Por trás dos grandes eventos realizados em Bento Gonçalves, como Movelsul, Fimma, Fiema, Envase, ExpoBento/Fenavinho, está uma estrutura sólida, gerida com dedicação, resiliência e um forte compromisso com a comunidade. A Fundaparque, fundação responsável pela administração do parque de eventos da cidade, é mais do que um espaço para feiras e shows: é um verdadeiro motor para a economia local e um espaço vivo, acessível a todos. À frente da Diretoria Executiva está Ediane Casagrande, que compartilha os bastidores e desafios da gestão.
Gestão estruturada e equipe enxuta
A fundação é composta por três conselhos — Superior, Deliberativo e Fiscal — e pela Diretoria Executiva, formada por um presidente e dois vice-presidentes. “Sou a diretora executiva e, hoje, atuo com uma colega na área administrativa e quatro pessoas na área operacional. Já fomos mais, mas devido à pandemia e às enchentes, tivemos que reduzir o quadro”, explica Ediane. Para otimizar a rotina, atividades como corte de grama e jardinagem foram terceirizadas, liberando a equipe para focar nos eventos.
Espaço amplo e multifuncional

A Fundaparque conta com seis pavilhões — A, B, C, D, E e F — todos climatizados, exceto o F, que não tem tubulação para isso. Ao todo, são 322 mil metros quadrados de parque, com 58 mil cobertos e climatizados. Além disso, o bosque com churrasqueiras é bastante procurado por famílias nos finais de semana, e o kartódromo, hoje subutilizado, é cedido à ABK por cláusula de comodato com a prefeitura. “Eles mantêm o local limpo, mesmo com o uso reduzido”, comenta. A fundação também administra três blocos com salas comerciais alugadas, que geram renda extra.
Nela, atuam empresas de limpeza, fotógrafos, profissionais de marketing e entidades, gerando uma renda adicional.
Modelo público-privado e sustentabilidade
O parque pertence à prefeitura, mas é administrado por meio de concessão pública. “Caso a Fundaparque deixe de administrar, tudo retorna à prefeitura. Somos uma fundação formada por 13 entidades, como CIC, Sindmóveis e Movergs”, ressalta Ediane.
Sustentável, o local utiliza energia do Mercado Livre e instalou uma usina solar para suprir os blocos administrativos. “Climatizar os pavilhões com energia solar exigiria mais de um milhão de reais. Por isso, começamos com o que era possível”, completa.
Bastidores intensos e serviços além da locação
Segundo Ediane, a movimentação para grandes eventos começa bem antes do que o público imagina. “Um evento como a Movelsul inicia a montagem 20 dias antes. Mas nós começamos bem antes disso, verificando telhados, tubulações, banheiros. É um trabalho constante”, diz. Ela explica que a função principal da fundação é alugar os espaços, mas alguns serviços são oferecidos à parte. “Temos cortinas, cadeiras, montamos palco quando solicitado. Tudo isso é cobrado posteriormente”, comenta.
Um exemplo citado é o show de Roberto Carlos, em que a Fundaparque ficou responsável por montar o auditório com cadeiras e cortinas específicas, além da preparação do palco.
Desafios marcantes e superações

Entre os maiores desafios enfrentados pela Fundaparque, Ediane é categórica: “A pandemia foi o pior momento.” Ela assumiu a Diretoria Executiva em abril de 2021, quando o parque estava praticamente paralisado. “Entrei em plena pandemia. Estava tudo parado. Não havia eventos, não entrava receita, e as despesas seguiam altas”, relembra.
A falta de movimentação no setor de eventos — principal fonte de renda da fundação — exigiu medidas difíceis. “Tivemos que renegociar prazos de pagamentos, adiar compromissos, pedir prorrogação de títulos. Foi um esforço de sobrevivência. Não havia alternativa”, relata. O parque, acostumado ao vai e vem de feiras, congressos e shows, se viu silencioso e vazio.
A situação atingiu um de seus pontos mais críticos com o cancelamento da Movelsul, uma das maiores feiras da América Latina no setor moveleiro. “A feira já estava montada. Cancelaram numa sexta-feira. Ela começaria na segunda”, lembra. A decisão, tomada por conta do avanço da pandemia, afetou expositores, visitantes e, claro, a equipe da Fundaparque, que já havia se empenhado na estruturação completa do espaço.
A retomada gradual dos eventos foi marcada por cautela e criatividade. O parque teve que se reinventar. “Começamos a realizar formaturas com distanciamento, marcando o chão para garantir a segurança das famílias. O balonismo voltou com círculos desenhados no gramado para manter o espaçamento entre as pessoas”, conta.
Um dos momentos mais emblemáticos foi a adesão ao modelo drive-thru para vacinação contra a Covid-19. “As primeiras doses foram aplicadas aqui mesmo, no pavilhão E. As pessoas não precisavam nem sair do carro. Eu mesma tomei a vacina nesse sistema, dentro do parque. Era tudo muito organizado e seguro”, relembra, emocionada.
Mas o alívio da retomada foi, em parte, interrompido por outra tragédia: as enchentes de 2024. Assim como na pandemia, o parque se transformou novamente em ponto de apoio à comunidade. “Eventos foram cancelados ou adiados. A ExpoBento, por exemplo, teve que ser transferida. O Wine, que não aconteceu no ano passado, foi retomado apenas este ano. E os pavilhões foram cedidos para ações de solidariedade. Recebemos doações, apoiamos campanhas. Fizemos o que estava ao nosso alcance para ajudar as pessoas que estavam sofrendo”, explica.
Esses períodos turbulentos revelaram a força da fundação, não apenas como gestora de eventos, mas como braço de apoio da comunidade. “Foram anos difíceis. Mas a gente nunca parou. Mesmo sem eventos, havia muito trabalho. Cuidar da estrutura, garantir que o parque estivesse pronto para voltar — tudo isso foi feito com muita dedicação”, completa Ediane.
Conexão com a comunidade e ações sociais
Mais do que um centro de eventos, a Fundaparque é também um espaço de convivência e integração comunitária. Mesmo sem parcerias formais com instituições, a fundação se destaca por manter as portas abertas para escolas, forças de segurança, entidades assistenciais e grupos religiosos. “A ideia é essa: o parque é da comunidade. Está à disposição para quem precisa”, afirma Ediane Casagrande.
Diversas instituições utilizam o espaço regularmente. A polícia rodoviária, por exemplo, realiza treinamentos técnicos, tanto internos quanto externos. A Brigada Militar também marca presença com ações formativas. “Na semana passada foi a Polícia Rodoviária, e nesta semana já foi a Brigada. Sempre estão por aqui”, relata.
Projetos sociais como o PROERD e os Bombeiros Mirins escolhem a Fundaparque como palco para suas formaturas. “É uma honra receber esses eventos. As famílias vêm, os jovens se apresentam, e tudo acontece com muito respeito ao espaço e à proposta educativa deles”, comenta Ediane.
A relação com as escolas também é próxima e frequente. “A escola Impulso, que fica aqui ao lado, sempre me manda mensagem: ‘Podemos usar o gramado hoje?’ Quando estamos cortando a grama, aviso para que não venham naquele dia. Eles fazem piqueniques, atividades ao ar livre, é lindo de ver”, diz. Outro exemplo é a escolinha da Fenavinho, que usa regularmente o pavilhão E, por ser mais reservado, para brincadeiras e caminhadas com os alunos.
Além das escolas, grupos religiosos também encontram acolhimento na Fundaparque. “Outro dia, uma igreja pediu para trazer as crianças no sábado à tarde para fazer um piquenique no bosque. Vieram, aproveitaram, e foi super tranquilo. Quando dá, a gente sempre diz sim”, garante Ediane.
Esse compromisso com o lado social vai além do acolhimento: a fundação também realiza isenções de aluguel para eventos beneficentes. Em 2023, por exemplo, o jantar de comemoração dos 70 anos do Corpo de Bombeiros e o jantar da Liga de Combate ao Câncer foram realizados gratuitamente no parque. “Esses eventos são especiais. A gente entende que são importantes para a cidade e para causas maiores. Então, quando podemos, cedemos o espaço sem custo”, explica.
Mais do que um gesto institucional, a diretora vê essas ações como parte da essência da Fundaparque. “O parque é um patrimônio da comunidade. Ele precisa estar a serviço de todos — não apenas dos grandes eventos, mas das pequenas e importantes ações do dia a dia que fortalecem o tecido social da cidade”, pontua.
Modernização e planos para o futuro
A fundação segue investindo em melhorias. “Fizemos manutenção nos sistemas de ar-condicionado, pintura externa e interna, e temos projetos em andamento. Tudo depende de recursos, por isso buscamos constantemente novos eventos”, afirma.
O marketing tem papel fundamental na captação. “Queremos mostrar que a Fundaparque é para todos. Estamos atraindo congressos, como o de veterinária, e outros formatos além das feiras tradicionais”, diz.
Agenda cheia e exclusividade em shows
Atualmente, a Fundaparque mantém contrato de exclusividade com a produtora GDO para shows nacionais. “Eles realizam eventos como os da Ana Castela, Roberto Carlos e Luan Santana. Por causa das enchentes, prorrogamos o contrato até o fim de 2024”, informa.
Eventos menores, como a festa All Black, também ocorrem no parque sem conflito com essa exclusividade. A equipe organiza a agenda no início de cada ano para facilitar o planejamento. “Já perguntamos a data da próxima ExpoBento antes mesmo de terminar a atual. Precisamos ter essa visão para distribuir os espaços”, comenta.
Impacto econômico e mensagem à população
Ediane destaca a importância da Fundaparque para a economia local: “Um evento aqui movimenta hotéis, restaurantes, supermercados, farmácias. É uma cadeia. Às vezes, alguém desempregado é contratado por um hotel por conta de um evento aqui”, conta.
A diretora finaliza com um recado: “Queremos que as pessoas entendam que a Fundaparque é da comunidade. Ela não pertence só aos empresários, mas a todos. E está de portas abertas para receber a população de Bento e das cidades vizinhas”, conclui.