Se você se pega bocejando durante o dia ou sente que a privação de sono está impactando seu trabalho e suas metas de saúde, saiba que essa é uma realidade compartilhada por muitas pessoas. No entanto, a ciência aponta para uma particularidade: as mulheres, em geral, precisam de mais tempo de sono do que os homens.
Um estudo conduzido no Centro de Pesquisa do Sono da Universidade de Loughborough, no Reino Unido, revelou que as mulheres demandam mais horas de sono. A Dra. mastologista, e ginecologista do Hospital Tacchini, Aline Valduga, reforça essa ideia, afirmando que apenas 20 minutos de sono a mais são suficientes para as mulheres. “Elas costumam ter uma qualidade de sono pior do que os homens, têm mais ansiedade e a maneira como o cérebro feminino funciona é diferente, pois tendem a ser multitarefas e usam o cérebro de forma mais ativa”, afirma.


Interferência hormonal
Além disso, um relatório da Sociedade para a Pesquisa em Saúde da Mulher indica que as elas têm 40% mais chances de sofrer de insônia, com uma em cada quatro mulheres apresentando sintomas, em comparação com um em cada sete homens. Essa disparidade é frequentemente atribuída às flutuações hormonais que ocorrem ao longo do ciclo menstrual, na gravidez, na pré-menopausa e na menopausa.
De acordo com a ginecologista e obstetra Danielle Fenner, há uma relação direta entre os hormônios e a qualidade do sono. “Hormônios, como os associados ao ciclo menstrual, gravidez e menopausa, afetam a qualidade e a duração do sono feminino. As mulheres tendem a realizar tarefas simultâneas, utilizando o cérebro de forma mais intensa, o que exige um período maior de recuperação”, destaca.
Sobrecarga
Os hormônios, portanto, não são os únicos causadores desses distúrbios. “Cafeína, sedentarismo, obesidade, exposição a telas (TV, celular…), estresse e ansiedade podem causar distúrbios do sono. Por outro lado, a higiene do sono, a prática de atividade física, alimentação saudável e controle do estresse podem auxiliar na melhora do sono”, destaca Aline.
Além disso, a sobrecarga gerada pela rotina pode gerar dificuldades, como insônia e fadiga crônica. Aline menciona alguns exemplos:
- Rotina inadequada de sono (horários variáveis para dormir e acordar);
- Cuidados com os filhos (despertares noturnos);
- Ansiedade;
- Tempo insuficiente de sono;
- Estresse.
Consequências
Para mulheres que estão em fase de gestação, uma boa noite de sono é essencial para sua saúde, assim como a do bebê. “O sono de má qualidade na gestação pode levar a parto prematuro, diabetes gestacional, pré-eclâmpsia e depressão pós-parto”, enfatiza Aline.
A qualidade do nosso sono é um pilar fundamental para a saúde e o bem-estar, e suas repercussões vão muito além do cansaço imediato. “Ao longo da vida, a piora do sono gera estresse, piora da depressão e ansiedade e aumento do risco de doenças cardiovasculares. Além disso, a memória pode ser afetada por sono de má qualidade”, esclarece Aline.
Após a menopausa
Segundo Danielle, a menopausa pode causar insônia. “A diminuição dos níveis de estrogênio e progesterona durante a menopausa pode causar insônia, ondas de calor, suores noturnos e outros distúrbios do sono, afetando a qualidade e a duração do sono. Além das mudanças sociais e emocionais, como a síndrome do ninho vazio, solidão e até depressão, que podem afetar negativamente o sono”, conta a ginecologista.
Para aliviar os sintomas, Aline explica que já há soluções às quais as mulheres podem recorrer após a menopausa. “Estudos já mostram que, quando possível de ser utilizada, a terapia hormonal com reposição de estrogênio e progesterona é capaz de tratar os distúrbios do sono”, explica.
Cuidados
Para ter uma qualidade de sono boa, tanto mulheres como homens devem ter uma higiene do sono adequada. Para isso, Danielle e Aline explicam o que fazer:
- Estabelecer horários regulares para dormir e acordar pode ajudar a regular o ciclo circadiano;
- Criar um ambiente propício para o sono, com um quarto escuro e silencioso;
- Evitar estimulantes antes de dormir, como cafeína e telas;
- Praticar atividade física regularmente, mas evitar atividade física próximo ao horário de dormir;
- Fazer refeições leves à noite, idealmente jantar antes das 19h;
- Cuidado com as Sonecas Diurnas: sonecas curtas (20-30 minutos) no início da tarde podem ser revigorantes. No entanto, sonecas muito longas ou feitas muito perto da noite podem desregular o relógio biológico e dificultar o sono noturno. Se você tem insônia, o ideal é evitá-las.
- Se os problemas de sono persistirem, é recomendado buscar orientação médica para identificar e tratar possíveis distúrbios.
A privação ou a má qualidade do sono trazem consequências sérias para o corpo, começando pela elevação do cortisol, conhecido como o hormônio do estresse. Quando esse hormônio está desregulado, pode desencadear uma série de problemas como fadiga crônica, ganho de peso e um risco aumentado de desenvolver doenças metabólicas.
Para as mulheres, as implicações de noites mal dormidas são ainda mais específicas. A falta de sono adequado pode levar a problemas de fertilidade, causar irregularidades nos ciclos menstruais e intensificar os sintomas da menopausa.
Priorizar o sono é, portanto, um pilar fundamental para a saúde e o bem-estar feminino em todas as fases da vida.