A gente vive na correria do dia a dia, no tocar do despertador sempre atrasado. É a era dos excessos. Muito lábio, muito cílio. Excesso de trabalho. É chique não ter tempo pra nada. Nem pra família. A gente vive abarrotado de tarefa pra fazer e marca agenda sem nenhuma folga entre os compromissos. A gente deixa de beber água, de fazer xixi, de parar e olhar pra fora, porque tem coisa demais pra fazer.
É muita unha fake, muito mega no cabelo, muita comida fast food. É raro sentar, tomar chimarrão, jogar carta. É muito curso, muito coaching de autoajuda que mais ‘autoatrapalha’ do que qualquer outra coisa. É muita romantização do excesso de trabalho. “Acorde enquanto os outros dormem!” Má vai aonde…
É muito Botox, fios de PDO, colágeno, pesar comida, contar caloria, ver os compostos antes de comprar. Jejuns intermitentes intermináveis que a gente morre de fome. É muita propaganda. É muita gente que sabe tudo sem saber de nada. É todo mundo que debate política (o que é bom), mas sem nunca ter lido nada sobre. É muito livre arbítrio e muita censura misturada. É muita gente que não quer filho, é muito pet tratado como um. É muito agrotóxico, é muita poluição, é muito plástico, é muito lixo, muito casal que se separa, muito anticoncepcional, muita gordura, muito celular, muita internet, muita informação desnecessária. Muito traduz-se demais. Excesso. Fora de controle.
Ninguém aqui quer retroceder aos avanços da tecnologia, só que se perdeu o controle do óbvio, do natural, do permitido. É muita fofoca. É muita maldade. Muita opinião. Muita teoria, pouca prática. Muito emprego sentado na cadeira, pouca mão-de-obra. É muito mais do mesmo. Muito blogueiro, muito youtuber, muito tiktoker. Pouco professor. Pouco padre. Pouco voluntário.
A gente até esquece como era há 10 anos, imagina então no tempo dos pais e avós. Era muito olho no olho, muita fruta no pé, muito futebol na rua, muito brinquedo pra construir, muitas mães em casa pra cuidar do lar. Era muito jantar e almoçar junto. Muito ajudar em casa. Muito dormir cedo. Muito brincar com o que se tem. Pouco presente, mas muita presença. Pouca comida gourmet. Muita comida de verdade cheirando no fogão à lenha.
Excesso de doença. De exame. De preocupação. De medo. De consumismo. De rivalidade. De farsa. De corpo moldado. De mente vazia ou cheia demais. De droga. Falta simplicidade, tudo virou excesso.
E, assim, a vida se esvai por entre os dedos. Cuidado com uma vida de excessos. Ninguém sobrevive ao vazio de uma vida cheia demais.