A pequena cidade de Santa Tereza, com pouco menos de dois mil habitantes, concentra nas suas construções a história viva da imigração italiana na Serra Gaúcha. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou o núcleo da município e as 25 casas de alvenaria e madeira, construídas pelos imigrantes italianos no século XIX e XX, hoje são relíquias a serem preservadas.
De acordo com o Iphan, o vilarejo é o acervo mais íntegro do Rio Grande do Sul, uma vez que mantêm quase intactas as características originais. O relatório do Instituto ainda aponta que a área tombada possui uma arquitetura que remete às tradicionais comunas do Vêneto, na Itália.
Hoje a cidade é considerada um museu a céu aberto, mas no início do século XX havia um porto, por onde passava a maior parte das mercadorias que abasteciam a Serra Gaúcha. Isso fez com que imigrantes e comerciantes se instalassem por ali e fundassem depósitos, mercados e até fábricas, dando origem às construções que embelezam as ruas. Segundo relatório do Iphan, o conjunto arquitetônico ítalo-brasileiro é formado por sobrados de madeira e construções de alvenaria, com arranjos formais neoclássicos e embasamento em pedra.
Com o tombamento, que ocorreu em 2012, qualquer modificação ou construção no núcleo do município tem que passar necessariamente pela avaliação da Prefeitura e do Iphan. O objetivo é manter a sintonia entre o cenário histórico e as paisagens naturais.
A memória da cidade
O jovem Cassiano Bortolini Bochi é Chefe de Gabinete na Prefeitura de Santa Tereza, mas divide seu tempo com a pesquisa e a busca por registros históricos do município. Em cada casa, ele lembra um detalhe: a antiga fábrica de gaitas, o hospital, o presídio, a residência onde nasceu o ex-presidente do Grêmio, Fábio Koff, etc.
Ao contrário do movimento de êxodo rural dos jovens, Bochi reitera que não trocaria Santa Tereza por nenhum lugar, mesmo que futuramente tenha que trabalhar em outra cidade. “Aqui as pessoas podem caminhar na rua às 3 da manhã e não se preocupar”, justifica.
Irina Rosa Caumo foi Secretaria de Turismo quando a cidade foi tombada. Ela conta que em 2006, o então prefeito Luiz Carlos Riboldi solicitou a presença do Iphan no município para dar uma opinião sobre o tombamento. “O arquiteto do Instituto falou: por que não se faz o tombamento de toda a cidade? Aí foi aceita a proposta”, lembra.