende o mesmo movimento. “Nos últimos anos, observamos um crescimento consistente na procura por vinhos mais jovens, além de um aumento significativo nas vendas de vinhos brancos e rosés. Outro destaque é o espumante, que mantém trajetória de expansão contínua, refletindo a preferência do consumidor por bebidas mais leves, frescas e versáteis para diferentes ocasiões”, confirma.

Impacto e desafios econômicos
Segundo Valerio a demanda de vinhos e espumantes encontrou um equilíbrio no país. “Em termos per capita, a ingestão está em cerca de 2 litros por pessoa, voltando ao patamar anterior à pandemia. Os verdadeiros desafios no mercado não estão no volume consumido, mas no contexto econômico global: inflação, câmbio desfavorável, custos de produção e a pressão sobre o poder de compra dos consumidores”, destaca. Apesar disso, a vinícola mantém as vendas em níveis semelhantes aos anos anteriores.
Segundo Valduga, os vinhos e espumantes vêm passando por crises há anos, mas sempre encontram resiliência e mostram a sua importância, “fazendo parte da dieta dos consumidores”, diz.

Estratégias para o futuro
Com a redução na ingestão de álcool em várias faixas etárias, cresce a procura por alternativas que mantenham a experiência, mas sem os efeitos do álcool.
De acordo com Vignatti, a Vinícola Garibaldi busca diversificar o portfólio, usar embalagens “disruptivas”, quebrar as regras no consumo e proporcionar experiências para seus clientes, além de consolidar a marca. “Outro ponto é o campo experimental e a força do cooperativismo, engajando e conscientizando pequenos produtores de uva com um olhar mais estratégico de mercado. Podemos citar como exemplo nosso vinhedo experimental, no qual estão em teste cerca de 60 variedades, para trazer novidade, não apenas a partir de variedades mais resistentes, que possam enfrentar as adversidades climáticas. Mas também, ao mesmo tempo, oferecer ao mercado produtos de ótimo potencial enológico”, destaca.
A Vinícola Aurora também acompanha as novas tendências, como descreve Valerio. “Entre as iniciativas estão o lançamento de produtos desalcoolizados, novas opções de sucos integrais e embalagens em volumes menores, que trazem mais praticidade. Também entendemos que esse público valoriza marcas com propósito, e nesse sentido reforçamos nosso diferencial: somos uma cooperativa formada por 1,1 mil famílias de viticultores de pequenas propriedades, que atuam com práticas responsáveis e sustentáveis”, pontua.
Já Valduga destaca que a inovação tem sido o caminho para fortalecer a relação com os seus consumidores. “Apostamos no lançamento de novos produtos, na proximidade com o cliente e em um posicionamento de marca que acompanha as mudanças de comportamento do público que, há anos, acompanha o desenvolvimento da empresa”, explica.

O papel das bebidas de baixa caloria e a inovação
A procura por bebidas sem álcool está diretamente ligada à busca por opções com baixa caloria, principalmente para quem procura uma vida mais saudável.
Para Valerio, esse movimento é cada vez mais crescente. “A Aurora monitora de perto as tendências de consumo e está atenta à demanda por bebidas com menor teor calórico. Nosso compromisso é acompanhar esse cenário para, em breve, oferecer novidades que atendam também a esse nicho de consumidores”, garante.
Valduga ressalta que esse tipo de bebida representa a lógica da inovação dentro do setor. “Novas alternativas devem surgir para atender às demandas do mercado e oferecer soluções alinhadas às expectativas dos clientes”, pontua. Vignatti acredita que o mercado está diretamente ligado à redução no consumo de álcool em si. “Em benefício ao vinho e espumante podemos citar também que estes, geralmente, apresentam menos quantidade de açúcar residual. Então, de certa forma, os vinhos com menos álcool atendem esta necessidade de mercado também no quesito menos caloria”, observa.
Ambas as empresas buscam atender o novo setor, fornecendo ao seu público bebidas zero álcool. Vignatti relata: “Estamos com seis produtos nessa linha, inclusive um lançamento deste ano, o primeiro frisante sem álcool do país (Relax Alcohol Free). Isso demonstra como estamos atentos à evolução desse mercado em específico, no qual já havíamos também lançado um produto inédito, o primeiro espumante Prosecco sem álcool do país. São produtos novos que agregam muito ao nosso portfólio, buscando oferecer variedades de sabores dentro desse conceito”, frisa.
Valduga explica que a vinícola já aposta no segmento zero álcool, contemplando diferentes perfis de consumidores. “Atualmente, contamos com lançamentos nas marcas Ponto Nero, com espumantes voltados a momentos de celebração; Casa Valduga, que mantém a tradição e sofisticação da vinícola; e Casa Madeira, referência em sucos e produtos naturais”, ressalta.
Segundo Valerio, os produtos são uma resposta direta a um novo perfil de cliente. “São rótulos desenvolvidos justamente para atender consumidores que, por diferentes razões, optam por não consumir bebidas alcoólicas, mas que ainda desejam desfrutar da experiência associada ao vinho. Como líder de mercado na venda de suco de uva integral e também líder na venda dos vinhos finos no Brasil, a Aurora reúne expertise e profundo conhecimento de mercado, o que a coloca em posição de protagonismo para liderar essas transformações no perfil de consumo”, esclarece.
Uma tendência em constante movimento
Para Vignatti, as transformações no setor da vitivinicultura ainda não apresentam estabilidade. “O mercado é muito dinâmico, fica difícil afirmar se é uma mudança estrutural ou não. De fato, é um mercado cuja curva está em crescimento já há algum tempo, e nós precisamos estar inseridos nele também”, comenta.
Já Valerio expressa que se trata de uma alteração comportamental geracional, que deve se consolidar nos próximos anos. “Há uma busca cada vez maior por empresas com propósito claro e transparente, e esse fator tem ganhado peso nas escolhas”, pontua.
Valduga explica que as mudanças sempre acontecem ao passar dos anos. “Toda mudança ao clássico, durante anos, sempre se demonstrou passageira. Entretanto, estamos atentos em nossas mudanças, que são velozes e eficientes às necessidades do mercado”, conclui.

Cooperativa Vinícola Aurora

  • Aurora 0,00% Zero Álcool Rosé e Branco
  • Aurora 0,00% Cabernet Sauvignon e Merlot Zero álcool
  • Aurora 0,00% Riesling Itálico Zero Álcool
  • Keep 0,00% Álcool Tinto e Branco

Cooperativa Vinícola Garibaldi

  • Relax Alcohol Free
  • Garibaldi Ice Zero Álcool
  • Garibaldi Ice Rosé Zero Álcool
  • Garibaldi Moscato Zero Álcool
  • Garibaldi Moscato Zero Álcool Rosé
  • Garibaldi Prosecco Zero Álcool

Grupo Famiglia Valduga

  • Ponto Nero Live Zero
  • Ponto Nero Live Zero Rosé