Eu nunca quis ser outra pessoa, nunca quis estar no lugar do outro, embora, muitas vezes, na infância e na adolescência tenha sido tentador. Sempre pensei que cada um sabe a dor e a delícia de ser exatamente como é e por, justamente, não vermos o que acontece nos bastidores, não devemos nos iludir. A minha frase preferida de música dizia assim “eu ‘tô’ exatamente onde eu queria estar”.
A exemplo disso cito o triste caso Ana Hickmann. Quem nunca quis ser como ela nos anos 90 ou 2000? Linda, loira, magra, modelo, rica e bem casada. Opa! Não é bem assim. Após caso de violência doméstica, ela, imediatamente, pede o divórcio. Sempre parece que estar no lugar do outro é mais fácil. A gente opina, decide fácil, resolve os problemas de forma rápida e assertiva, afinal, em hipótese, é muito fácil “estar nas calças dos outros”.
A gente tem mania de achar que a vida do outro é sempre mais fácil, que o outro sempre ganha mais dinheiro, é mais bem casado, viaja mais, tem casa melhor.
Ainda mais com o advento do Instagram e demais redes, em que visualizamos um dia a dia que não é nosso: é gente que acorda com um café da manhã de hotel, vai malhar com seu personal, volta e medita, nada, arruma o cabelo. A casa é chique, a profissão é influencer. A gente se ilude com o carro que o outro anda, com a roupa que as outras usam, a gente se ilude ao ver uma vida que não é essa, nesse formato. Enquanto nós pensamos que o marido do outro, o filho do outro, a casa do outro, tudo isso é melhor que o nosso, vamos vivendo na mesquinhez de acreditar que a grama é sempre mais verde do outro lado da cerca. O que as pessoas esquecem é que já temos tudo o que precisamos, que temos mais que o necessário, temos, na verdade, o suficiente para viver conforme nossas necessidades.
Se você quer mesmo estar no lugar do outro, não esqueça de, também, calçar os seus sapatos e trilhar o caminho que o outro trilhou. Só assim verá o fardo que é ocupar um lugar que não é seu. Nem queira tentar.
A verdade é que à distância tudo parece mais bonito. Não se leva em conta, por exemplo, o esforço, o investimento de tempo que o outro teve para conseguir tal resultado ou ainda que o vizinho também pode achar a sua grama mais verde. Toda pessoa tem uma vida normal, com momentos de alegria e outros mais desafiadores, mas o que, usualmente, vemos na internet é a felicidade a todo custo, consumo desenfreado e posts de uma vida que não parece a minha de trabalhar, errar, levar bronca do chefe, brigar em casa, se atrasar, acordar feia e por aí vai. Todos querem tornar públicas apenas as coisas boas, mostrar a sua melhor versão para o mundo e fingir que essa é a vida normal, sem divulgar, despretensiosamente, um produto.
Aí vem a frustração dos que não sabem que é na imperfeição que reside o fantástico da vida: errar, viver em off, no anonimato, a vida real.
Podemos iniciar um exercício de reflexão: comece a olhar a sua grama e a torná-la mais bonita. A beleza da grama do outro não impede que a sua cresça lindamente. Pare de achar que tudo é competição.
Desde pequena, sempre me questionei se a Xuxa usava Monange, porque percebi que a mídia nem sempre apontava a realidade e, então, parei de achar que aquela mostrada era a vida dos sonhos. Porque não era.
A grama do outro lado da cerca só parece mais verde, mas não é. Quem olha, demasiadamente, o quintal do outro, deixa morrer o seu próprio. E isso não serve só para a grama!