“Hoje (12 de outubro) acordei e me lembrei da criança que fui, da família que tive e principalmente da proteção a mim dispensada… Os valores e princípios que me foram ensinados fazem a pessoa que sou. Também me lembrei da criança que foi jogada pela janela do ônibus logo após nascer… da criança sufocada e jogada numa caixa de papelão na casa da vizinha … da criança que foi colocada dentro da mala e jogada no rio … da criança que foi arremessada pela janela do oitavo andar do prédio… da criança que mancava e morreu de tanto apanhar… da criança que foi assassinada e enterrada no mato. Dos pais ausentes… das mulheres doentes e das famílias destruídas. Nossa Senhora Aparecida, proteja nossas crianças!”
O relato/desvelamento acima é da amiga Vera dos Santos, sempre tão sensível quando se trata de vidas vulneráveis, que ficam à mercê da própria sorte. O olhar de Vera é especialmente dirigido às crianças desprotegidas, cuja pobreza material e espiritual dos tutores agride seus corpos e tortura suas mentes.
Grande fração dessas crianças sobrevive… E quase caio na tentação de questionar que futuro terão essas criaturas, se, na verdade, o que importa é o presente. É hoje, agora, neste exato momento que elas são abusadas, exploradas, silenciadas, devastadas, desconectadas de suas famílias, oprimidas, expulsas… Pensar no futuro dessas crianças é uma forma egoísta de olhar para elas, já que a preocupação, no fundo, é com a sociedade, que terá que lidar com a provável repetição da violência, num contínuo círculo vicioso.
Mas meu foco também se estende às crianças amadas que, inclusive, recebem demais… Brinquedos demais que acabam entediando-as ou obstruindo oportunidades de desenvolvimento da imaginação, da tolerância às frustrações e da paciência. Tempo demais dedilhando tecnologia, que vai gerando comportamentos sedentários e doenças típicas de obesos. Proteção demais, que desprotege, impedindo que aprendam com suas próprias experiências e desenvolvam sua autonomia. Liberdade demais, que fragiliza, permitindo-lhes acesso a conteúdos adultos altamente prejudiciais e viciantes.
Só o amor nunca é demais, porque o amor não se contenta com o caminho mais fácil, aquele que sempre diz “sim”. O amor busca o equilíbrio, que é um verdadeiro desafio. É como permanecer o tempo todo sobre um disco funcional de academia e, ao mesmo tempo, ensinar os pequenos a ficarem de pé neste mundo bamba…
Reforçando o pedido inicial, que Nossa Senhora Aparecida proteja nossas crianças.