O Gal. Hamilton Mourão parece ser um homem de grande envergadura moral,intelectual e saber inquestionáveis. Pode não ter a suficiente habilidade política para expressar, de forma corporativa, opiniões a respeito do exercício do cargo que contribuam, sem contraditórios , para a governabilidade pacífica da nação. No entanto é preciso prestar muita atenção quando ele se expressa para enquadrar suas manifestação no campo da moral e dos bons costumes. Vejam uma de suas preciosas e significativas afirmações: ”a partir do momento em que a família é dissociada, surgem os problemas sociais que estamos vivendo e atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai nem avô, é mãe e avó. E por isso torna-se realmente uma fábrica de elementos desajustados e que tendem a ingressar em narcoquadrilhas que afetam nosso país“. Realmente, a família brasileira está desestruturada, não falo em decorrência do casa-separa, mas na incapacidade de estabelecer preceitos de responsabilidade, moral e respeito nas relações e consequente formação dos filhos dentro desses preceitos.
Precisamos resgatar a formação, a conduta exemplar e a responsabilidade em forjar o futuro de nossa juventude, de nossas crianças, sem o que não teremos uma nação próspera, sólida mas, sim, um país mergulhado em problemas continuados e crescentes, sem perspectivas de solução. Vejam, estamos precisando cada vez mais recursos para segurança, mais dinheiro para solucionar desajustes, para a inclusão social, combatemos os efeitos não as causas da criminalidade. Por que temos necessidade cada vez mais de ações e leis repressivas? Simplesmente porque a estrutura social está ruindo, estamos incapazes de gerar saúde (morre mais cedo quem não tem dinheiro), empregos, segurança, ensino competente (professores são mal pagos e carentes de qualidade), não temos perspectiva de futuro, a nação se sustenta na fragilidade do desenvolvimento industrial e na produção agrícola sem um planejamento consistente e confiável. Os “estragos“ sociais -droga, prostituição, criminalidade- não contam com suficientes e habilitadas instituições para recuperar os desajustados que causam danos sociais.
Vejam, por exemplos, as estatísticas em relação aos apenados. Mais de 70% voltam para a cadeia depois de soltos e os que estão presos não passam por um processo de recuperação, nem trabalham, vivem enjaulados como animais. O que é que levaria dez presos em processo de regime semi aberto, próximos à liberdade e com um novo presídio vindo aí em poucos dias, a fugir do presídio municipal, senão o apego pelo crime, a ausência de processos de recuperação, do estabelecimento de trabalho carcerário, do tratamento e instalações humanitárias ? Esta semana o governo federal levou a efeito uma operação de guerra para transferir presos de alta periculosidade social, condenados a mais de cem anos de cadeia, que tinham um plano de fuga usando instrumentos humanos e materiais que, se concretizado, abalariam o mundo.
A operação custou milhões aos cofres públicos. O cenário negativo que se estabelece nesse país em todos os níveis sociais sempre me leva a valorizar e conceituar a formação que tive na minha vida familiar até os doze anos, especialmente, depois foi por minha conta, bem como minha formação escolar e profissional. Eu queria que todas as famílias tivessem o avô, os professores, os patrões que eu tive, tenho certeza que a sociedade brasileira seria melhor. Meu avô exercia o poder patriarcal como poucos, tinha princípios, organização, disciplina e uns preceitos marcantes. Vinha dele expressões como “ diabos “ quando alguma coisa não dava certo. O “ tira da natureza só o que tu precisa dela”. O “morreu Neves “ quando alguma tarefa estava concluída. O “nichts basteln ( nada feito) é assim que se escreve em alemão? O “vanti co’l mul” ( seja rápido ) expressão que tentei usar aqui na empresa mas me dei mal porque ao invés de entenderem seja rápido faziam a leitura “tá me chamando de mula”. Um dia meu avô veio com uma fantástica dizendo, diante de minha má vontade em limpar a estrebaria: “quando tu chegar à conclusão de que tu dormiria onde as vacas dormem a estrebaria estará limpa” e me explicou que as vacas deitam e se o ambiente não estiver limpo o leite que eu tomaria estaria infectado. Os três baldes de água da limpeza viraram dez.
Outra de meu avô: “beleza não põe a mesa“ , diante disso quando me informaram que Bento é a cidade mais bonita do Brasil eu me lembrei do meu avô, beleza põe a mesa? O General Mourão tem muito do meu avô e tem muito de mim também. Fiz um curso aqui em Bento da Escola Superior de Guerra, deu para compreender formação e filosofia militar, tive a sorte e a honra de ter professores como o dr. Paulo Zanatta, Ulisses de Gasperi, Noely de Rossi, Emyr Farina, o extra classe foi de um aprendizado marcante, até com o Pe.Mânica, de quem até fui coroinha, assimilei uma série de ensinamentos valiosos. Tive, por dois anos e meio, na Isabela, Moysés Michelon como patrão, como eu gostava dele, como eu gostava dele, como eu gostava da empresa! Todos deveriam ter tido Moysés como Chefe, o mundo seria melhor.
A simbologia do que eu estou falando está na Isabela e no Villa Michelon que ele edificou. Sempre, em qualquer lugar e de qualquer maneira eu tomava “porres” de sabedoria, nos filmes de índio eu torcia para os índios, gostava do jeito e como viviam. Bem eu queria dizer que no meu tempo de guri o poder patriarcal era absoluto, hoje surge com força o poder matriarcal, as mulheres estão mandando como nunca, estão poderosas, não o poder da Anita, o poder da sabedoria. Na verdade esta sabedoria, este poder superior, sempre existiu no seio das famílias italianas, a capacidade de suportar a adversidade, de manter a família unida nos tempos da imigração, era da mulher. Nesta segunda acordei e recebi a notícia do falecimento de Da. Iole Cesa Longo, de quem eu passei a gostar pelos relatos de seu filho Antônio Longo, hoje dono do super Apolo e presidente da Associação Gaúcha de Supermercados – AGAS. Fui conhecê-la, nas despedidas, após longa jornada no leito assistida pelos filhos, sob liderança de Antônio. Italiana do sul da Itália, Da. Iole era devota de Santo Antônio e da Nossa Senhora de Fátima, cultivava o costume do terço em família, dos bons costumes, do respeito, sua obra de vida foi exemplar, seu filho Antônio se tornou um dos grandes líderes empresariais do estado, respeitado e admirado assim como Da. Iole, que recebeu, quando ainda lúcida, um CD do tenor Pastore, ficava o dia inteiro ouvindo Pastore e suas interpretações da velha Itália.
Na despedida, lá estava o Pastore que cantou a AVE MARIA e CON TE PARTIRÒ. Um momento triste, porém lindo, poético, bem como ela gostaria. Na viagem a Porto, para o seu velório, a notícia do acidente com BOECHAT, o jornalista padrão, exemplar, o construtor de ideias, o Mourão do jornalismo, o meu avô e um Moyses nos princípios. Ele estava ajudando a reconstruir o Brasil que iria precisar muito dele, de sua coragem cívica. ”A corrupção gerenciou as tragédias de Mariana e Brumadinho, entre outras”, foi sua afirmação no seu último programa matinal da rádio BAND. Perder pessoas assim nos causa um vazio muito grande. Elas tinham o poder da transformação. Quero dizer a vocês que pela primeira vez digitei esta coluna num IPAD, traí a minha máquina de escrever GABRIELE 10 . Me despeço triste.