Não sei onde tudo se perdeu. Talvez foi a modernidade, a vida corrida das cidades maiores, a falta de espaços de convivência, a periculosidade nos dias de hoje, mas em algum lugar se perdeu a infância simples e barata.
Perdeu-se em alguma esquina ou em alguma casa na árvore que nem ao menos fora construída. Perdeu-se quando, o que chamamos de evolução, fez entrar o celular na sala de casa e virou entretenimento. Assim, os parquinhos estão vazios e os quartos estão cheios. O achar que estão seguros traz um ledo engano: estão presos em suas camas, sem ver o sol, livres não se sabe onde por trás das telas.
Cadê as bolitas, as cinco-marias? Ninguém mais joga taco na rua? E os campinhos que habitavam as praças? Ninguém mais se suja!
Não se faz mais piquenique? Esconde-esconde perdeu a graça? Amarelinha e pega-pega? O telefone sem fio emudeceu? O mestre mandou, bater Tazo, cuidar do Tamagochi, brincar de Power Rangers, usar o salto da mãe… que nostalgia!
Joelho ralado só se vê, vez ou outra, na escola. E há quem brigue com o professor por isso. Não se pode pegar chuva. Poucos comem frutas, tiradas do pé, então, nem se fala. Andar de bicicleta, skate, patins… A rua virou perigosa. O telefone “salvou a Pátria”. Os filhos estão “seguros” em casa.
Tem pouca frustração, muito brinquedo pronto, todos os sonhos são atingíveis, viagens, desde cedo, de avião, o tédio toma conta, a roupa é de marca. A infância mudou.
Tenho saudade das lembranças boas de ir na casa das amigas brincar, do parquinho repleto de amigos no fim do dia, de jogar taco ou bola na rua com os vizinhos, de brincar de esconder até tarde e pedir “mãe, só mais um pouquinho”. De comer fruta no pé, de cozinhar ervas e folhas nas panelinhas, de dar banho na Barbie do camelô.
Eu tenho saudade de um tempo que não volta mais. De uma infância que não sei se vou conseguir dar ao meu filho. Até porque eu precisei voltar a trabalhar, enquanto minha mãe, carinhosamente, ficava em casa, preparando o lanche, a comida, cuidando da família. Um luxo.
A infância não devia acabar. A gente se descobre, brinca de tudo o que quer ser quando for grande. Eu mesma já fui médica do Laboratório Champagnat (o que existia na época), já fui cantora, modelo internacional, mulher rica dona de empresa. Mãe. Professora. Atleta.
Não deixemos isso morrer. Uma criança feliz e amada levará essas marcas para sempre. Já o ralado do joelho, isso passa no dia seguinte, com um curativo e um beijinho que cura tudo.
Eu tenho é saudade do que a infância representou em minha vida. Os avós vivos, os pais presentes, a escola, uma vida sem preocupações, sem medos bestas, sendo feliz com coisas tão pequenas, sem perdas. Não quero romantizar que o passado foi melhor que o presente, mas todo adulto é alguém que perde… o brincar, as pessoas, as oportunidades por medo, o tempo pra esportes.
Uma pena que a gente demora tanto tempo para perceber que bom mesmo era sentar na calçada e olhar para o céu, desejando mais tempo com os amigos no parquinho. Bons tempos!