Então, num belo dia, eu passava o mouse pelos fakes que se multiplicam na Internet, quando, inadvertidamente, meu dedo indicador descansou sobre um x, abrindo uma página de vendas. Que nem peixe, caí na rede. Meus dados pessoais foram acessados e aí começou o assédio virtual.
Faz três meses que o fato aconteceu e de lá pra cá, venho sendo bombardeada diariamente com argumentos para que eu adquira o produto oferecido. Algo que me deixaria magrinha, saudável e feliz.
Na verdade, não se trata de algo pronto. Não são cápsulas que “derretem gordura” ou fitoterápicos “milagrosos” como chá “seca-barriga”, nem “o mais novo queridinho dos médicos”, a liraglutida. Trata-se de um caderno de receitas para diabéticos se esbaldarem nos doces.
Não nego que minha reação imediata foi a de comprar, mas, aos poucos, a razão prevaleceu. Além de desconfiar do tal Dr. Milagreiro, outro elemento pesou: nunca me dei bem na cozinha. Por isso, respondi a um dos apelos com um “Não” bem redondinho. Mas o “Copperfield das receitas”, que disse ter ajudado milhares de pessoas no Brasil e no mundo a recuperarem a saúde, com “um método cientificamente comprovado”, estava determinado junto à sua equipe de ataque. Em todo santo dia, uma nova mensagem, com novos argumentos, diagnósticos, sugestões, previsões e recados. Como os ignorei, o cerco ficou mais agressivo, com afirmações sinistras, linkando o leite de vaca ao Câncer de Próstata e de Mama, à Doença de Parkinson, Esclerose Múltipla e Enxaqueca, além de afirmar que “é uma bebida fatal aos diabéticos”. Pqp! Justo no meu calcanhar de Aquiles…
Meu silêncio não o fez desistir. Então ele aproveitou o dia do psicólogo pra falar das “doenças neurais”, provocadas pelo medo das consequências da diabetes, e já foi citando um monte de distúrbios, como a “depressão, insônia, perda de memória, compulsão alimentar, ansiedade e transtornos de humor”, que se juntariam às enfermidades anteriores. Era necessário “turbinar a mente”, ou aceitar uma vida desgraçada, sugeriu o “médico, pesquisador e escritor” formado em “Harvard, Oxford e Berkeley”.
Uau! Até prendi a respiração neste mais recente nocaute, que não será o último – tenho a certeza de que outros estão a caminho do meu e-mail e Messenger. Olha só o que a falta de um caderno de receitas de doces para diabéticos pode provocar!