Vejo alguns pais postando – e achando o máximo – “a maternidade/paternidade dando retorno” e mostrando a criança fazendo algum serviço, geralmente doméstico, e fico me questionando. Tudo bem que isso é uma “trend”, como dizem os adolescentes, mas o problema é que alguns levam o caso a sério. Assim como quando minhas amigas me dizem que não querem ter mais filhos, pois essa é uma tarefa cara, pesada, difícil e cansativa demais, eu sempre me pergunto: -Difícil comparada a quê?
Não quero ser eu a positiva da rodada, mas, pra mim, cara seria se fosse comparada ao gasto em um hospital, muitas vezes, sem saber se há cura; pesada comparada ao peso de uma família desunida, unida apenas pela herança; difícil comparada ao vazio de uma vida de excessos; cansativa comparada a uma mulher cujo sonho é gerar em seu ventre e não consegue, desapontando-se todo mês que descobre que ainda não vai ser mãe. Claro que volta e meia me sinto bem cansada ou me pego reclamando de algo, mas aí paro e procuro pensar: – Foi isso que eu pedia a Deus nos meus sonhos! Então, pra mim, a maternidade é barata.
Não romantizo-a, porque é óbvio que a vida muda e, com ela, surgem desafios e particularidades de cada criança, mas evitar um filho porque o trabalho é demais é desmerecer o poder e a alegria da concepção de uma nova vida.
Eu vivi, como ninguém, a dicotomia da vida muito próximo. O nascimento de um filho e a perda de um pai. Por isso, a maternidade me foi barata. Porque, mesmo na dificuldade, havia vida. Mesmo na noite em claro, havia esperança. Mesmo no dia difícil, sabia que amanhã era outro dia e tudo ia ficar bem. A virose ia passar, o dente ia chegar, ele ia engatinhar, era só uma fase. Ele precisava do meu amor e cuidado.
O estranho é que vivemos em uma era de excessos e opostos: excesso de falsos prazeres, mas um vazio existencial; ou romantização da maternidade ou pessimismo e medo em relação a ela, a ponto de evitá-la; ou céticos ou extremistas; doutores de tudo, formados pelo Facebook, onde simplesmente deveríamos ser alunos e ir ver, como dizia Amyr Klink. Ou ‘noiados’ com a pressão de cada fase do desenvolvimento ou omissos, sem buscar auxiliar. Ou aqueles que tudo fazem e tudo dão aos filhos, eximindo-os de suas responsabilidades, ou relapsos, que ‘abandonam’ a criança e um celular no quarto. Ou aquelas famílias aglutinadas, em que não há papel definido, hierarquia, valores e regras ou os que vivem como antigamente, justificando que falta chinelo, trabalhar na roça e baixar a cabeça pra tudo.
Me pego, muitas vezes, me indagando como criavam 10 filhos antigamente, mas aí vou pro lado racional e relembro que eram outros tempos, outras gerações, sem comparação.
Outra coisa que abomino são as frases de efeito, como: “quando nasce uma mãe, nasce uma culpa”. Isso não me representa. Nunca representou. O que fazemos aos filhos são frutos de nossas melhores escolhas, sem culpa. Todo mundo pretende acertar e, na prática, uma mãe /pai sem defeitos é aquela que ainda não se tornou mãe / pai.
Por isso, eu pergunto: a maternidade é cara comparada a quê? E se é cara, como defendeu Santa Teresa D’Ávila, é justo que muito custe o que muito vale. Pense nisso!